Queda histórica da desigualdade não se relaciona com “mudanças aplicadas” no governo Lula

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  • Publicado em 18 de maio de 2023 às 19:11
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  • Por AFP Brasil
A maior redução da desigualdade social, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em maio de 2023, não tem relação com “mudanças aplicadas” no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), diferentemente do que afirmam publicações com mais de 57 mil interações nas redes sociais desde 11 de maio de 2023. O resultado, na verdade, foi revelado por uma pesquisa de rendimentos realizada em 2022, último ano do governo do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL).

“Pela 1ª vez em 10 anos, a desigualdade no Brasil CAIU para o MENOR NÍVEL, com as mudanças aplicadas pelo Governo Lula”, diz o texto de publicações compartilhadas no Twitter, no Instagram, no Facebook, no Kwai e no TikTok.

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Captura de tela feita em 17 de maio de 2023 de uma publicação no Twitter ( .)

A desigualdade de renda no Brasil realmente teve a maior queda registrada em uma década, mas a causa para a redução não foram as políticas implementadas no terceiro mandato de Lula, iniciado em janeiro de 2023.

Uma busca no Google pelos termos “desigualdade”, “Brasil”, “caiu” e “menor nível” levou a notícias publicadas em 11 de maio de 2023 informando que, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, conduzida pelo IBGE, a desigualdade no Brasil caiu em 2022, atingindo o menor nível da série histórica iniciada em 2012.

O texto de um dos artigos, publicado pelo Correio Braziliense, diz que, segundo um especialista do IBGE, “o resultado se dá graças ao aumento do valor do Auxílio Brasil em ano eleitoral e melhora no mercado de trabalho”.

Na nota divulgada pelo IBGE em seu site, em 11 de maio, também é possível constatar que os dados foram todos coletados no ano de 2022, e não de 2023, como sugerem as publicações virais. Isso fica claro inclusive no título: “Em 2022, mercado de trabalho e Auxílio Brasil permitem recuperação dos rendimentos”.

No texto, afirma-se que, em 2022, “a desigualdade de rendimentos diminuiu no conjunto da população”, com a redução do índice Gini, um medidor de concentração de renda cujo número mais próximo de zero se refere a um maior grau de igualdade.

Aponta-se, ainda, que “após crescer em 2021 (0,544), o índice de Gini do rendimento médio mensal domiciliar per capita caiu em 2022, atingindo a marca de 0,518”. O texto acrescenta que “o Gini do rendimento médio mensal de todos os trabalhos caiu de 0,499 para 0,486, atingindo seus menores valores, na média do país e em quase todas as regiões”.

Citando a analista Alessandra Brito, explica-se que “a entrada de quase 8 milhões de pessoas na população ocupada puxou a média de rendimento para baixo, mas aparentemente essas pessoas ingressaram no mercado de trabalho recebendo vencimentos com valores similares, o que resultou numa distribuição menos desigual. Além disso, o rendimento médio dos trabalhadores sem carteira e por conta própria aumentou no período, também contribuindo para essa queda no índice de desigualdade”.

No informativo da Pnad não há qualquer menção ao ano de 2023 nem a qualquer política pública implementada no terceiro mandato de Lula. Na página 6 do documento, na qual é mencionado o índice de desigualdade Gini, ressalta-se que “em 2022, o aumento substantivo da ocupação parece ter incorporado trabalhadores com rendimentos menos desiguais, fazendo o índice de Gini cair ao menor valor da série (0,486)”.

No informativo tampouco há qualquer referência a políticas do governo Lula.

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