Na verdade, o vídeo foi gravado em uma praia de Portugal

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  • Publicado em 10 de outubro de 2019 às 23:17
  • Atualizado em 1 de novembro de 2019 às 17:03
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  • Por AFP Brasil
Publicações compartilhadas milhares de vezes em redes sociais, nesta quinta-feira, 10 de outubro, garantem que um vídeo mostra um navio despejando petróleo na região nordeste do Brasil, onde manchas de óleo de origem desconhecida têm poluído dezenas de praias desde o início de setembro. No entanto, a gravação viralizada foi filmada perto da cidade portuguesa de Porto em abril deste ano. Segundo a organização responsável pelo navio, a substância despejada na água era areia.

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Captura de tela feita em 10 de outubro de 2019 mostra publicação viralizada no Facebook

“Para prejudicar o governo Bolsonaro, tocaram [sic] fogo na Amazônia, agora estão despejando petróleo no Nordeste”, diz uma das publicações, compartilhada mais de 800 vezes no Facebook.

“E os governadores do Nordeste não vê [sic] nada de errado por estarem calados??”, diz outra, que soma mais de 15 mil compartilhamentos.  

As postagens se referem às diversas manchas de petróleo que, desde o início de setembro, apareceram em mais de 130 praias da região Nordeste. Em entrevista concedida à AFP, especialista em Oceanografia classificou a contaminação como um “desastre sem precedentes”

No entanto, o vídeo viralizado nas redes sociais não tem qualquer relação com o líquido preto que tem manchado as praias brasileiras.

Utilizando a ferramenta InVID, a equipe de checagem da AFP submeteu a gravação a uma busca reversa no Google, descobrindo que a mesma já havia sido publicada no Instagram em 30 de abril deste ano — meses antes das manchas aparecerem na costa brasileira.

A gravação foi postada pelo perfil Diz Não Ao Paredão, um movimento cívico de preservação ambiental, com a seguinte legenda: “Cenário da Praia de Matosinhos hoje, durante as dragagens de manutenção do @portodeleixoes”.

A praia de Matosinhos, identificada na legenda, fica localizada na área metropolitana da cidade de Porto, em Portugal.

Uma pesquisa no Instagram com a localização da praia portuguesa levou a uma outra imagem, compartilhada também em 30 de abril, que aparenta mostrar o mesmo navio despejando uma substância escura.

Além disso, é possível identificar na gravação viralizada algumas crianças vestindo uma camisa amarela com um símbolo redondo nas costas. A mesma blusa é utilizada pela escola de surf Linha de Onda, que dá aulas em Matosinhos —como visto em diversas publicações em seu Instagram (1, 2).

Contatado via e-mail pelo AFP Checamos, um representante do perfil Diz Não Ao Paredão afirmou que as imagens mostram uma operação de dragagem realizada no Porto de Leixões  — localizado ao lado da praia de Matosinhos  — e que a substância vista no vídeo não é petróleo, “mas um fundo com acumulação de vários detritos”.

De fato, em 30 de abril deste ano, o perfil do Porto de Leixões no Facebook publicou uma nota informando sobre a realização de atividades de dragagem na praia em questão e identificou a substância como areia.

“A operação que decorre hoje, e visível a partir da praia de Matosinhos, enquadra-se numa ação regular de deposição de areias de qualidade balnear”, escreveu.

Procurada por e-mail, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), reiterou a informação. “As imagens levam a pensar que se trata de um ato poluente, mas não! Trata-se duma operação de dragagem de manutenção no canal de entrada do porto de Leixões”, disse em nota. “A imagem que faz parecer sedimentos negros poluentes é, de facto, de  areias de qualidade balnear (classe 1)”, acrescentou.

A dragagem é o serviço de limpeza, alargamento ou remoção de material do fundo de rios, lagoas, mares, baías ou canais para permitir, por exemplo, a navegabilidade em áreas de porto.

Em resumo, é falso que o vídeo viralizado mostre um navio despejando petróleo em uma praia da região nordeste do Brasil. As imagens mostram uma operação de dragagem realizada na praia de Matosinhos, em Portugal, em abril deste ano.

EDIT 01/11: Acrescenta nota da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL)

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