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Não, David Miranda não é acusado de terrorismo pelo Reino Unido
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 18:28
- Atualizado em 10 de junho de 2019 às 18:22
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Suplente de Jean Wyllys (PSOL) é acusado de terrorismo na Europa!”, diz uma das postagens disseminando a versão no Facebook, compartilhada mais de 4.500 vezes. A versão também viralizou no Twitter.
A alegação voltou a circular em redes sociais (1, 2, 3) em 9 de junho deste ano, depois que o site The Intercept Brasil divulgou mensagens supostamente trocadas entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e procuradores da operação Lava Jato. David Miranda é companheiro do jornalista Glenn Greenwald, que assinou as reportagens do The Intercept junto com outros repórteres.
A maioria das publicações cita um artigo da Revista Exame, publicado em novembro de 2013. Nele, a revista informa sobre a detenção temporária do atual vereador pelo Rio de Janeiro no aeroporto de Heathrow, na capital Londres.
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Na ocasião, Miranda era suspeito de estar carregando arquivos confidenciais de serviços de inteligência britânicos, entre outros, fornecidos por Edward Snowden. O brasileiro esteve detido durante 9 horas por oficiais da Polícia Metropolitana de Londres com base em uma lei contra o terrorismo, até ser liberado para embarcar de volta ao Brasil.
No entanto, a informação de que Miranda “é acusado de terrorismo” é falsa. Em 2016, uma corte no Reino Unido considerou que a legislação que permitiu que Miranda fosse enquadrado como terrorista é incompatível com a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. A decisão foi uma consequência da análise de um recurso interposto pelo político do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) relacionado a sua detenção.
A entidade também rejeitou a definição de terrorismo usada pelos advogados do governo no processo e esclareceu que a detenção de jornalistas, como no caso de Miranda, por parte das forças da ordem, pode colocar em risco a própria atividade jornalística como um todo.
Em seu parágrafo 77, a sentença da corte de apelações considerou que a detenção de Miranda “constituiu uma interferência indireta à liberdade de imprensa”. Igualmente, a decisão reconheceu, no episódio, “o potencial desencorajamento de futuras fontes jornalísticas que desejem permanecer anônimas”.
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Em 2013, junto a seu companheiro Greenwald, Miranda trabalhou na publicação de uma série de reportagens sobre atividades estrangeiras de espionagem à entidades públicas e políticos brasileiros.
Em 2014, o jornal britânico The Guardian ganhou o prêmio Pulitzer de Serviço Público devido às investigações sobre a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, a partir dos arquivos fornecidos por Snowden, ex-funcionário terceirizado da entidade, em que Greenwald foi o principal contribuidor.
Jean Wyllys, também do PSOL, decidiu não tomar posse de seu terceiro mandato como deputado federal alegando ser alvo de ameaças de morte. No Twitter, David Miranda expressou: “Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho [uma favela no Rio de Janeiro]”.
Portanto, ainda que Miranda tenha sido parado no aeroporto londrino em 2013, não existe, até a atualização deste artigo em 10 de junho de 2019, nenhuma acusação formal de terrorismo contra o político brasileiro no Reino Unido; o poder judiciário local concluiu que sua atividade não pode ser considerada como ato terrorista e que sua detenção foi uma interferência à liberdade de imprensa.
EDIT 10/06: artigo atualizado com novas versões.