Vídeo de protesto em Alagoas mostra greve contra governo local, não por “corte de verba” federal

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  • Publicado em 9 de outubro de 2023 às 22:16
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  • Por AFP Brasil
Um vídeo em que pessoas se manifestam portando bandeiras verdes, com a inscrição “Sinteal”, não mostra uma greve contra “corte de verba do governo Lula”, como apontam publicações visualizadas mais de 50 mil vezes nas redes sociais desde setembro de 2023. As imagens foram gravadas em uma manifestação do Sindicato de Trabalhadores da Educação de Alagoas em 31 de agosto, quando a categoria reivindicou o reajuste do piso salarial à administração do estado.

Greves tomam o Nordeste por corte de verba do Governo Lula. Faz o L…”, dizem as legendas sobrepostas ao vídeo de uma multidão caminhando em publicações no Instagram, no TikTok, no Facebook, no Kwai e no X (antes Twitter).

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Captura de tela feita em 4 de outubro de 2023 de publicação no Instagram ( .)

Nas imagens, é possível ver centenas de pessoas andando pelas ruas com faixas, cartazes e bandeiras, onde se identifica a inscrição “Sinteal”. Ao fundo, também pode-se ouvir palavras de ordem como “Educação na rua, Paulo Dantas a culpa é sua”. Enquanto filma a manifestação, o autor do vídeo viral se dirige aos manifestantes com frases como “faz o L” e “o amor venceu”, ironizando expressões ligadas à campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Uma busca pelo perfil no Instagram do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) revelou que em agosto e setembro de 2023, profissionais da Educação realizaram greves para reivindicar melhorias para a categoria. A principal delas era a implantação de 14,95% de reajuste do piso salarial para todos os profissionais e níveis de cargos.

A mesma busca levou a um vídeo publicado em 31 de agosto de 2023, de uma manifestação no bairro Benedito Bentes, em Maceió.

Na sequência é possível identificar os mesmos elementos observados nas publicações viralizadas, como alguns dos participantes e as faixas utilizadas.

Além disso, as palavras de ordem ouvidas no vídeo viral também são as mesmas.

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Comparação feita em 4 de outubro de 2023 entre capturas de telas de uma publicação viral no Instagram (E) e uma postagem do Sinteal ( .)
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Comparação feita em 4 de outubro de 2023 entre capturas de telas de uma publicação viral no Instagram (E) e uma postagem do Sinteal

O Sinteal confirmou ao AFP Checamos em 4 de outubro de 2023 que a manifestação que aparece nos vídeos virais não tinha nenhuma reivindicação federal e que os atos foram direcionados ao governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB).

O protesto faz parte de uma agenda de lutas aprovada em assembleia da rede estadual da Educação, diante da proposta de reajuste insuficiente do governador Paulo Dantas apresentada para a categoria. Não há nenhuma menção ao governo federal dentro das reivindicações”, informou.

Além do reajuste do piso salarial, os profissionais protestaram por melhorias como a reformulação do plano de cargos, implantação de vale-transporte, vale-refeição e progressão de carreira. Após as negociações com o governo estadual, em 6 de setembro de 2023, os trabalhadores suspenderam a greve.

Queda do FPM mobilizou prefeituras

As publicações com o vídeo viral começaram a circular nos primeiros dias de setembro, logo após prefeitos de centenas de cidades se mobilizarem diante da queda em parcelas do repasse, em julho e agosto, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), um recurso entregue pela União às prefeituras.

A mobilização também foi motivada pelas mudanças na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Em Alagoas, 90% dos municípios participaram, mas, segundo veículos locais, Maceió não aderiu (1, 2) à mobilização.

Ao Comprova, projeto de verificação do qual o AFP Checamos faz parte, o presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, explicou que as prefeituras enfrentam dificuldades estruturais da repartição tributária do Pacto Federativo, não se tratando, necessariamente, de ação direta do governo Lula.

A situação tem sido agravada quando se soma isso ao excesso de obrigações que são repassadas aos entes locais por meio de medidas aprovadas em Brasília sem a devida contrapartida de recursos necessários para que os municípios possam garantir a eficiência no atendimento à população”, afirmou no último dia 13 de setembro.

Em agosto de 2023, a CNM divulgou um estudo que atribui a queda da arrecadação do Imposto de Renda e do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, assim como lotes maiores de restituição dos impostos, como fatores que explicam a diminuição do repasse do FPM.

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