Não, ator que interpretou o demônio em desfile da Gaviões da Fiel não morreu carbonizado

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  • Publicado em 11 de março de 2019 às 19:17
  • Atualizado em 11 de março de 2019 às 19:17
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  • Por AFP Brasil
Uma publicação compartilhada quase 10 mil vezes nas redes sociais afirma que o homem que interpretou o demônio na comissão de frente da escola de samba Gaviões da Fiel no desfile do Carnaval de 2019 teria morrido carbonizado como resposta a sua atuação na avenida. Contudo, o rapaz não morreu e se encontra bem.

A montagem de um texto com uma imagem de um carro carbonizado e a do ator vestido para o desfile estava acompanhada da descrição “Deus é Deus”.

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Captura de tela feita em 8 de março de 2019 mostra uma publicação no Facebook que alega que o integrante da comissão de frente da Gaviões da Fiel morreu em um acidente
 

Junto com as duas imagens vem o seguinte texto: “Morreu nesta segunda (4) o personagem que fez o papel do diabo vencendo Jesus em um desfile da escola de samba Gaviões da Fiel. Segundo informações, o homem morreu em um acidente automobilístico na grande São Paulo. Assim que vídeos começaram a circular na Internet, a reação negativa dos internautas foi imediata. Jesus nunca perdeu para o diabo, pelo contrário, Jesus venceu o diabo no deserto e disse que ‘o diabo já está julgado’. Ninguém zomba de Deus”.

Outras postagens similares foram acompanhadas por frases como Deus não se deixa escarnecer, Esse é o resultado de quem brinca com Deus, Deus não é brincadeira não, e Olha aí, com Deus não se brinca.

Contudo, a alegação é falsa e o ator que interpretou o diabo na avenida está bem, mas suspendeu suas contas nas redes sociais para se preservar, de acordo com a confirmação à AFP do coreógrafo da comissão de frente da Gaviões da Fiel, Edgar Junior: “O rapaz que fez a comissão de frente prefere ficar, por enquanto, anônimo. É melhor para ele, para a família dele, para o trabalho dele”, indicou.

As ameaças começaram a ser feitas após o desfile da escola, na madrugada de 3 de março, e se intensificaram “na terça-feira, antes da apuração [das notas]. Na quarta, quinta, [surgiram] mais algumas coisas graves, algumas notícias falsas”, afirmou o coreógrafo.

A coação focava principalmente no ator que interpretou o demônio na avenida, e algumas pessoas pediam a Edgar Junior que entregasse “o diabo para a gente”: “vamos fazer justiça com as nossas mãos”, indicam comentários. O coreógrafo, inclusive, foi alvo de intimidações, chegando a sofrer insultos nas ruas.

A equipe de checagem da AFP no Brasil constatou que a imagem usada na montagem para supostamente mostrar o acidente que provocou o falecimento do rapaz é, na verdade, de 2018. A fotografia foi feita em 3 de maio após uma batida na rodovia BR-470, em Pouso Redondo, Santa Catarina. A colisão se deu entre um caminhão e um carro, cujo motorista faleceu no local.

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Captura de tela feita em 11 de março de 2019 mostra uma matéria que traz a fotografia usada na montagem da notícia falsa

 

Neste vídeo, que também mostra o suposto falecimento do integrante da comissão de frente, publicado em 5 de março e com quase 2 mil compartilhamentos, é usada a foto de outro acidente, também de 2018. A colisão ocorreu em 5 de fevereiro daquele ano na Avenida do Estado, em São Paulo, quando um carro em alta velocidade atingiu um caminhão.

A fotografia do homem vestido de diabo que aparece na notícia falsa foi tirada no desfile no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. A escola de samba Gaviões da Fiel levou para a avenida o enredo “A saliva do santo e o veneno da serpente”, em uma releitura do que apresentou em 1994, sobre o tabaco.

Edgar fez questão de ressaltar à AFP que, ao fim, “o Bem vence. Na hora em que o diabo coloca [Jesus] no chão, crucificado, relembra que todos nós o crucificamos todos os dias. Em seguida, Jesus renasce, mostrando a sua luz. É nítido na coreografia que o Bem venceu. Porém, para o Bem vencer, às vezes tem que apanhar”.

Em resumo, a notícia sobre o suposto falecimento do integrante da comissão de frente é falsa, conforme confirmado pelo coreógrafo, e as imagens utilizadas para ilustrar o acidente ocorrido com o integrante da comissão são, na realidade, de 2018.

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