Lula falava sobre fortalecimento da democracia quando disse que eleições a cada quatro anos não são suficientes

  • Publicado em 25 de julho de 2025 às 22:09
  • 6 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não defendeu o fim das eleições periódicas quando disse que “cumprir o ritual eleitoral a cada quatro ou cinco anos não é mais suficiente”. A declaração, feita em 21 de julho de 2025 no Chile, levou a publicações nas redes sociais alegando que o mandatário pretende estender o tempo de seu mandato para além de quatro anos. Esses conteúdos, que acumulam mais de 30 mil interações, são enganosos: em sua fala, Lula abordava os desafios enfrentados pela democracia e defendia outras estratégias além da realização de eleições para, em sua visão, fortalecê-la.

“GRAVE: Lula declara que eleições a cada 4 ou 5 anos ‘não são suficientes’ e analistas alertam para possível intenção de prolongar seu próprio mandato”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook. Conteúdo semelhante circula também no Instagram, no TikTok e no X.

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Captura de tela feita em 25 de julho de 2025 de uma publicação no X (.)

Uma busca no Google por “eleições a cada 4 ou 5 anos ‘não são suficientes’” levou a uma transcrição de uma declaração feita por Lula em 21 de julho de 2025, durante o evento “Democracia Sempre”, realizado no Chile com governantes de Chile, Espanha, Brasil, Colômbia e Uruguai.

A transcrição e a transmissão oficial do discurso de Lula mostram que o presidente brasileiro não citou uma possível extensão de seu mandato e tampouco condenou a realização de eleições de forma periódica.

Em sua fala, Lula citou os desafios da democracia no mundo contemporâneo, ressaltando que a defesa do ambiente democrático exige mais do que apenas a realização de eleições. Logo após dizer que a realização de eleições “a cada 4 ou 5 anos não é mais suficiente”, Lula cita como saída o fortalecimento de instituições democráticas e a colaboração entre os países:

“A democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas. Cumprir o ritual eleitoral a cada 4 ou 5 anos não é mais suficiente. O sistema político e os partidos caíram em descrédito. Por essa razão, conversamos sobre o fortalecimento das instituições democráticas e do multilateralismo em face dos sucessivos ataques que vêm sofrendo”.

Outras ações defendidas na declaração de Lula foram: regulamentação das plataformas digitais e do combate à desinformação; lutar contra as desigualdades sociais, raciais e de gênero; e a taxação de grandes fortunas.

Mais adiante em seu discurso, Lula também defendeu a participação ativa da sociedade civil e do Parlamento, no que chamou de “defesa da democracia”:

“A defesa da democracia não cabe somente aos governos. Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado”.

Possibilidade de alternância de poder

Ainda no dia 21 de julho, após a reunião com os outros líderes presentes no evento, Lula respondeu a algumas perguntas da imprensa

Em uma de suas respostas, o mandatário brasileiro reforçou seu compromisso com a democracia, que defendeu como “a possibilidade de você ter alternância de poder”.

Em uma de suas respostas, o mandatário brasileiro reforçou seu compromisso com a democracia, que defendeu como “a possibilidade de você ter alternância de poder”.

“Eu primeiro quero dizer que eu sou muito defensor da democracia, porque, se não fosse a democracia, um metalúrgico como eu não teria chegado à Presidência da República por três vezes. Então, a democracia é a possibilidade de você ter alternância de poder, não apenas alternância de partido, mas alternância de segmentos sociais. Você pode eleger um empresário num tempo, pode eleger um trabalhador num outro tempo. Essa que é a maravilha da democracia.”

Lula também ressaltou que defende o sistema democrático, independentemente de quem seja eleito: “Não importa que seja de direita, que seja de esquerda, que seja de centro. (...)
Não importa que o cara que seja eleito seja um cara de pensamento conservador. O povo é que vai escolher”.

Quanto à possibilidade de concorrer a um novo mandato em 2026, Lula já deu declarações indicando que pretende ser candidato novamente. Em 18 de julho, o mandatário disse que não iria entregar o país de volta para “aquele bando de malucos”, sem citar nomes. O presidente ressaltou, porém, que, caso seguisse no poder, seria por voto popular: “Pode estar certo disso: eles não voltarão. Eles não voltarão, não é porque Lula não quer, é porque vocês não vão deixar eles voltarem".

Este conteúdo também foi checado por Aos Fatos, por UOL Confere e por Estadão Verifica.

Referências

  • Transcrições de falas de Lula de 21 de julho de 2025 (1, 2)

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