Programa “Encontro” não questionou se houve excesso da polícia no dia da morte de Lázaro
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- Publicado em 28 de junho de 2021 às 23:20
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- Por AFP Brasil
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“Violência policial: Houve excesso da polícia na execução de Lázaro?”, diz a suposta chamada do programa de Fátima Bernardes, vista na captura de tela compartilhada mais de 3 mil vezes no Facebook (1, 2, 3), Twitter (1, 2, 3) e Instagram algumas horas após sua publicação em 28 de junho.
Neste dia, a Polícia Militar de Goiás anunciou que Lázaro faleceu em confronto, após uma operação de busca que mobilizou quase 300 policiais. Ele era suspeito de ter assassinado quatro pessoas de uma mesma família na zona rural no Distrito Federal, no último dia 9 de junho. Durante sua fuga fez reféns e ficou conhecido como “o serial killer de Brasília”.
“Fátima você poderia ter combinado com os policiais e levado o Lázaro pra sua casa!”, escreveu o deputado estadual Anderson Moraes ao publicar o conteúdo no Twitter. Publicação semelhante foi feita pelo ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.
Uma busca no Google pela imagem compartilhada nas redes mostra, no entanto, que trata-se de uma montagem.
Uma captura de tela muito semelhante foi publicada com uma chamada diferente em 4 de janeiro de 2021 em uma reportagem sobre o retorno de Fátima Bernardes à televisão após uma licença médica. Nesta versão, a manchete vista na tela diz: “De volta: Fátima retorna ao Encontro após cirurgia”.
Uma consulta à plataforma de vídeos sob demanda GloboPlay permite confirmar que esse era o texto exibido na tela abaixo de Fátima Bernardes em 4 de janeiro de 2021. Todos os outros elementos da imagem são idênticos ao da captura de tela viralizada, confirmando a manipulação, como demonstrado abaixo:
A fonte vista na captura de tela compartilhada nas redes também é mais fina e distinta da utilizada normalmente no programa.
A equipe de checagem da AFP assistiu a íntegra da edição do Encontro com Fátima Bernardes exibida em 28 de junho de 2021 e confirmou que não houve nenhum comentário sobre o caso de Lázaro Barbosa semelhante ao mencionado nas redes sociais.
Por três vezes, a jornalista Maju Coutinho interrompeu a programação habitual da emissora para dar atualizações sobre o caso de Lázaro, mas em nenhum momento foi questionado se houve “excesso” por parte da polícia.
Em resposta à publicação do deputado Anderson Moraes no Twitter, Fátima Bernardes classificou a captura de tela viralizada como “fake news”.
As publicações ecoam a retórica frequentemente empregada pelo presidente Jair Bolsonaro que acusa jornalistas e a mídia brasileira de “defenderem” criminosos. O mandatário reagiu à morte de Lázaro em publicação no Twitter.