
Este vídeo retrata um protesto de mulheres no Irã, não no Afeganistão
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- Publicado em 20 de agosto de 2021 às 19:05
- 3 minutos de leitura
- Por Valentina DE MARVAL, AFP Chile, AFP Brasil
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“No Afeganistão as mulheres saem em protesto contra o talibã, não existe nada mais corajoso que mulheres em fúria”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), Twitter e Instagram.
“Milhares de mulheres saem às ruas do Afeganistão protestando contra a restrição de seus direitos pelo regime do Talibã: ‘Trabalho, educação e participação política são direitos de todas as mulheres’”, escreveu outro perfil ao publicar a sequência de 30 segundos.

Alegação semelhante também circula em espanhol, inglês e francês.
No entanto, após o retorno dos talibãs ao poder no Afeganistão, no último dia 15 de agosto, alguns usuários (1, 2, 3) compartilharam o mesmo vídeo assegurando que as imagens foram registradas na cidade de Qom, no centro do Irã.
Com base nessa informação, uma busca por palavras-chave no Google e no Twitter levou a estas fotos feitas pela agência de notícias iraniana ISNA, com a legenda:
“Na manhã de segunda-feira, 16 de agosto, um grupo de mulheres afegãs se reuniu na Praça Astana, em Qom, perto do santuário de Hazrat Fatemeh Masoumeh. Seu protesto foi contra a ineficácia do governo afegão, o retorno dos talibãs ao poder e o apoio de alguns países”.
Correspondentes da AFP em Teerã detalharam que as mulheres gritavam “Morte aos talibãs!”, em farsi. Esse idioma é falado principalmente no Irã e no Afeganistão.
Além disso, sinalizaram que o lugar visto no vídeo poderia ser a rua Enghelab (Revolução, em farsi), localizada em Qom.
Embora não haja registros dessa rua no Google Street View, há fotografias disponíveis na internet, nas quais é possível identificar os mesmos elementos vistos no vídeo. Por exemplo, a fileira de bustos em tom dourado e a disposição de pequenos arbustos entre as esculturas:

Em um dos vídeos com maior qualidade também é possível identificar as mesmas lojas vistas em uma das fotos de Qom:

Uma busca pelas palavras-chave “Qom protesto talibãs”, em farsi, levou a ainda mais vídeos de mulheres vestidas de preto protestando com cartazes e a bandeira do Afeganistão (1, 2). O veículo Independent Persian, por exemplo, tuitou que durante a manifestação, “mulheres afegãs” gritavam: “Morte aos talibãs”.
As imagens começaram a circular após talibãs voltarem a controlar grande parte do território afegão, ocupando, também, o palácio presidencial em Cabul, em 15 de agosto.
O movimento radical governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, com um regime caracterizado pela imposição estrita da sharia - lei islâmica-, execuções e amputações públicas, reiteradas violações aos direitos humanos e a privação dos direitos fundamentais das mulheres.
Em 19 de agosto, manifestantes saíram às ruas de Cabul levantando a bandeira tricolor afegã - e não a bandeira branca talibã -, coincidindo com as celebrações do Dia da Independência.