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Não, a jornalista Miriam Leitão não foi presa por assaltar um banco e portar um revólver
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- Publicado em 7 de junho de 2019 às 22:13
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Foto do julgamento do assalto ao Banco Banespa da Rua Iguatemi, em São Paulo, ocorrido no dia 06/Outubro/1968. A assaltante usava um revólver calibre 38 e junto com seus comparsas levaram 80 mil cruzeiros, que seria equivalente à R$ 800.000. Alguém reconhece a assaltante?”, diz o texto das postagens (1, 2 e 3), que também contêm as frases: “Presa assaltando banco portando um revólver calibre 38…” e “E fala mal do Bolsonaro… Essa é Miriam Leitão…”.
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A equipe de checagem da AFP no Brasil descobriu que essa mesma desinformação já havia circulado em 2018, e chegou a ser desmentida por veículos como Agência Lupa e Fato ou Fake, do G1, mas voltou a ganhar força este ano, especialmente em maio. Nos últimos meses, a jornalista, apresentadora na emissora GloboNews e colunista de Economia no jornal O Globo, foi criticada (1, 2, 3 e 4) nas redes sociais após uma série de artigos a respeito do estilo de governo do presidente Jair Bolsonaro.
Miriam Leitão realmente foi presa durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), em 1972, mas por fazer parte do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), à época clandestino, no qual era chamada de Amélia, como é possível constatar na ficha veiculada com a notícia falsa.
A jornalista já falou sobre a sua prisão em uma entrevista ao Observatório da Imprensa em 2014. Segundo contou, ela morava em Vitória, no Espírito Santo, e foi presa em dezembro quando saía com seu então companheiro, Marcelo Netto, para ir à praia. “Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha. É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, do outro lado da baía”.
De acordo com a entrevista, enquanto presa, Miriam Leitão, grávida de um mês, foi ameaçada de estupro, obrigada a ficar nua diante de vários homens e ficou trancada em uma sala escura com uma cobra. Sua liberação ocorreu quando ela já estava com quatro meses de gestação. Segundo conta, o filho que esperava, Vladimir, tinha grandes chances de ter sequelas devido às sessões de tortura, mas ele “nasceu em agosto forte e saudável”.
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Em 2015, o segundo filho da jornalista, Matheus Leitão, escreveu um longo texto sobre a história de seus pais na página no Medium “Brio-Stories”. Uma das imagens usadas por ele é a da ficha original de detenção da Miriam.
Em 2017, por sua vez, lançou o livro "Em nome dos pais", no qual reconstituiu esta história durante o período militar. Na capa, vê-se a mesma fotografia da ficha de Miriam Leitão, onde está escrito: “Integrante do PCdoB - Fac. de Filosofia”.
Sobre o caso mencionado na publicação viralizada, de um assalto ocorrido no Banco Banespa em outubro de 1968, AFP Checamos encontrou somente um registro na mídia. A partir da pesquisa na Hemeroteca da Biblioteca Nacional foi possível ter acesso a um exemplar do periódico Tribuna da Imprensa, de 7-8 de dezembro de 1968, que cita um assalto ao banco.
Segundo a matéria da edição 5.675, “reproduzindo a mesma tática usada há dois meses, oito homens, armados de revólveres e metralhadoras portáteis assaltaram novamente o Banco do Estado de São Paulo, agência Iguatemi, situada na rua do mesmo nome, nº 1.364”. Apesar de haver a indicação de outro assalto ocorrido “há dois meses”, que coincidiria com a data de 6 de outubro de 1968 mencionada na publicação viralizada, não foi possível encontrar nenhum registro desse ocorrido.
Por fim, Miriam Leitão tinha apenas 15 anos em 1968, como é possível constatar em sua ficha, e ainda morava em Caratinga, Minas Gerais, onde nasceu. Ela só se mudou para Vitória aos 18.
Em resumo, a jornalista Miriam Leitão não foi presa por assalto e porte de arma em 1968. O seu registro de prisão data de 1972 e por ser militante do então clandestino Partido Comunista do Brasil. Sua absolvição saiu em 1974.