Foto viral retrata ministro Alexandre de Moraes com líderes sociais, não “chefões do PCC”

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  • Publicado em 6 de janeiro de 2023 às 21:13
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  • Por AFP Brasil
Os três homens ao lado do ministro do STF Alexandre de Moraes em uma foto são líderes sociais conhecidos nacional e internacionalmente, e não “chefões do PCC”, como dizem postagens compartilhadas desde 3 de janeiro de 2023. Rene Silva, que na imagem usa um boné com a inscrição “CPX”, em referência a complexos de favelas, é fundador do jornal e ONG Voz das Comunidades, que cobre favelas do Rio de Janeiro; Raull Santiago lidera diversas iniciativas nas áreas de ativismo e empreendedorismo social, como o Coletivo Papo Reto e a Brecha; e Preto Zezé é presidente da Central Única das Favelas (CUFA).

“DIZE-ME COM QUE ANDAS E DIREI QUEM TU ÉS, PARA QUEM NÃO SABE, ESTE ALEXANDRE DE MORAES, É AMIGOS DESTES CHEFÕES DO PCC, ISSO PRECISA VIRALIZAR ATÉ CHEGAR NA ONU. COMPARTILHEM. URGENTE”, diz o texto sobreposto à foto de Rene, Raull e Preto Zezé com Alexandre de Moraes.

O conteúdo viraliza no Twitter, promovido pelo lutador e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro Renzo Gracie, mas também em outras redes, como Facebook, Instagram e TikTok.

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Captura de tela feita em 5 de janeiro de 2023 de uma publicação no Twitter ( .)

A publicação viral usa uma foto publicada no Instagram pelo próprio Raull Santiago, junto com Rene Silva, em 1º de janeiro de 2023. Eles estiveram em Brasília à convite do Itamaraty (1, 2) para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A tentativa de associação ao tráfico acontece após um período eleitoral marcado por campanhas de desinformação, muitas vezes com moradores de favelas e a população negra como alvo.

Em outubro de 2022, a entrega de um boné com a inscrição “CPX” a Lula — o mesmo que Rene Silva usa na imagem com Moraes — foi distorcida, como se fosse um presente do tráfico.

Na época, a AFP mostrou que a abreviação faz referência a complexos de favelas, e não a facções criminosas. Além de ser usada como gíria por moradores, a terminologia já foi adotada com o sentido de “complexo” por órgãos oficiais, como a Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Lideranças sociais

Os três homens que aparecem ao lado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são ativistas sociais e líderes comunitários reconhecidos nacional e internacionalmente.

O nome de Rene Silva ganhou fama em 2010, quando narrou no Twitter, em tempo real, a ocupação policial no Complexo do Alemão. Anos antes, ele havia fundado o jornal e ONG Voz das Comunidades, que hoje cobre favelas de todo o Rio de Janeiro.

Desde então, Silva já participou de iniciativas de organizações como a ONU e teve seu trabalho destacado em veículos nacionais e internacionais (1, 2).

Em conversa com o AFP Checamos sobre as publicações, ele disse:

Raull Santiago, também do Complexo do Alemão, acrescentou: “A maldade das postagens fakes não doem apenas pelo ataque direto à nossa imagem, mas principalmente por sabermos que isso vem carregado de racismo e preconceito direto às favelas”. À AFP, ele informou que medidas judiciais estão sendo tomadas.

Empreendedor social e ativista, Raull integra diversas iniciativas, entre elas o Coletivo Papo Reto, que trabalha comunicação, direitos humanos, educação e cidadania para a garantia de direitos no Complexo do Alemão, e a Agência Brecha, hub de inteligência de favela.

Em novembro de 2022, o ativista esteve na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP 27, tendo participado de um painel sobre justiça climática.

Já Preto Zezé é o presidente da CUFA, organização que há 20 anos apoia favelas do Brasil. Entre seus projetos estão o campeonato Taça das Favelas e o Mães das Favelas, criado durante a pandemia de covid-19 para apoiar mães de mais de cinco mil comunidades ao redor do país. Segundo noticiado pela imprensa, mais de três milhões de famílias foram apoiadas.

Assim como Rene e Raull, Preto Zezé também tem seu trabalho reconhecido em diversos meios nacionais e internacionais. Participou de uma série da TV Senado e é colunista da Folha de S.Paulo.

Buscas pelos nomes dos três com o termo “PCC”, citado nas publicações, não retornaram qualquer resultado demonstrando a suposta associação.

O conteúdo também foi verificado pelo UOL Confere, pelo Aos Fatos, pela Reuters e pelo Estadão Verifica.

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