As falas atribuídas aos jornalistas não foram feitas, mas o comentário do portal G1 foi publicado no Facebook
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 12 de setembro de 2019 às 20:55
- 5 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“A REDE #GLOBOLIXO É A MAIOR INIMIGA DA FAMÍLIA TRADICIONAL BRASILEIRA !!! ESTE ESGOTO MIDIÁTICO TRAVESTIDO DE EMISSORA, INCENTIVA O GAYZISMO, O ANTICRISTIANISMO, [...] ATACA A POLÍCIA , A LAVA JATO E AS AUTORIDADES JUDICIAIS HONRADAS E DEFENDE BANDIDOS, FOMENTA O ÓDIO ENTRE PAIS E FILHOS, DIVIDE NÚCLEOS FAMILIARES E OFENDE A MORAL E OS BONS COSTUMES... VAMOS BOICOTAR ESTE LIXO !!! [...] [sic]” e “A Rede Globo tem ultrapassado todos os limites morais, de princípios e agora civilizatórios, no Brasil. #globolixo #foraglobo #GLOBOLIXO”, dizem as legendas de algumas publicações (1).
O AFP Checamos verificou as três declarações atribuídas à emissora no meme viralizado e que leva acima os dizeres: “Em apenas 24 horas, Rede Globo ataca crianças, o presidente e todo o Brasil”.
Ofensa a criança
“Moleque imbecil, vai se alfabetizar”, lê-se em uma suposta captura de tela junto com a foto do menino de nove anos Ivo César Gonzaga, que desfilou no dia 7 de setembro ao lado do presidente Jair Bolsonaro em Brasília durante as celebrações do Dia da Independência.
Noticiado pela imprensa, o comentário chamando a criança de "imbecil" foi feito em uma publicação da matéria do desfile da Independência na página oficial do portal G1 no Facebook , e já foi apagado.
Logo depois, o portal admitiu em nota que “a conta do G1 foi indevidamente utilizada para um comentário ofensivo sobre o menino que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro no desfile de 7 de setembro”, e acrescentou: “O G1 repudia o uso de sua conta e anuncia que vai investigar o ocorrido e tomar as medidas cabíveis”.
Em 10 de setembro de 2019, uma série de veículos da imprensa, entre eles a coluna da jornalista Mônica Bergamo no site da Folha de S. Paulo, noticiou a demissão do responsável pela ofensa.
A equipe do AFP Checamos entrou em contato por e-mail com a assessoria da TV Globo, que confirmou de forma sucinta: “O funcionário do G1 foi demitido”.
O pulmão de Bolsonaro
A segunda imagem atribuiu ao jornalista Mario Sergio Conte a seguinte declaração: “A facada que o Presidente da República levou há um ano deveria ter perfurado o seu pulmão e o levado à morte”.
Mas essa atribuição é equivocada. Alguns sites que publicaram a fala, por exemplo, usaram como prova o seu texto veiculado no site da Folha de S. Paulo, “Sol negro no céu da pátria”.
Lendo a coluna completa, pode-se ver que o jornalista está citando o escritor americano Benjamin Kunkel. Inclusive, a parte usada para comprovar a suposta fala de Conti é uma citação direta de um texto do americano e não afirma que o presidente Bolsonaro deveria ter morrido.
“Kunkel entende do assunto: em 2014, escreveu uma peça de teatro, ‘Buzz’, sobre o aquecimento global. O ensaio é circunstanciado, mas o que chama a atenção são duas frases bombásticas, nas quais a violência irrompe. Ei-las: ‘Entre os grandes desastres ecológicos do século 21 está o fato de o assassino que esfaqueou Bolsonaro no peito, na campanha presidencial de 2018, não ter tido sucesso em matar o homem, a despeito de a lâmina ter entrado num pulmão. Esse julgamento pode soar sanguinolento, mas qual pulmão você prefere, o do planeta ou o de Bolsonaro?’”, replica o jornalista.
De fato, Kunkel publicou isto, não Conti. O AFP Checamos encontrou o ensaio, disponível on-line desde 4 de setembro deste ano, aqui reproduzido no original:“Among the great ecological disasters of the 21st century is the fact that the assassin who stabbed Bolsonaro in the chest during his 2018 presidential campaign did not succeed in killing the man, in spite of the blade’s having penetrated a lung. That judgment may sound bloodthirsty, but whose lungs do you prefer, the planet’s or Bolsonaro’s?”.
Nojo do país
Por fim, a última fotografia mostra o também jornalista Guga Chacra com a afirmação: “Sinto nojo e vergonha do Brasil e de tudo o que a figura do Presidente da República representa”.
A fala imputada a Guga Chacra na publicação viralizada, na realidade, não existiu. No programa “Em Pauta”, da GloboNews, que faz parte do Grupo Globo, o jornalista estava comentando o caso do ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, ter dito em evento que a primeira-dama da França, Brigitte Macron, era “feia mesmo”.
Sobre isso, Guga Chacra comentou no programa: “Que nojo, que asco da declaração do ministro da Fazenda do Brasil, Paulo Guedes. É patético. Ele sabe que é errado, que não é uma brincadeira, é uma ofensa, um insulto totalmente infeliz. [...] É inacreditável. As pessoas perderam a noção do que é educação. Um ministro da Fazenda, um presidente da República não têm mais ideia do que é educação, do que é respeito, de como se comportar […] ver um ministro da Fazenda dar uma declaração dessa, assim, consciente do que está falando… que nojo, que asco, que falta de respeito, que falta de educação. [...] Que falta de exemplo, que terror que está acontecendo no Brasil. Que vergonha”.
Em nenhum momento o jornalista diz ter nojo e vergonha do país ou do presidente da República. Inclusive, Guga Chacra se pronunciou sobre o caso em sua conta no Twitter.
Oi, nunca disse ter nojo do Brasil. Tem uma fake news me atribuindo esta declaração. Os responsáveis serão processados. Disse claramente ter nojo de insultos proferidos por autoridades à primeira-dama francesa. Basta ver o vídeo. Discordar, tudo bem. Mas difamação é crime ?❤??
— Guga Chacra ?????????? (@gugachacra) September 10, 2019
Em resumo, a publicação atribui falas que não foram feitas aos jornalistas Mario Sergio Conti e Guga Chacra. No caso do menino que desfilou com o presidente Bolsonaro, por sua vez, o comentário efetivamente foi feito, mas a empresa tomou as providências cabíveis e declarou ter demitido o responsável.