Na verdade, essa tecnologia chegou ao Brasil em 2011
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- Publicado em 26 de setembro de 2019 às 22:35
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- Por AFP Brasil
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“Chega ao Brasil Ultrassom que destrói células cancerígenas sem cirurgias. E o Melhor, pelo SUS. Obrigado Bolsonaro. Obrigado Israel [sic]”, dizem as publicações (1, 2, 3, 4, 5), que, por vezes, são acompanhadas de uma fotografia que mostra um equipamento e alguns médicos ao fundo.
Por meio do mecanismo de busca reversa*, a equipe de verificação da AFP no Brasil encontrou a fotografia usada na postagem viral em uma matéria publicada pelo portal de notícias G1 em 14 de abril de 2011 cujo título era “Instituto do Câncer de SP apresenta ultrassom capaz de destruir tumores”.
As informações são muito semelhantes às viralizadas nas redes sociais, mas não correspondem à data atual. As postagens relacionam a chegada do equipamento israelense com o fato do presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o governo em 1º de janeiro deste ano, e Israel terem uma relação próxima.
Entretanto, a matéria de 2011 já dizia: “O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) inaugurou nesta quinta-feira (14) um serviço de ultrassom - ondas sonoras de alta frequência que o ouvido humano é incapaz de escutar - para destruir células cancerígenas, sem a necessidade de cirurgia e anestesia. O novo equipamento estará disponível à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”.
De acordo com as informações, o tratamento não serve para qualquer paciente e é necessária a realização de uma análise para saber quem pode passar pela ultrassom. “Dois fatores que são levados em conta na escolha das pacientes são o local do tumores e o tamanho deles”, disse em 2011 o médico do Icesp Marcos Roberto de Menezes ao G1.
Por e-mail, a assessoria de imprensa do Icesp confirmou à equipe de verificação da AFP que a tecnologia que usa o ultrassom realmente chegou em 2011 às suas instalações.
Outros sites de notícia também publicaram artigos a respeito desta tecnologia, como a Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, e, nestes, mencionam o nome do aparelho, HiFU (ultrassom com foco de alta intensidade, na sigla em inglês).
Usos do ultrassom
O AFP Checamos também entrou em contato com a assessoria de imprensa do HiFU e obteve a seguinte resposta do médico Marcelo Bendhack, presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia: “No Brasil existe, sim, um ultrassom que destrói células cancerígenas sem cirurgia. [...] Especificamente, podemos falar do tratamento com ultrassom para o câncer de próstata, que vem sendo aplicado desde 19 de janeiro de 2011 no país. Trata-se do HiFU”.
Segundo informou, a tecnologia “está disponível na rede particular, e em alguns casos a Justiça determina que o procedimento seja pago pela assistência médica privada. Em São Paulo, a técnica é utilizada no Centro de Referência em Saúde do Homem e é o único do país que atende pelo SUS”.
No entanto, em nota enviada ao AFP Checamos por e-mail, o Ministério da Saúde informou que “o ultrassom de alta intensidade (Hifu) não está contemplado” na Tabela de Procedimentos, Medicamentos e Órteses, Próteses e Materiais, o que impede que o mesmo seja fornecido pelo Sistema Único de Saúde.
Diferentemente da radioterapia, cujo tratamento usa radiações ionizantes para destruir um tumor ou impedir que suas células aumentem, a ultrassonografia destrói células cancerígenas a partir de ondas sonoras de alta frequência.
Em resumo, a chegada da tecnologia de ultrassom no tratamento do câncer ao Brasil não se deu durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. Segundo as fontes consultadas pelo AFP Checamos, este equipamento veio em 2011 para o país e há divergências no que se refere a sua oferta pelo SUS.
*Uma vez instalada a extensão InVid no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.