É montagem a capa da Veja em que o ex-presidente Lula faz “revelações” sobre quatro ministros do STF
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- Publicado em 30 de abril de 2021 às 21:52
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- Por AFP Brasil
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“Lula desabafa: ‘eu botei o Tóffoli no STF, o Gilmar me deve favores, sou amigo do Marco Aurélio, e Lewandowsky nunca me traiu’”, diz o texto da suposta capa publicada pela revista Veja em postagens que somam milhares de compartilhamentos no Facebook em 2019 (1), 2020 e que seguem circulando em 2021 (1), inclusive no Instagram (1, 2) e no Twitter.
Alguns usuários tecem comentários sobre a polêmica afirmação, como: “Nunca imaginei compartilhando essa revista , mas fatos são fatos!!!!” (1) e “Resta alguma dúvida ? Ed. Abril 2018” (1).
No canto superior direito, abaixo do nome da revista, há as seguintes informações: número 1.572, edição especial e “Abril 28 2018”.
Uma busca no acervo da Veja pelas edições publicadas no mês de abril de 2018 revela, contudo, que não houve comercialização da revista na data mencionada na imagem viralizada, mas, sim, nos dias 4, 11, 18 e 25 de abril daquele ano.
Além disso, as edições dessas datas sequer têm o número 1.572, ou próximo a isso, mas foram as 2.576, 2.577, 2.578 e 2.579. Uma nova pesquisa no mesmo acervo mostrou que a edição 1.572 foi publicada, na verdade, 20 anos antes, em 11 de novembro de 1998.
Por meio de uma busca pela imagem viralizada, associando ao nome do ex-presidente, foi possível constatar que esta realmente foi capa de uma edição da Veja, com a diferença que o ex-presidente não estava com lágrimas no rosto e nem mesmo falava sobre ministros do STF.
Publicada em 29 de julho de 2015, a edição de número 2.436 da revista trazia a seguinte chamada: “A vez dele. Amigo de Lula, o empreiteiro Léo Pinheiro decidiu contar ao Ministério Público tudo o que sabe sobre a participação do ex-presidente no Petrolão e como o filho Lulinha ficou milionário”.
Uma pesquisa no Google pelos termos vistos na suposta capa da Veja, por sua vez, não leva a nenhuma declaração do ex-presidente Lula.
Os ministros do STF
Dos quatro ministros do STF mencionados nas postagens das redes sociais, Lula indicou dois deles durante o seu período na Presidência (2003-2010): Ricardo Lewandowski, em 2006, e Dias Toffoli, em 2009. Os outros dois citados, Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes, foram indicados, respectivamente, por Fernando Collor (1990) e Fernando Henrique Cardoso (2002).
As publicações voltaram a circular em 2021 em meio à decisão do STF, tomada no último dia 15 de abril, que confirmou a anulação das condenações de Lula no âmbito da Operação Lava Jato.
Preso em abril de 2018 pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula foi solto em novembro de 2019, após a decisão do Supremo que derrubou a prisão em segunda instância.
O ex-presidente aguardava o resultado de recursos em liberdade até o último dia 8 de março, quando o ministro Edson Fachin anulou todas as suas condenações relacionadas à Operação Lava Jato por considerar que os casos foram julgados por uma vara sem competência.
Acompanharam Fachin os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Rosa Weber e Cármen Lúcia, enquanto Marco Aurélio Mello, Luiz Fux e Nunes Marques foram contrários.
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