Não há confirmação oficial de que foi descoberta uma jazida de ouro de 7 mil toneladas no Piauí

  • Publicado em 23 de setembro de 2025 às 19:22
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  • Por AFP Brasil
Segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), as reservas de ouro confirmadas e estimadas no Brasil somam cerca de 2.500 toneladas. Desde 13 de maio de 2025, porém, publicações com mais de 130 mil visualizações nas redes sociais e em alguns sites afirmam que foi descoberta uma jazida que, sozinha, contém 7 mil toneladas de ouro puro em Currais, no Piauí. Mas, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), essas alegações não têm fundamento técnico. Uma análise preliminar feita pelo órgão encontrou apenas um potencial limitado para ouro na região.

“Uma descoberta impressionante aconteceu em Currais, no sul do Piauí: geólogos identificaram uma jazida de ouro estimada em mais de 7.100 toneladas de ouro puro. [...] Se toda essa riqueza fosse extraída, o valor poderia ultrapassar a marca de R$ 4,2 trilhões, um montante capaz de transformar não apenas a economia piauiense, mas também trazer grande impacto para o Brasil”, diz uma das publicações que circulam no Facebook, no Instagram, no Kwai e no TikTok.

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Captura de tela feita em 19 de setembro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

A publicação também cita que a área onde estaria localizada a jazida pertence a Luis Rodrigues Filho, ex-vereador de Bom Jesus, no Piauí.

Uma pesquisa pelo nome de Rodrigues junto às palavras-chave “jazida” e “ouro” levou a uma reportagem do veículo Meio News, publicada em maio de 2025. Segundo o texto, o ex-vereador teria contratado o laboratório Solos e Plantas para uma análise do local e as amostras coletadas teriam indicado um teor de 88,82 gramas de ouro por tonelada de solo, considerado alto.

“Com base em estimativas teóricas de volume e densidade do solo, o depósito poderia conter até 7.108 toneladas de ouro. No entanto, a confirmação da viabilidade econômica da extração ainda depende do avanço das pesquisas e de novas análises técnicas”, diz a matéria.

Porém, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB) — empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME) —, a alegação de que uma jazida desse porte tenha sido descoberta em Currais, no Piauí, não tem fundamento técnico.

“Não é possível estimar volume ou teor de uma jazida com base em uma única análise química isolada ou em poucas amostras. A caracterização de uma jazida exige um estudo sistemático, que envolva dados geológicos, petrográficos, analíticos e testemunhos de sondagem, entre outros procedimentos”, disse a instituição à AFP em 18 de setembro.

O SGB, inclusive, chegou a enviar uma equipe à região noroeste do município de Currais — onde estaria localizada a jazida — para coletar amostras das rochas no local. A visita ocorreu de 21 a 24 de maio de 2025, e o estudo envolveu — dentre outros métodos — a análise química das amostras.

Através de um dos métodos utilizados, foram identificados minerais pesados, mas nenhum grão de ouro. As análises químicas das amostras de rochas coletadas também confirmaram a ausência de teores economicamente relevantes de ouro.

“Diante disso, os resultados obtidos até o momento indicam um potencial limitado para mineralizações de ouro na região”, afirmou o Serviço Geológico.

A instituição reforçou, porém, que realizou uma análise preliminar e com “caráter superficial”:

“Esse levantamento não permite concluir pela ausência ou presença definitiva de mineralizações auríferas na área. Para avaliar de forma adequada o potencial mineral da região, são necessários estudos técnicos sistemáticos e pesquisas mais aprofundadas”.

Já a Agência Nacional de Mineração (ANM) informou à AFP que houve um elevado número de requerimentos de pesquisa para minério de ouro no município, “mais de 100” entre maio e junho de 2025. Desses pedidos, 45 receberam autorizações de pesquisa, totalizando mais de 70.000 hectares com pesquisa em curso.

“Contudo, não há relatórios parciais ou finais de pesquisa submetidos à ANM (sequer aprovados) que comprovem a existência de um jazimento desse porte — que multiplicaria as reservas brasileiras, estimadas em 2.500t”, acrescentou a agência. O dado citado consta no Sumário Mineral Brasileiro de 2024.

O AFP Checamos também entrou em contato com o laboratório Solos e Plantas, cuja análise teria indicado um alto teor de ouro no solo, de acordo com as publicações viralizadas. O laboratório afirmou que não poderia compartilhar relatórios ou resultados de clientes sem autorização, devido à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Instituto nega ter divulgado informação

Outras publicações (1, 2) citam como fonte dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

Porém, ao AFP Checamos, o instituto afirmou ser uma entidade privada e representante das empresas de mineração, sem relação com a descoberta de jazidas. Por meio de sua assessoria de imprensa, a instituição negou ter divulgado dados sobre a suposta descoberta.

Referências

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