Vídeo de pessoas gritando “sem anistia” foi feito em 2023 na posse de Lula, não em 7 de setembro de 2025

  • Publicado em 10 de setembro de 2025 às 18:51
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
No Dia da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 2025, foram registradas manifestações em todo o país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do tradicional desfile cívico-militar em Brasília com o lema “Brasil Soberano”. Já os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) promoveram atos a favor da anistia do ex-mandatário. Nesse contexto, publicações visualizadas mais de 192 mil vezes nas redes sociais compartilham o vídeo de uma multidão gritando “sem anistia”, sugerindo que as imagens seriam deste ano. Mas o registro data de 2023 e foi feito durante a cerimônia de posse de Lula.

“No 7 de setembro o povo brasileiro mandou o recado aos golpistas” é a frase sobreposta ao vídeo compartilhado no Facebook, no Instagram e no TikTok

A alegação é compartilhada junto a um vídeo em que milhares de pessoas gritam “sem anistia”.

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Captura de tela feita em 9 de setembro de 2025 de uma publicação no TikTok (.)

Em 7 de setembro de 2025, apoiadores de Bolsonaro se reuniram em diversas cidades para pedir a anistia do ex-presidente e de outros réus, acusados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de formar uma “organização criminosa” que teria tentado subverter o resultado das eleições de 2022 e impedir a posse de Lula para o seu terceiro mandato. 

Do lado governista, sob o lema “Brasil Soberano”, o presidente Lula participou do tradicional desfile cívico-militar em Brasília.

Mas a gravação não foi feita nesse contexto. 

Cerimônia de posse de Lula em 2023

Uma busca reversa no Google Lens pela captura de tela de um trecho do vídeo viralizado exibiu uma reportagem da Folha de S.Paulo, publicada em 1º de janeiro de 2023, intitulada: “Multidão entoa ‘sem anistia’ após Lula citar gestão Bolsonaro”. 

Na ocasião, Lula participou da cerimônia de posse para o seu terceiro mandato como presidente da República. A reportagem, então, mostra o trecho de um vídeo da TV Brasil — que faz parte do canal de transmissão do governo federal — em que apoiadores do petista entoaram a expressão “sem anistia” após o mandatário ler, durante o discurso de posse, uma parte do relatório produzido pela equipe de transição com um diagnóstico do país sob a gestão de seu antecessor, Jair Bolsonaro.

Uma busca pelo vídeo no CanalGov no YouTube exibiu a íntegra da transmissão da cerimônia. 

A partir de 4 horas, 29 minutos e 19 segundos da gravação, Lula diz: “O que o povo brasileiro sofreu nesses últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um verdadeiro genocídio”

E complementa: “O Brasil bateu recordes de feminicídios, as políticas de igualdade racial sofreram severos retrocessos, produziu-se um desmonte das políticas de juventude, e os direitos indígenas nunca foram tão ultrajados na história recente do país”

No discurso, o presidente também mencionou que os livros didáticos que deveriam ser usados no ano letivo de 2023 ainda não haviam começado a ser editados e que “faltam remédios na Farmácia Popular. Não há estoques de vacinas para o enfrentamento das novas variantes da covid-19. Faltam recursos para a compra de merenda escolar. As universidades corriam o risco de não concluir o ano letivo. Não existem recursos para a Defesa Civil e a prevenção de acidentes e desastres. E quem está pagando a conta deste apagão é, outra vez, o povo brasileiro”.

Na sequência, a multidão entoa os dizeres “sem anistia” e é possível ver as mesmas imagens viralizadas. Uma comparação do vídeo compartilhado nas redes sociais com o registro da cerimônia de 2023 permite observar elementos semelhantes:

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Comparação feita em 9 de setembro de 2025 entre uma publicação no TikTok (E) e o vídeo publicado no CanalGov no YouTube em 2023 (.)

A cobertura da imprensa da solenidade de 7 de setembro de 2025 em Brasília também registrou (1, 2) que parte dos espectadores gritou “sem anistia” durante o desfile cívico-militar, mas a plateia estava em arquibancadas (1, 2) ao longo da Esplanada dos Ministérios, e não na Praça dos Três Poderes.

Referências

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