Taxa de energia solar foi sancionada no governo Bolsonaro e será gradual até 2028

  • Publicado em 14 de novembro de 2023 às 21:11
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em 2023, entrou em vigor uma lei que cobra uma taxa para que usuários que geram a sua própria energia solar possam utilizar o sistema das distribuidoras para repassar o excesso para a rede elétrica. Diante disso, publicações visualizadas mais de 800 mil vezes nas redes sociais apontam que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “quer cobrar a energia solar”. Contudo, essa lei foi sancionada em janeiro de 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Ao contrário do que alegam as postagens, a taxa tampouco é de 68%, mas possui um percentual gradual até 2028.

“Nem o sol pode ser usado sem cobrar. Faz o L. A Anel e Lula querem cobrar a energia solar. Calma! É só 68%”, diz texto sobreposto a um vídeo compartilhado no Instagram, no Facebook, no TikTok, no Kwai e no X. A alegação também circula em outros formatos.

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Captura de tela feita em 10 de novembro de 2023 de uma publicação no TikTok ( .)

No vídeo, um homem afirma que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) iria propor uma taxa para usuários de painéis fotovoltaicos, aparelhos que convertem a luz do sol em energia elétrica. Ao comentar sobre, ele utiliza a expressão “taxar o sol” e diz que a taxação seria de 68%.

Ao fundo, é projetada uma matéria com a manchete “Aneel propõe taxa para energia solar gerada em casa e frustra setor”.

Contudo, diferentemente do que afirmam as peças de desinformação, a medida foi formulada e sancionada no governo de Jair Bolsonaro, e não possui o valor de 68%.

Vídeo e proposta de 2019

Uma busca reversa pelo vídeo viral levou a uma versão publicada em 18 de outubro de 2019 por um canal no YouTube. O título dessa publicação aponta que o homem da sequência é Tatá Marques, apresentador do programa O Povo na TV, do SBT Mato Grosso do Sul.

Ao buscar na mesma plataforma por esse nome, foi possível encontrar a versão mais longa e original da sequência viral, publicada em 17 de outubro de 2019 no canal do próprio apresentador.

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Comparação de capturas de tela feita em 10 de novembro de 2023 entre uma publicação do TikTok (E) e o vídeo do canal de Tatá Marques no YouTube ( .)

Outra busca, dessa vez pela manchete da matéria projetada atrás do apresentador, mostrou que o texto foi publicado pelo jornal Folha de S.Paulo dois dias antes, em 15 de outubro de 2019.

Na matéria é noticiado que o setor de energia solar não havia ficado satisfeito com uma proposta da Aneel para taxar usuários de painéis solares pelo uso da rede de distribuição de energia.

Essa rede é utilizada pelos proprietários de placas solares para distribuir o excedente de energia que produzem durante o dia, permitindo, assim, que eles usem energia elétrica após o pôr-do-sol.

Na prática, isso significa que cada kWh gerado por placa solar que é injetado na rede de distribuição de energia pelos proprietários retorna como crédito na conta de luz para abater o valor pago pelo uso do sistema comum de energia elétrica, por exemplo, à noite.

O texto traz uma entrevista com Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), estimando que, com a aprovação da proposta, o crédito pelo excedente enviado à distribuidora se limitaria a 68%, frente aos 100% que eram entregues de volta aos usuários na conta de luz até então.

Essa fala de Sauaia é usada erroneamente no conteúdo viral para afirmar que a taxa cobrada seria de 68%.

Em 2019, a Aneel iniciou as discussões com uma consulta pública sobre a revisão da portaria que instituiu a geração distribuída. A proposta foi votada em 2021 e sancionada em janeiro de 2022 pelo então presidente Bolsonaro.

De acordo com o artigo 27 da Lei 14.300, os usuários serão cobrados de forma gradativa pelo o uso da rede até 2028. A lei entrou em vigor este ano com taxa sobre os créditos excedentes gerados de 15%, percentual que chegará aos 90% em 2028.

Os usuários que já faziam parte do Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE) até 6 de janeiro de 2023 ficam isentos da cobrança até 31 de dezembro de 2045. Ou seja, permanecem recebendo de forma integral o crédito a cada kWh de excedente gerado.

Outra alegação similar que também atribuía a autoria da lei ao atual governo foi verificada pelo AFP Checamos no início do ano.

Essa alegação também foi verificada pelo Aos Fatos.

Referências

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