Vídeo de 2017 no qual policial fala sobre fraude na Operação Pipa circula como se fosse de 2023
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- Publicado em 3 de fevereiro de 2023 às 15:52
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- Por AFP Brasil
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“Polícia descobre q a história é pior ainda do q desligar a transposição do S.F. Os GPS do caminhão pipa pagos com nosso dinheiro estão em carros. Eles fazem a rota fingindo entregar água p/ acusar GPS a rota e o povo morrendo de sede com o caminhão parado. Olha aí a turma do PT!”, diz um dos vídeos compartilhados no Twitter. O conteúdo também circula no Facebook, no Instagram, no TikTok, no Kwai e no YouTube.
A gravação também foi encaminhada ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem enviar conteúdos vistos em redes sociais, se duvidarem de sua veracidade.
A gravação mostra um homem usando um uniforme policial e dizendo: “Vou contar para vocês um golpe, uma verdadeira falta de honestidade que acontece com o pessoal que precisa da água do programa do governo (...). O cara vai e pega o GPS do veículo, coloca em um carro pequeno, não entrega a água e roda toda a rota que o caminhão deveria estar fazendo entregando a água para dizer que estava fazendo o serviço, entregando a água”.
O programa do governo citado no vídeo viral é o Programa Emergencial de Distribuição de Água Potável, conhecido popularmente como Operação Pipa, ou Operação Carro-Pipa. A ação tem como objetivo levar água potável a regiões do semiárido brasileiro por meio de caminhões especializados.
Em anos anteriores, fraudes similares envolvendo o programa já haviam sido reportadas pela imprensa (1, 2, 3).
O golpe consiste em roubar o aparelho que permite localizar os caminhões do governo e instalá-lo em veículos menores que seguem a rota planejada, porém sem distribuir a água. Uma das matérias, publicada em 2019, traz o depoimento de um delegado que afirma que o esquema de fraude já era conhecido.
Uma busca reversa pelas imagens vistas no vídeo viral não trouxe resultados. Mas uma busca no YouTube pelas palavras-chave “fraude gps operação pipa” localizou uma versão mais longa do mesmo vídeo, publicada em 26 de março de 2017 com o título: “PMS DESCOBRE FRAUDE NO PROGRAMA OPERAÇÃO CARRO PIPA NO CEARÁ”.
Na descrição do conteúdo, é afirmado que a Polícia Militar do Ceará abordou um veículo dentro do qual encontrou o material eletrônico que deveria estar instalado nos caminhões credenciados na operação do governo federal.
“Também tinha no veículo uma planilha com todo o itinerário que deveria ser feito e todas as cisternas que deveriam ser abastecidas, inclusive repasses de valores por cada abastecimento diário que girava em torno de R$10.000,00 e que onerava os cofres públicos sem a prestação do serviço”, continua o texto da descrição. “Foi dado voz de prisão ao Francisco Eldevan de Araújo do Nascimento por estelionato, crime contra a administração pública”.
O AFP Checamos procurou a assessoria de comunicação social da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), que confirmou por e-mail que a gravação é de 24 de março de 2017:
“A SSPDS-CE informa que o vídeo foi registrado em 24 de março de 2017, quando um homem suspeito de estelionato foi preso por uma equipe da Polícia Militar do Ceará (PMCE), no município de Solonópole (...). Na época, foram encontrados com o indivíduo equipamentos eletrônicos que teriam sido utilizados para fraudar o rastreamento de um veículo utilizado para a distribuição de água na região. Um procedimento instaurado na Delegacia Municipal de Solonópole, unidade da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), foi concluído e remetido à Justiça.”
À época, a notícia foi reportada por alguns sites locais (1, 2).
Em 2017, o Brasil era governado por Michel Temer (2016-2018), do partido MDB.
O conteúdo falso ecoa uma narrativa que circula após o início do mandato presidencial de Lula, que teve início em 1º de janeiro de 2023, segundo a qual o novo governo teria desligado as bombas da transposição do Rio São Francisco, que abastece diversos municípios no Nordeste do país. O governo federal, porém, nega as alegações e afirma que as bombas estão desligadas desde novembro de 2022, pois as demandas hídricas dos estados já estariam sendo supridas, como publicado no site do governo do Ceará.
Verificação semelhante foi feita pela Agência Lupa e pelo Aos Fatos.