Vídeo em que Maduro é atacado com pedras circula fora de contexto em 2023; caso ocorreu em 2017

  • Publicado em 7 de dezembro de 2023 às 19:26
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Uma gravação que mostra um protesto em que manifestantes atiram pedras contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, não ocorreu em 2023, como sugerem publicações compartilhadas centenas de vezes nas redes sociais. O conteúdo, que circula desde setembro, voltou a ser difundido em dezembro após a escalada de tensões por conta da disputa territorial por Essequibo, região da Guiana na fronteira com a Venezuela. Mas a gravação não tem relação com fatos recentes e foi registrada durante um desfile militar em 2017.

“O ditador Maduro, chefe da 'democracia relativa' na Venezuela foi atacado com pedras que voaram em sua direção. É o amor relativo”, diz uma das publicações que circulam no X (antes Twitter), no Instagram, no TikTok e no Facebook.

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Captura de tela feita em 5 de dezembro de 2023 de uma publicação no X ( .)

As publicações são acompanhadas por uma gravação que mostra o presidente venezuelano sendo alvo de um protesto durante um ato público. Nas imagens, os manifestantes gritam “maldito” e atiram objetos semelhantes a pedras contra o mandatário.

As mensagens sobrepostas na sequência indicam que o conteúdo teria sido registrado atualmente: “urgente, ditador venezuelano acaba de ser agredido pela população, aí ele está mostrando o quanto é popular”.

Algumas publicações compartilham ainda um trecho de uma reportagem em espanhol sobre o caso, onde se noticia que a transmissão televisiva do ato teria sido “interrompida”, e uma suposta imagem de Maduro com um machucado na cabeça aparentemente causado pelo ataque dos manifestantes.

O conteúdo circulou em setembro de 2023 e voltou a ser compartilhado por usuários nas redes sociais em dezembro, após o acirramento da disputa territorial por Essequibo, região da Guiana na fronteira com a Venezuela, reivindicada pelos venezuelanos desde 1841.

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( AFP)

Em 3 de dezembro de 2023, mais de 95% dos venezuelanos aprovaram a criação de um novo estado na região de Essequibo em um referendo realizado por Nicolás Maduro, agravando ainda mais a tensão entre os países.

Mas a sequência não possui relação com os fatos recentes.

Uma busca por palavras-chave no Google, com os termos “Maduro”, “apedrejado” e “protesto”, levou a uma matéria da AFP publicada em 12 de abril de 2017.

Segundo a reportagem, nesse dia o carro que transportava o mandatário durante um desfile militar em San Félix, no estado de Bolívar, havia sido atingido com ovos e pedras, e a transmissão do evento, em rede nacional, foi interrompida. Outros meios de comunicação (1, 2) também noticiaram o episódio, ocorrido quando o presidente participava das comemorações dos 200 anos da batalha de San Félix.

Essa tinha sido a primeira aparição pública de Maduro após uma onda de confrontos em Caracas em manifestações contra o seu governo.

Algumas das reportagens mencionam o grito de “maldito”, dirigido a Maduro e que também se ouve na gravação viral, além de mostrarem capturas de tela ou registros com elementos similares aos vistos no vídeo viralizado, como é possível analisar a seguir:

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Comparação de imagens feita em 6 de dezembro de 2023 de uma publicação no X e um vídeo de 2017 no YouTube ( .)

Uma nova busca por palavras-chave nas redes sociais, com os termos em espanhol “Nicolás Maduro” e “piedras”, filtrando pela data em questão, levou a mais registros da sequência no período em que efetivamente ocorreu (1, 2). Gravações do episódio também foram compartilhadas no Brasil, como em uma postagem da deputada Bia Kicis (PL).

Uma busca reversa no Google com a suposta foto de Maduro com o rosto machucado e a cabeça vendada levou a uma publicação no YouTube com a mesma imagem em 12 de abril de 2017, reforçando que o material circula desde então. A imagem não aparece em nenhuma das reportagens sobre os ataques a Maduro em 2017, indicando que possa ser uma montagem.

Conteúdo semelhante foi verificado por UOL Confere, Estadão Verifica e Aos Fatos.

Referências

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