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Nenhuma árvore de 6.000 anos ou mais foi registrada até agora
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 20 de abril de 2021 às 17:53
- 6 minutos de leitura
- Por AFP África do Sul
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“A maior e mais antiga árvore da Terra tem 6.000 anos e fica na Tanzânia”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), no Instagram e no Twitter.
Algumas postagens são ilustradas por essa outra imagem (1), enquanto outras afirmam que a árvore fica no Senegal ou na África do Sul, e não na Tanzânia.
Essas afirmações também viralizaram em francês, inglês, espanhol e catalão.
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Não há registro de um Baobá de vida tão longa
O ecologista Pascal Danthu, membro do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agropecuária para o Desenvolvimento (Cirad), consultado pela AFP, levantou a hipótese de que a árvore mostrada na maioria das publicações pode se tratar de um Baobá da região de Morombe, no sudoeste de Madagascar.
Danthu, que há muitos anos pesquisa esses tipos de árvores, enviou duas fotos que afirma ter tirado "quatro ou cinco anos atrás" enquanto estava em Madagascar. O Baobá visto nessas imagens apresenta muitas semelhanças com o de uma das fotos virais do Facebook: galhos dispostos da mesma forma (retângulos azuis), formas semelhantes (retângulos vermelhos) e marcações idênticas no tronco (retângulos amarelos).
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Embora o pesquisador ressalte que existe uma certa semelhança entre as duas árvores, ele não garante que essas fotos sejam do mesmo Baobá. A equipe de verificação da AFP também não conseguiu confirmar a localização exata do Baobá que circula nas redes sociais.
A outra fotografia mostrada nas publicações viralizadas é difundida na internet pelo menos desde 2007, sem especificar o país de origem.
Porém, mesmo sem confirmar sua localização exata, um Baobá não pode ter 6.000 anos, pois essa é uma longevidade excessiva para este tipo de árvore.
De acordo com um estudo da revista científica Nature Plants publicado em 2018, o mais antigo Baobá conhecido ficava no Zimbábue. Os autores estimaram que sua idade seria em torno de 2.450 quando morreu em 2011. Desde então, os especialistas não encontraram um espécime com vida tão longa como indicam as publicações virais.
O Baobá, uma árvore mística
O Baobá pertence à família das Bombacaceae , "é uma árvore de folha caduca, comumente encontrada nas Comores, Madagascar e na África tropical, onde também é o emblema do Senegal", explica a seção de jardinagem do jornal francês Le Monde.
Existem nove espécies de Baobás em todo o mundo, mas o continente africano abriga apenas uma, a Adasonia digitata. As outras variedades estão presentes em Madagascar, exceto uma delas, que se encontra na Austrália.
Segundo o ecologista Pascal Danthu, o Baobá é "muito utilizado pelas populações locais" , principalmente seus frutos, folhas e, anteriormente, suas fibras. Além do uso pragmático, a árvore tem “um lado sagrado” e às vezes é usada para “cultos ligados a mulheres e crianças”.
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(John Wessels / AFP)
Nos países onde está presente, o Baobá é “visto como uma árvore mítica, mística”, à qual estão associadas muitas “virtudes”, afirmou à AFP Jean-Marie Amoa, representante nos Camarões da organização Asprobio/AGM, que procura aumentar a conscientização sobre a proteção da biodiversidade e as mudanças climáticas, de acordo com seu site.
Os Baobás podem restaurar "uma aura perdida", promover "remédios" e "abundância", entre outras propriedades. Lavar-se com suas folhas é um "presságio de prosperidade", disse Amoa. No centro de Camarões, a árvore é apelidada de "Douma, a glória", acrescentou.
Atualmente, essas "árvores da vida", como às vezes são chamadas, estão ameaçadas pelo aquecimento global. “Durante a segunda metade do século 19, os Baobás da África Austral começaram a morrer, mas há cerca de 10 ou 15 anos, seu desaparecimento aumentou rapidamente devido às altas temperaturas e à seca”, explicou Adrian Patrut, co-autor do estudo da Nature Plants em declarações à AFP em 2018.
“Essas mortes não foram causadas por uma epidemia”, disseram os autores do estudo na época, indicando que a mudança climática poderia afetar a capacidade de sobrevivência do Baobá. No entanto, "a região onde morreram Baobás milenares é aquela em que o aquecimento ocorre mais rapidamente na África", disse Adrian Patrut.
Um pinheiro Bristlecone, a árvore mais antiga do mundo
Embora os Baobás africanos sejam as árvores floridas mais antigas do mundo, a árvore mais antiga identificada na Terra é um pinheiro Bristlecone (Pinus longaeva), denominado “Matusalém” e localizado no estado da Califórnia, nos Estados Unidos.
De acordo com a Rocky Mountain Tree Ring Research, uma organização americana especializada no envelhecimento de florestas, essa espécime tem aproximadamente 4.850 anos, o que a torna a árvore viva mais antiga do mundo.
Esse é um tipo de árvore muito raro, pois apenas é encontrado em Nevada, Califórnia e Utah.
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(Gabriel Bouys / AFP)
Outro pinheiro Bristlecone, localizado na mesma região e derrubado por um estudante americano em 1964, foi identificado como a árvore mais antiga do mundo antes de sua morte. Como também aponta a Rocky Mountain Tree Ring Research, essa espécime, chamada “Prometheus”, tinha 4.900 anos de idade.
No entanto, a dendrocronologia, que é o estudo da idade das árvores de acordo com as camadas concêntricas visíveis dos troncos, "está apenas em sua infância, especialmente nas regiões tropicais", explicou à AFP Neil Pederson, pesquisador em ciências florestais da Universidade de Harvard. Segundo ele, datar com exatidão uma árvore é "muito difícil por causa da forma como os anéis de crescimento estão dispostos nos trópicos".
“Até agora, o pinheiro Bristlecone parece ser a árvore viva mais antiga da Terra, que conseguimos identificar”, disse o pesquisador. Outro pinheiro Bristlecone ainda vivo, e na mesma região, teria mais de 5.000 anos, mas essa data ainda não foi confirmada, concluiu Neil Pederson.