Plantação em Sidrolândia com inscrições de apoio à candidatura de Jair Bolsonaro, postado originalmente em 15 de julho de 2018 (Facebook de Jair Messias Bolsonaro/AFP)

Sim, a inscrição “Bolsonaro 2018” apareceu em plantações no Mato Grosso do Sul

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  • Publicado em 14 de agosto de 2018 às 20:59
  • Atualizado em 15 de agosto de 2018 às 16:53
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  • Por AFP Brasil
Um vídeo e fotos aéreos mostrando plantações no interior do Brasil com a inscrição do nome Jair Bolsonaro geram euforia entre os apoiadores do candidato de extrema-direita nas redes sociais. No entanto, por serem imagens incomuns, também despertaram suspeita. Mas sim, é verdade: a frase “Bolsonaro 2018” foi lavrada, em letras gigantes, em plantações no Mato Grosso do Sul.

No dia 18 de janeiro, o presidenciável pelo Partido Social Liberal (PSL) publicou, em sua conta oficial no Facebook, um vídeo em que um avião decola, em meio ao que parece ser uma plantação de grandes proporções, e seu nome se mostra estampado na lavoura. As imagens, de baixa qualidade, mas assistidas mais de 570.000 vezes, têm a legenda: “Menos Estado e mais liberdade para o produtor rural. Garantia à propriedade privada, segurança, fim da indústria das multas e menos impostos”.

No dia 15 de julho, Bolsonaro voltou a difundir no Twitter e no Facebook uma imagem de seu nome impresso em um campo agrícola. “Obrigado pela confiança, amigos produtores de Sidrolândia - MS!”, agradeceu. De 1979 a 1981, Jair Bolsonaro atuou como capitão do Exército em Nioaque, a 115 quilômetros de Sidrolândia.

A dimensão destas demonstrações de apoio ao candidato e a baixa qualidade das imagens levantaram suspeitas sobre sua veracidade. Depois de extensa checagem, a informação foi comprovada.

Inscrições diferentes, mas referindo-se ao mesmo lugar

Ao comparar as fotos publicadas em julho com o vídeo difundido em janeiro, vemos que os mesmos teriam sido registrados na mesma fazenda, mas que as inscrições ocupam espaços diferentes. Isto poderia evidenciar manipulação das imagens.

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Comparação de imagens divulgadas em janeiro e julho de 2018 sobre inscrições "Bolsonaro 2018" em uma fazenda no Mato Grosso do Sul (Facebook/AFP)

No entanto, o que explica o fato de as marcas aparecerem em locais diferentes é que as fotos foram feitas em momentos diferentes. As marcas originais foram apagadas depois da colheita e outras foram feitas posteriormente em outra área da mesma fazenda.

Comparando as imagens, pode-se observar resquícios dos primeiros traços, feitos em janeiro, nas fotos tiradas em julho deste ano.

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Comparação de imagens divulgadas em janeiro e julho de 2018 sobre inscrições "Bolsonaro 2018" em uma fazenda no Mato Grosso do Sul (Facebook/AFP)

Imagens de satélite

Ari Basso, que foi prefeito de Sidrolândia de 2013 a 2016, é um dos proprietários da Fazenda Engenho 2, localizada no mesmo município. Seu filho Miguel Basso confirmou a informação sobre as inscrições e mencionou que uma segunda fazenda da família, a Estância Gaúcha, em Maracajú, também conta com esta atípica forma de propaganda eleitoral. Imagens (1) de satélite comprovam a informação.

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Imagens de satélite da Fazenda Engenho 2 em Sidrolândia, MS, 12 de dezembro de 2017 (Planet.com/AFP)
 
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Foto de satélite da Fazenda Estância Gaúcha, Maracajú, 12 de dezembro de 2017 (Facebook/AFP)
 

 

Como foram feitas as inscrições?

Segundo Miguel Basso, os desenhos são feitos com o programa de mapeamento por GPS Trackmaker sobre uma foto de satélite e depois importados para o sistema operacional Apex, da fabricante de tratores John Deere. Posteriormente, são transferidos para o monitor do trator por meio de uma memória USB externa. Deste modo, as máquinas interpretam automaticamente onde plantar e onde não plantar, formando as letras que compõem “Bolsonaro 2018”.

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Fotos do monitor do Apex configurado para realizar as inscrições, enviadas por Miguel Basso (Miguel Basso/AFP)

Em Estância Gaúcha, o método foi aplicado em uma plantação de milho e em Engenho 2 sobre um campo de cultivo de soja.

Miguel afirmou que os vídeos e fotos que circulam na internet foram realizados com seu drone, com a exceção de algumas imagens que foram gravadas de dentro de aviões de pequeno porte sobrevoando a área.

Testemunha ocular

Contactado pela AFP, o repórter Marcos Tomé Rodrigues do portal Região News, que publicou o fato em janeiro deste ano, confirmou que estava presente no momento em que as primeiras imagens foram feitas.

Esta investigação foi realizada com apoio do Projeto Comprova. Participaram jornalistas da AFP,  Folha de São Paulo, O Povo e Gazeta Online.

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