Não, esta foto não mostra sacerdote e fiéis fazendo apologia às armas na Catedral de Campinas

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  • Publicado em 24 de dezembro de 2018 às 10:42
  • Atualizado em 24 de dezembro de 2018 às 13:45
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  • Por AFP Brasil
Depois que um homem abriu fogo e se suicidou em uma igreja em Campinas, interior do estado de São Paulo, no dia 11 de dezembro, publicações nas redes sociais afirmam mostrar um sacerdote e fiéis fazendo apologia às armas de fogo dentro do templo religioso. A informação é falsa. A imagem mostra um episódio ocorrido em um lugar totalmente diferente.

"Tragédia em Campinas. Paroquianos e sacerdote, em pose irresponsável, fazendo apologia a violência dentro da igreja. Quem planta ódio não pode colher amor, né?", diz a descrição de uma postagem feita um dia depois do ataque, compartilhada milhares de vezes no Facebook. Uma internauta comentou: "Apologia às armas… violências… Infelizes… Não foi isso que o Mestre pregou quando caminhou sobre a Terra… Tristeza".

No entanto, a foto não foi tirada na catedral de Campinas e o religioso mostrado na imagem não é um sacerdote daquela casa.

A imagem na verdade mostra a Paróquia São Vicente Pallotti, em Arapongas, no interior do estado do Paraná, a aproximadamente 380 quilômetros da capital, Curitiba. A equipe de checagem da AFP comparou vídeos do lugar com a foto viralizada no Facebook e confirmou que a foto foi tirada durante o evento "Cerco de Jericó" em outubro de 2018.

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Comparação da foto que foi viralizada com vídeos do "Cerco de Jericó" em outubro de 2018

O sacerdote mostrado na publicação não é o Padre Amauri Thomazzi, que celebrava a missa na Catedral Metropolitana de Campinas quando ocorreu o ataque. Na realidade, o religioso é Dom Bento, monge beneditino de Ponta Grossa, interior paranaense, segundo confirma a comparação de imagens do mesmo com a foto em questão.

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Comparação da foto que foi viralizada com imagens de Dom Bento e Padre Amauri Thomazzi

Contatado pela AFP, Dom Bento assumiu sua presença na foto. Sobre o gesto, o sacerdote qualificou como uma brincadeira e não quis dar mais detalhes. "Como cidadão brasileiro, pagante de imposto, posso apoiar a qualquer um [candidato]. Não tenho que dar explicação sobre isso (...) estou no meu direito de cidadão brasileiro", declarou.

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Candidato presidencial Jair Bolsonaro faz gesto durante campanha em Ceilândia, no Distrito Federal, no dia 5 de setembro de 2018 (AFP / Evaristo Sá)

Durante a campanha eleitoral das eleições gerais de outubro de 2018, o sinal de arma de fogo ficou conhecido como um gesto de apoio ao presidente eleito Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), pois a legalização do porte e posse de armas é um dos pilares de sua agenda política.

Por sua parte, a Catedral Metropolitana de Campinas emitiu um comunicado em que nega que a foto tenha sido realizada na igreja e pediu aos usuários que denunciem os perfis que propagam a informação. "Foi uma maldade que as pessoas fizeram. É uma montagem!", declarou uma funcionária da catedral à AFP.

O ataque à igreja campinense resultou na morte de cinco pessoas. O papa Francisco se declarou "profundamente consternado pelo dramático atentado realizado durante a celebração da Santa Missa na Catedral da Arquidiocese de Campinas". Na tarde do dia 11 de dezembro, o Padre Thomazzi gravou um vídeo em que pediu ao público que rezasse pelas vítimas e pelo atirador.

Finalmente, a foto que viralizou foi realizada no estado do Paraná em outubro de 2018, em plena campanha eleitoral. Não foi tomada na catedral de Campinas, nem tem qualquer relação com os fiéis ou sacerdotes da mesma.

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