Escolhida para produzir urnas eletrônicas, Positivo não foi comprada pela chinesa Lenovo

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  • Publicado em 29 de julho de 2020 às 19:43
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  • Por AFP Brasil
“Atenção para o golpe”, alertam publicações compartilhadas milhares de vezes em redes sociais no final deste mês de julho, afirmando que a empresa de tecnologia Positivo, vencedora da licitação para fabricar urnas eletrônicas para as eleições de 2022, foi vendida à multinacional chinesa Lenovo. Embora rumores de uma possível compra da Positivo pela Lenovo tenham sido reportados em 2010, a transação não foi concretizada.

“ATENÇÃO PARA O GOLPE: O TSE informou que a empresa Positivo, venceu a licitação para compra de novas urnas eletrônicas que serão utilizadas nas eleições de 2022. O valor do contrato é de R$ 799 milhões. O que muitos não sabem, é que a Positivo foi vendida para a Chinesa, Lenovo [sic], diz tuíte compartilhado mais de 5.500 vezes desde o último dia 27 de julho.

A alegação aparece em diversas outras postagens no Facebook (1, 2, 3), Instagram e Twitter, somando mais de 8 mil compartilhamentos em cerca de 24 horas. 

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Captura de tela feita em 28 de julho de 2020 de mensagem publicada no Twitter

No último dia 23 de julho, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) efetivamente informou que a empresa Positivo Tecnologia venceu a licitação realizada para a fabricação de novas urnas eletrônicas modelo 2020.

Devido ao tempo de fabricação e programação, afirmou o TSE, as urnas devem ser utilizadas apenas nas eleições de 2022. O valor da proposta selecionada pela corte realmente é de R$ 799 milhões.

Não é verdade, contudo, que a empresa brasileira de tecnologia Positivo tenha sido vendida à multinacional chinesa Lenovo.

Uma busca no Google pelos termos “Positivo + Lenovo” mostra que o rumor de que a companhia brasileira teria sido vendida à chinesa foi amplamente reportado em abril de 2010 (1, 2).

A informação, divulgada pela agência oficial de notícias chinesa Xinhua foi, contudo, negada pela Positivo na época (1, 2).

Em 2012, a Lenovo comprou, na verdade, a brasileira Comércio de Componentes Eletrônicos (CCE), concorrente da Positivo.

Em evento de apresentação da nova linha de produtos da Positivo no mesmo ano, o presidente da companhia, Hélio Rotenberg, comentou a compra da CCE, deixando claro que a Lenovo havia tido a intenção de comprar a Positivo, mas que a transação não foi concretizada.

“Foi um movimento mais ou menos natural, no momento em que não conseguiram nos comprar, procuraram outro”, disse, segundo reportado pela mídia.

Procurada pelo AFP Checamos em 28 de julho, uma representante da Positivo confirmou que a informação compartilhada nas redes sociais não procede. “A Positivo não foi vendida para a Lenovo, continua nacional”, afirmou, em conversa telefônica.

De fato, uma busca no site da Receita Federal mostra que o quadro de sócios e administradores da Positivo Tecnologia é composto por brasileiros.

Utilizada em eleições no Brasil desde 1995, as urnas eletrônicas têm sido alvo frequente de desinformações nas redes sociais, alimentadas pela crença, defendida diversas vezes pelo presidente Jair Bolsonaro, de que o sistema digitalizado permitiria fraudes no processo eleitoral.

A alegação de que a Positivo foi vendida à Lenovo também ganha força em um momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alega que outra companhia chinesa, a gigante de telecomunicações Huawei, estaria “espionando” para Pequim.

Em resumo, é falso que a empresa Positivo Tecnologia, vencedora da licitação para produzir urnas eletrônicas para as eleições de 2022, tenha sido vendida à chinesa Lenovo. Rumores de uma possível compra foram reportados em 2010, mas a transação não foi concretizada, como confirmou um representante da companhia ao AFP Checamos.

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