Não, a revista Charlie Hebdo não publicou uma capa com a caricatura de Dias Toffoli

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  • Publicado em 26 de abril de 2019 às 17:03
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  • Por AFP Brasil
Uma postagem viralizada nas redes sociais afirma que a revista francesa Charlie Hebdo publicou uma edição com a caricatura do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, na capa. Entretanto, trata-se de uma montagem: essa edição nunca existiu.

Uma publicação compartilhada mais de 13 mil vezes desde que foi postada, em 17 de abril de 2019, alega que a revista satírica teria usado como capa uma charge com a imagem de Dias Toffoli. Sua legenda contém os dizeres: “Deu ‘no’ Charlie Hebdo: Um mar de corrupção! Não adianta mais processar ninguém, o fuxico já se espalhou pelo mundo! A não ser que o STF queira bloquear o mundo inteiro!”.

A equipe de checagem da AFP no Brasil encontrou a fotografia original, creditada à agência de notícias Reuters, que sofreu a alteração digital na suposta capa da revista. A imagem verdadeira mostra um homem lendo a edição 1.178, de 14 de janeiro de 2015, que tinha como imagem principal o profeta Maomé segurando uma placa com os escritos “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), além da frase “Tudo está perdoado”.

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Uma pessoa lê a edição da revista semanal Charlie Hebdo, em 13 de janeiro de 2015, em Paris, uma semana após o atentado extremista contra a redação da publicação, que deixou 12 mortos

Esta foi a primeira edição depois do atentado ocorrido em 7 de janeiro de 2015, quando os irmãos Chérif e Said Kouachi, radicais islâmicos, mataram 12 pessoas no ataque à redação da revista Charlie Hebdo.

A charge de Dias Toffoli utilizada para ilustrar a suposta capa é obra do cartunista Renato Aroeira e foi publicada por ele em seu perfil no Facebook em 13 de março de 2015. Este desenho também foi alterado digitalmente, pois uma das mãos de Toffoli foi retirada e acrescentaram a lupa com a imagem do ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Além disso, a capa da Charlie Hebdo que aparece na foto viralizada foi montada a partir de duas edições diferentes. Como a edição 1.178 não continha o cabeçalho usado na imagem, ele foi retirado da edição 1.275, de 20 de dezembro de 2016, como é possível ver na imagem a seguir:

 

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Montagem feita em 25 de abril de 2019 mostra, à esquerda, a foto viralizada nas redes sociais com a suposta capa da revista Charlie Hebdo. À direita está a foto original e, no centro, a edição da revista usada para o cabeçalho da falsa capa

 

A citação ao “bloqueio do STF” na legenda da publicação viralizada faz referência ao ocorrido em 15 de abril de 2019, quando o ministro Alexandre de Moraes determinou que os sites da revista Crusoé e O Antagonista retirassem do ar uma reportagem e nota publicadas em 11 de abril de 2019 e que mencionavam o presidente do Supremo, Dias Toffoli.

Inclusive, além do fato da fonte usada para escrever o texto na capa da foto viralizada ser a mesma da capa original da revista, há dois erros de ortografia na escrita da palavra “lami” fazendo referência à palavra “amigo” em francês: na primeira menção falta o apóstrofe e na terceira menção o apóstrofe e a letra “e” no final já que neste caso “l’amie” é feminino (em referência à Suprema Corte).

A frase em francês faz menção ao título da polêmica reportagem da revista Crusoé, “O amigo do amigo de meu pai”: “O amigo do amigo de meu pai. A Suprema Corte do Brasil, amiga da corrupção” (em tradução livre).

Em resumo, esta capa da revista Charlie Hebdo nunca existiu e se trata de uma alteração digital que mistura duas edições diferentes - e reais - do meio de comunicação satírico. Além disso, as quatro edições de abril publicadas até o dia 25 deste mês no site da revista são relacionadas a conteúdos da França, sem qualquer ligação com a política brasileira.

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