Não, este vídeo não mostra uma professora tentando passar batom em um aluno
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- Publicado em 9 de novembro de 2018 às 19:16
- Atualizado em 10 de novembro de 2018 às 04:02
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A história tinha todos os elementos para a indignação do público. Duas mulheres aparecem no vídeo tentando colocar algo à força na boca de uma criança. O menino chora e tenta resistir. De acordo com a descrição das postagens, a cena testemunhada pelos internautas se trata de doutrinação LGBT nas escolas. O aluno estaria lutando contra a tentativa de pintar sua boca com batom.
O vídeo apareceu na internet em junho de 2015 e foi rapidamente compartilhado e visto milhões de vezes, em português, espanhol e inglês. Recentemente, chegou à América do Norte através do Reddit e do Facebook.
A cena do vídeo chegou a ser tratada por um tribunal brasileiro, por constituir maus-tratos, mas não pelas razões descritas nas postagens.
O episódio ocorreu no dia 19 de junho de 2015 no centro educacional Ipê em Águas Claras, cerca de 16 km da capital Brasília. De acordo com a sentença judicial relacionada ao incidente, as duas mulheres que aparecem no vídeo eram professoras e tentaram forçar a criança a ingerir Ômega-3. O suplemento traz benefícios ao coração, segundo especialistas.
Bruna da Silva Andrade, também docente na escola, foi quem gravou a cena e postou nas redes sociais. De acordo com ela, que foi testemunha no processo, as professoras seguraram o menino pelo braço com força.
De acordo com a sentença da Terceira Vara Cível de Taguatinga, Da Silva “presenciou a professora Daniele amassando uma cápsula de ômega 3 em sua mão, com forte cheiro de peixe, dizendo ao autor que aquilo era catarro, enquanto esfregava a mão em seu rosto”. A razão pela qual as professoras quiseram dar Ômega-3 à criança não está clara, tampouco o motivo de terem dito que era catarro.
Pelo fato do incidente não ter sido um caso isolado, o próprio colégio tomou o lado dos pais do aluno no processo. A instituição foi obrigada a pagar 30.000 reais à vítima, representada por sua mãe, e declarou à AFP, por telefone, que “as professoras envolvidas no caso já não têm nenhuma conexão com a escola”.
As palavras ditas no vídeo são quase ininteligíveis e o que foi dado à criança não é mostrado de maneira clara nas imagens. Estas características tornaram fácil descontextualizar o vídeo, alegando que o mesmo era uma evidência de doutrinação LGBT nas escolas.