
Não há confirmação oficial de que foi descoberta uma jazida de ouro de 7 mil toneladas no Piauí
- Publicado em 23 de setembro de 2025 às 19:22
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Uma descoberta impressionante aconteceu em Currais, no sul do Piauí: geólogos identificaram uma jazida de ouro estimada em mais de 7.100 toneladas de ouro puro. [...] Se toda essa riqueza fosse extraída, o valor poderia ultrapassar a marca de R$ 4,2 trilhões, um montante capaz de transformar não apenas a economia piauiense, mas também trazer grande impacto para o Brasil”, diz uma das publicações que circulam no Facebook, no Instagram, no Kwai e no TikTok.

A publicação também cita que a área onde estaria localizada a jazida pertence a Luis Rodrigues Filho, ex-vereador de Bom Jesus, no Piauí.
Uma pesquisa pelo nome de Rodrigues junto às palavras-chave “jazida” e “ouro” levou a uma reportagem do veículo Meio News, publicada em maio de 2025. Segundo o texto, o ex-vereador teria contratado o laboratório Solos e Plantas para uma análise do local e as amostras coletadas teriam indicado um teor de 88,82 gramas de ouro por tonelada de solo, considerado alto.
“Com base em estimativas teóricas de volume e densidade do solo, o depósito poderia conter até 7.108 toneladas de ouro. No entanto, a confirmação da viabilidade econômica da extração ainda depende do avanço das pesquisas e de novas análises técnicas”, diz a matéria.
Porém, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB) — empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME) —, a alegação de que uma jazida desse porte tenha sido descoberta em Currais, no Piauí, não tem fundamento técnico.
“Não é possível estimar volume ou teor de uma jazida com base em uma única análise química isolada ou em poucas amostras. A caracterização de uma jazida exige um estudo sistemático, que envolva dados geológicos, petrográficos, analíticos e testemunhos de sondagem, entre outros procedimentos”, disse a instituição à AFP em 18 de setembro.
O SGB, inclusive, chegou a enviar uma equipe à região noroeste do município de Currais — onde estaria localizada a jazida — para coletar amostras das rochas no local. A visita ocorreu de 21 a 24 de maio de 2025, e o estudo envolveu — dentre outros métodos — a análise química das amostras.
Através de um dos métodos utilizados, foram identificados minerais pesados, mas nenhum grão de ouro. As análises químicas das amostras de rochas coletadas também confirmaram a ausência de teores economicamente relevantes de ouro.
“Diante disso, os resultados obtidos até o momento indicam um potencial limitado para mineralizações de ouro na região”, afirmou o Serviço Geológico.
A instituição reforçou, porém, que realizou uma análise preliminar e com “caráter superficial”:
“Esse levantamento não permite concluir pela ausência ou presença definitiva de mineralizações auríferas na área. Para avaliar de forma adequada o potencial mineral da região, são necessários estudos técnicos sistemáticos e pesquisas mais aprofundadas”.
Já a Agência Nacional de Mineração (ANM) informou à AFP que houve um elevado número de requerimentos de pesquisa para minério de ouro no município, “mais de 100” entre maio e junho de 2025. Desses pedidos, 45 receberam autorizações de pesquisa, totalizando mais de 70.000 hectares com pesquisa em curso.
“Contudo, não há relatórios parciais ou finais de pesquisa submetidos à ANM (sequer aprovados) que comprovem a existência de um jazimento desse porte — que multiplicaria as reservas brasileiras, estimadas em 2.500t”, acrescentou a agência. O dado citado consta no Sumário Mineral Brasileiro de 2024.
O AFP Checamos também entrou em contato com o laboratório Solos e Plantas, cuja análise teria indicado um alto teor de ouro no solo, de acordo com as publicações viralizadas. O laboratório afirmou que não poderia compartilhar relatórios ou resultados de clientes sem autorização, devido à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Instituto nega ter divulgado informação
Outras publicações (1, 2) citam como fonte dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Porém, ao AFP Checamos, o instituto afirmou ser uma entidade privada e representante das empresas de mineração, sem relação com a descoberta de jazidas. Por meio de sua assessoria de imprensa, a instituição negou ter divulgado dados sobre a suposta descoberta.