
Boato infundado sobre Fábio Vaz, marido de Marina Silva, ser dono de serrarias ilegais volta a circular
- Publicado em 9 de junho de 2025 às 18:04
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Esse cara é dono da maior parte das SERRARIAS CLANDESTINAS no Pará, é também o maior contrabandista de mogno da região norte. Mas isso é só um detalhe, ele é o marido da cabeça de tartaruga que se diz protetora das florestas”, lê-se na imagem que circula no Instagram, no Facebook, no Threads, no TikTok e no X.
O conteúdo, que compartilha duas fotos da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, com seu esposo, Fábio Vaz de Lima, circula, pelo menos, desde 2023.

A alegação voltou a circular após Marina Silva abandonar uma sessão do Senado em que discutiu com parlamentares sobre uma rodovia amazônica, que está com a obra paralisada por razões ambientais.
Durante a discussão, um dos senadores disse que ela “não merece respeito” como ministra.
Mas a afirmação viral de que seu marido, Fábio Vaz de Lima, é dono de serrarias clandestinas e o maior contrabandista de mogno não é atual e tampouco verdadeira.
Boato surgiu em 2011
Uma busca no Google pelos termos “Fábio Vaz” e “mogno” levou a uma notícia de 13 de maio de 2011 publicada pelo Senado, com a informação de que o então deputado Aldo Rebelo (PCdoB) havia acusado o marido de Marina Silva de envolvimento com contrabando de madeira.
A declaração foi feita durante votação do Código Florestal na Câmara e em resposta a uma crítica que a então senadora havia publicado sobre o deputado no X, antigo Twitter.
No dia seguinte à declaração, ela classificou as acusações como “levianas e infundadas”. O próprio deputado afirmou que fez a acusação de “cabeça quente” e que ligaria para se desculpar pelo que descreveu como um “mal-entendido”.
A acusação de Rebelo se baseou em um caso investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2004, sobre uma doação de quase seis mil toras de mogno apreendidas na Amazônia para a organização não governamental Fase, filiada à entidade Grupo de Trabalho Amazônico (GTA).
A doação ocorreu através de um convênio com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Por sua vez, a ONG Fase repassou as toras à madeireira Cikel, que pagou o montante de R$ 3,5 milhões à ONG.
A investigação do TCU apontava irregularidades na escolha do destinatário da madeira e na determinação do valor das toras.
À época do caso, Marina Silva era ministra do Meio Ambiente, e Rebelo, o ministro da Articulação Política.
A suposta ligação de Vaz de Lima se devia ao fato de ele ser um dos fundadores do GTA, grupo de organizações do qual a Fase fazia parte. Por esse motivo, foi aventado que ele poderia ter influenciado a decisão do Ibama, órgão controlado pelo Ministério do Meio Ambiente.
Em 2011, Marina Silva publicou uma nota esclarecendo que o marido havia deixado o GTA em 1999, anos antes da doação e também de sua indicação ao Ministério do Meio Ambiente.
Processo arquivado
Após a acusação de Rebelo em 2011, Marina Silva pediu que o Ministério Público Federal investigasse as irregularidades atribuídas ao esposo e a ela.
Como mostrou o Comprova, projeto de verificação colaborativo do qual o AFP Checamos faz parte, em 23 de julho de 2013 o então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, arquivou o processo por falta de provas.
Na decisão, é informado que, “quanto às acusações feitas contra Fábio Vaz de Lima, não há um único elemento que confira foros de verossimilhança aos fatos noticiados pela imprensa”.
A alegação também foi verificada ao longo dos anos por Reuters, UOL Confere, Agência Lupa e Boatos.Org.
Este texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas da Folha de São Paulo e do Jornal do Commercio. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.
Referências
- Notícias sobre a declaração de Rebelo na Câmara e seus desdobramentos (1, 2, 3)
- Notícia sobre a doação das madeiras
- Notícia sobre a investigação do MPF
- Decisão do MPF que arquiva o processo