McDonald’s parou de usar hidróxido de amônio na carne, mas não por ação judicial de Jamie Oliver
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 12 de outubro de 2021 às 16:57
- Atualizado em 14 de outubro de 2021 às 18:47
- 4 minutos de leitura
- Por Marie GENRIES, AFP Bélgica, AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2024. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“O velho mundo está caindo. McDonald ' s perde um julgamento McDonalds perde uma batalha legal com o chef Jamie Olivier, que provou que a comida que eles vendem não está apta para ser ingerida por ser altamente tóxica”, dizem as publicações, compartilhadas no Facebook (1, 2, 3) ao menos desde 2013.
E continuam: “O chefe Jamie Oliver venceu uma batalha contra a maior cadeia de malvura que existe no mundo. Uma vez que Oliver mostrou como os hambúrgueres são feitos, McDonalds, a franqueadora anunciou que vai mudar a receita”.
As mensagens apontam que, de acordo com Oliver, “as partes gordas da carne são ‘lavadas’ com hidróxido de amônia e depois usadas na confecção do ‘bolo’ de carne para encher o burger”, e acrescentam que “antes desse processo, segundo o apresentador, essa carne já era imprópria para consumo humano”.
Publicações similares circulam em espanhol, inglês e francês.
Na verdade, essa história data de 10 anos atrás e é parcialmente falsa. Embora o McDonald’s tenha anunciado no início de 2012 que deixaria de utilizar carne lavada com hidróxido de amônio, uma mistura de amoníaco gasoso e água, isso não aconteceu como resultado de nenhuma ação movida pelo chef britânico.
Batalha legal?
O chefe britânico é comprometido com a luta contra a obesidade e a “junk food” [comida de má qualidade]. Em 2011, lançou o “Food revolution show”, uma série de programas em que aborda a qualidade dos alimentos de escolas norte-americanas e busca motivar a sociedade a lutar contra a obesidade.
Em abril de 2011, Oliver dedicou um dos episódios do programa a questionar o que chama de “gosma rosa”(“pink slime”): carne picada, feita a partir de restos de carne normalmente não comestível para o ser humano, que é lavada com hidróxido de amônio (no minuto 3’13 do vídeo) para eliminar as bactérias que podem causar doenças, como a salmonela.
Na transmissão, o chef destacou que o amoníaco é um produto químico utilizado, entre outras coisas, para a limpar a casa, e que os pedaços de carne escolhidos costumam ser destinados à alimentação de animais. “Pegamos um produto que seria vendido como comida para cachorro e, depois desse processo, podemos destiná-los a humanos”, diz indignado aos 3 minutos 31 da sequência.
Em janeiro de 2012, o McDonald’s anunciou que desde agosto de 2011 havia deixado de usar carne tratada com hidróxido de amônio em seus hambúrgueres. A rede de “fast food” e a companhia Beef Products Incorporated, que administrava a “carne finamente texturizada” (“finely textured meat”, outra expressão para a “gosma rosa”), disseram que a decisão não teve nada a ver com o programa de Jamie Oliver, segundo divulgou a imprensa naquele momento.
As redes Taco Bell e Burguer King também tomaram uma medida similar no final de 2011.
Em 23 de fevereiro de 2021, porta-vozes de Jamie Oliver disseram à AFP que o chef britânico nunca havia movido uma ação legal contra o McDonald’s.
Por sua vez, em 1º de março de 2021, o McDonald’s dos Estados Unidos disse à AFP: “Desde 2011, o McDonald’s não utiliza carne bovina finamente texturizada em seus hambúrgueres de carne em todo o mundo. Qualquer notícia recente que diga que estamos fazendo isso é falsa”.
“Lavar a carne”
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que “o hidróxido de amônio, INS 527, é um aditivo alimentar com a função de regulador de acidez, autorizado pela RDC n. 45/2010, que dispõe sobre aditivos alimentares autorizados para uso segundo as Boas Práticas de Fabricação (BPF)”.
Contudo, a agência reguladora afirmou que o uso da substância em carnes ou produtos cárneos não está autorizado.
Nos Estados Unidos, o hidróxido de amônio, produzido a partir de uma mistura de água e gás amoníaco, foi considerado seguro para a saúde pela Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA), desde a década de 1980. Seu uso não está sujeito a nenhuma regulação particular.
Na Europa, por outro lado, essa substância está autorizada como aditivo alimentar, como mostra este regulamento do Parlamento Europeu. “A nível europeu, os aditivos alimentares estão estritamente regulados, tanto em seus usos como nas quantidades autorizadas. Essas autorizações são estabelecidas sobre a base de estudos de risco e são atualizadas periodicamente”, disse à AFP um porta-voz da Agência Federal para a Segurança da Cadeia Alimentar (AFSCA) belga.
No entanto, na carne fresca ou nos preparados de carne, o uso do aditivo hidróxido de amônio “não está autorizado”, especificou a AFSCA. De fato, não há autorização para o produto na seção dedicada aos aditivos alimentares autorizados no preparo de carnes.
“O hidróxido de amônio não pode ser utilizado para eliminar a contaminação superficial de produtos de origem animal, como a carne”, confirmou à AFP um porta-voz do Departamento de Saúde e Segurança Alimentar da Comissão Europeia. Ele também especificou que as sobras de carne usadas na “gosma rosa” não podem, em nenhum caso, “serem utilizadas como matéria-prima” para a produção de carne picada e de preparados de carne, portanto, “mesmo sem o uso do hidróxido de amônio, o processo descrito estaria proibido na União Europeia para a produção de hambúrgueres”.
14 de outubro de 2021 Acrescenta posicionamento da Anvisa sobre o uso do hidróxido de amônio no Brasil.