Capa da Playboy em que a política francesa Schiappa aparece com decote e tatuagem é uma montagem
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- Publicado em 4 de abril de 2023 às 20:52
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- Por Sonia GONZALEZ, AFP Espanha, AFP França, AFP Brasil
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“Essa é a ministra francesa Marlene Schiappa, de 40 anos, que não roubou , mas foi muito criticada, por aparecer na capa da Revista Playboy. Seu objetivo foi em entrevista, chamar a atenção para os direitos das mulheres.Em todo mundo o confronto político se estabelece, nem sempre com a correta leitura do que é prioridade para q população”, dizem publicações no Facebook, no Instagram e no Twitter. A imagem também foi difundida pela imprensa (1, 2).
O conteúdo circula em outros idiomas. “Tanto o governo quanto a oposição estão indignados”, diz um tuíte em espanhol, que foi divulgado em vários meios de comunicação da mesma língua. Artigos em italiano (1, 2) e publicações em francês, hindi e inglês divulgam a imagem.
Todos esses exemplos compartilham a suposta capa, na qual se lê “49.3” em um dos seios da política. Esse é o número do artigo constitucional por meio do qual o presidente francês, Emmanuel Macron, aprovou por decreto a reforma da Previdência, que gerou mobilizações por semanas em todo o país.
A notícia de que Schiappa havia dado uma entrevista e posado para a Playboy foi publicada pelo jornal Le Parisien em 31 de março, e posteriormente confirmada pela equipe da política à AFP.
A imprensa parisiense divulgou um fragmento da capa da edição de 6 de abril, em que Schiappa aparece olhando para o lado direito, assim como nas publicações virais, e parece vestir uma alça branca no ombro. O resto do corpo não é mostrado e o crédito é da Playboy.
Segundo o jornal, a Playboy distribuiu apenas um recorte de sua capa “para dosar seu efeito”. O Le Parisien garantiu, citando o gabinete de Schiappa, que a política posou “vestida” com “um longo vestido branco em todas as fotos” e que nas páginas internas ela aparece envolta na bandeira francesa.
Questionado pela AFP sobre a capa que circula nas redes sociais, em que Schiappa é vista de maiô, o gabinete respondeu a 3 de abril: “É claro que é uma armação, é falso”.
Um dos artigos difundidos em italiano inclui um tuíte com a imagem do corpo todo de Schiappa. Foi publicado em 1º de abril às 11h16, horário da França, pouco depois de ser tornada pública a informação de que a funcionária havia concedido a entrevista à Playboy.
Vários usuários comentaram a foto e denunciaram que era falsa. Em resposta, o autor do tuíte negou que a capa fosse real e se declarou“culpado” quando questionado sobre a veracidade da imagem que publicou.
nope
— Jack Blag (@BlagJack) April 3, 2023
A AFP conseguiu descobrir que, de fato, o corpo visto nas postagens virais vem de outra fotografia disponível na internet, de vários anos antes. Por meio de uma busca reversa com a extensão InVid-WeVerify, a equipe de verificação da AFP encontrou uma imagem semelhante na ferramenta TinEye.
Ao baixar essa imagem, uma nova busca reversa levou ao Pexels, um banco de imagens. A foto é descrita como “uma mulher sexy de maiô branco posa sentada em uma cadeira” e, de acordo com seus metadados, foi tirada em 24 de junho de 2020 e publicada no site em 16 de dezembro daquele ano. A localização informada é Hong Kong e a autora é Koma Tang.
Detalhes como a posição das mãos e pernas e as dobras na poltrona permitem determinar que se trata da mesma fotografia.
Por sua vez, o editor da revista, Jean-Christophe Florentin, não quis revelar mais detalhes à AFP sobre a capa da edição de 6 de abril da edição francesa da Playboy.
Outros meios de comunicação, como o canal de notícias BFM TV, veicularam outras fotografias que supostamente estão na nova edição da revista. Em uma delas, Shiappa aparece com o mesmo gesto do recorte divulgado pelo Le Parisien, mas em vez de maiô, ela usa um longo vestido branco.
Marlène Schiappa dans Playboy: la majorité embarrassée pic.twitter.com/M1P6sZxh8s
— BFMTV (@BFMTV) April 1, 2023
A decisão de Shiappa de posar para a Playboy gerou polêmica na França, país que registra protestos maciços contra o adiamento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e o aumento da contribuição para 43 anos até 2027 para arrecadar a pensão completa. Ela justificou sua decisão: “A defesa do direito da mulher de dispor do próprio corpo se faz sempre e em todo lugar. Na França, as mulheres são livres”, escreveu ela no Twitter.