Estas imagens foram gravadas a mais de 350 km de onde nove pessoas morreram em tumulto durante ação policial
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- Publicado em 6 de dezembro de 2019 às 14:22
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- Por AFP Brasil
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“Quanto ao terrível episódio em que morreram 9 no baile funk em Paraisópolis. Estão falando que os culpados são os políciais, veja neste vídeo quem começou a confusão [sic]”, diz a legenda que acompanha o vídeo em uma das publicações no Facebook.
“Falar que morreram 9 na Paraisópolis é fácil… Falar que foi culpa da PM é fácil...Mas ninguém mostra como começou”, dizem outras postagens (1, 2, 3), compartilhadas desde 2 de dezembro.
As imagens não foram filmadas, no entanto, na segunda maior favela da cidade de São Paulo.
Uma busca reversa* por capturas de tela da gravação leva ao mesmo vídeo publicado em 2 de dezembro deste ano em uma reportagem do site G1. Segundo o texto, as imagens foram gravadas no último domingo, 1º de dezembro, na cidade de Guariba, a mais de 350 km de distância de Paraisópolis.
Procurada pela equipe de checagem da AFP, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) confirmou que o vídeo foi gravado em Guariba, e não em Paraisópolis, no domingo. Segundo a instituição, os agentes foram à Avenida Pascoal Lucizani, no bairro de Vila Garavelo, atender a um chamado por “perturbação de sossego”.
“No local, ocorria uma festa com pessoas na rua, som alto e uma motocicleta que estava sendo acelerada. Quando os policiais se aproximaram para checar a moto e pedir a diminuição do volume, os participantes começaram a jogar garrafas nos PMs [policiais militares] e na viatura. Um policial ficou ferido e o veículo ficou arranhado pelos estilhaços”, informou a SSP à AFP.
Segundo a Secretaria, o fato foi registrado como desacato pela Delegacia de Polícia de Guariba.
O caso também foi reportado pela TV Record. No vídeo, transmitido pela emissora em maior resolução, é possível identificar nitidamente no canto superior direito da tela a marcação da data e do horário em que as imagens foram gravadas: 1/12/2019, às 18h23, horas após os acontecimentos de Paraisópolis.
Paraisópolis
Na madrugada do último sábado, 30 de novembro, para domingo, 1º de dezembro, nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, morreram aparentemente pisoteados durante uma ação da Polícia Militar em um baile funk na favela de Paraisópolis.
Segundo a PM, os agentes realizavam uma operação na área, quando dois homens atiraram contra eles. Eles teriam, em seguida, fugido em direção ao baile funk, provocando o tumulto que resultou nas mortes.
Moradores da favela denunciam, no entanto, uma versão diferente. Segundo eles, os frequentadores do baile foram encurralados e agredidos por policiais.
O Comando da Polícia Militar afirmou que vai investigar a ação para determinar se houve excessos. No último dia 4, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse que, “aparentemente”, houve um “erro operacional grave” por parte da PM no caso.
Em resumo, é falso que o vídeo viralizado mostre moradores de Paraisópolis agredindo policiais antes da operação que terminou com nove mortes na madrugada de 1º de dezembro. As imagens foram gravadas horas depois, no próprio dia 1º, em Guariba, cidade localizada a mais de 350 km da favela paulistana.