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Na verdade, não há uma pesquisa da "Universidade St. Austin" sobre a relação entre a ingestão de fluido vaginal e imunidade ao câncer
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- Publicado em 12 de julho de 2019 às 20:48
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Nigéria, Mayowa TIJANI, AFP Brasil
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Uma publicação viralizou no Facebook (1, 2, 3 e 4) e no Twitter (1 e 2), sendo compartilhada quase 20 mil vezes, afirmando que “cientistas da Universidade St. Austin, na Carolina do Norte, investigaram os benefícios do consumo de muco vaginal ou cervical e os resultados foram surpreendentes”. A postagem acrescenta que “estes fluidos contêm níveis elevados de proteína ativa até 10 minutos depois de deixar o corpo feminino”.
Compartilhada com uma ilustração, a publicação assinala que “o fluido vaginal é rico em proteínas, sódio, vitaminas como C1, C2, C4, VC e outros”. Também lista outros benefícios de ingerir o líquido vaginal, incluindo a “prevenção do câncer de próstata” e o fato de tornar “dentes e ossos mais fortes”.
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A mesma postagem, também citando a Universidade St. Austin, foi compartilhada em inglês no Facebook e Twitter, além de ter circulado em vários sites da África (1 e 2) e em espanhol.
As publicações geraram uma série de respostas, muitas delas com tom humorístico. Alguns usuários postaram links para artigos sobre os altos níveis de lactobacilos, uma bactéria probiótica comumente usada em produtos de saúde e que é encontrada na vagina.
Entretanto, as afirmações feitas na postagem não estão corretas. Não existe nenhuma “Universidade St. Austin” na Carolina do Norte - pode-se encontrar um mapa das instituições norte-americanas aqui.
Na realidade, existe uma Universidade St. Augustine na própria Carolina do Norte, mas esta não publicou nenhuma pesquisa que ligue o consumo de fluido vaginal e a imunidade ao câncer.
Existe alguma ligação entre o sexo oral e o câncer?
O ator e vencedor do Oscar Michael Douglas causou agitação em 2013 quando disse em uma entrevista que seu câncer de garganta foi “causado por HPV, que, na verdade, teve origem no sexo oral”.
O HPV é o Papilomavírus Humano, que infecta a pele ou as mucosas (oral, genital ou anal), de mulheres ou de homens, provocando verrugas e até mesmo câncer, dependendo do tipo de vírus. O HPV é uma infecção sexualmente transmissível (IST).
De acordo com um folheto informativo publicado pelo Serviço Nacional de Saúde britânico, “o HPV não causa câncer diretamente, mas muda as células infectadas (por exemplo, na garganta ou no colo do útero) e essas células podem se tornar cancerígenas. Se essas mudanças celulares ocorrerem, isto pode levar muito tempo, até mesmo décadas. Poucas pessoas infectadas com HPV desenvolvem câncer. Em nove de cada 10 casos a infecção é eliminada naturalmente pelo corpo dentro de dois anos”.
Segundo um artigo de 2012 intitulado “Papilomavírus humano como fator de risco para o carcinoma bucal e de orofaringe”, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço: “Diversos estudos têm demonstrado que a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) é capaz de intensificar ou alterar a ação carcinogênica do álcool e do tabaco passando a ser considerado um fator de risco para o câncer de cabeça e pescoço, principalmente o de boca e orofaringe (porção posterior da língua, tonsila, e parte visível da faringe)”.
Este texto também afirma que é possível confirmar que a infecção viral, como o HPV, “precede o desenvolvimento deste tipo de câncer [bucal e de orofaringe]”, o vírus está “presente nas lesões tumorais ou no interior de suas células” e ainda que o vírus ou “suas proteínas são capazes de promover a formação de tumores”.
Em resumo, não existe nenhuma “Universidade St. Austin” na Carolina do Norte, mas uma Universidade Saint Augustine, sendo que esta não publicou pesquisas a respeito da ingestão de fluidos vaginais e a imunidade ao câncer. O que existe são estudos sobre o risco do desenvolvimento de doenças a partir de relações sexuais orais que podem, em alguns casos, causar o câncer.