Trump taxou Brasil e não há registros de que chamou Lula de “um dos maiores estadistas do mundo”

  • Publicado em 17 de abril de 2025 às 22:28
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Não existem registros públicos de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenha dito que considera o mandatário brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, “um dos maiores estadistas do mundo” e que não iria taxar o Brasil. Um vídeo a respeito da suposta declaração de Trump acumulou mais de 38 mil interações nas redes sociais desde 8 de março de 2025. Mas o conteúdo foi gerado por um perfil de comédia com uso de inteligência artificial (IA), e as tarifas norte-americanas a produtos brasileiros seguem em vigor.

“Lula é manchete no mundo, Donald Trump reconhece Lula como o maior estadista da história”, diz o vídeo que circula no Instagram, no Facebook, no Threads, no Kwai e no TikTok.

“Lula é manchete na capa dos maiores jornais do mundo neste sábado, depois do presidente Donald Trump dizer que não vai taxar o Brasil”, ouve-se na narração da sequência. Ainda segundo a gravação, Trump teria dito: “O Lula conversou comigo. Eu sempre tive uma grande admiração por ele. Considero ele como um dos maiores estadistas do mundo. Seu trabalho é inquestionável. (...) Ele me convenceu com suas sinceras palavras. Acho que isso reforça ainda mais a aliança comercial entre Estados Unidos e o Brasil”.

O vídeo acrescenta: “Perguntado se ele aprova o governo Lula, Donald Trump disse: ‘Eu não tenho que aprovar nada. Isso são os números que provam, que atualmente ele faz um grande governo. Um país que a mão de obra tá em falta é um sinal que o povo tá empregado e vivendo”.

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Captura de tela feita em 17 de abril de 2025 de uma publicação no Instagram (.)

A sequência circula em meio à decisão de Donald Trump de impor tarifas comerciais a diversos países, e em especial à China, durante seu segundo mandato.

Uma busca reversa por fragmentos do vídeo no Google Lens trouxe como registro mais antigo uma sequência publicada em 8 de março de 2025 no TikTok pelo perfil “@rogeriojtino”. O conteúdo foi publicado com uma sinalização de que foi gerado com IA.

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Captura de tela feita em 17 de abril de 2025 de uma publicação no TikTok (.)

O perfil em questão, @rogeriojtino”, também inclui a palavra “comédia” em sua descrição na plataforma.

Uma pesquisa pelas palavras-chave, em inglês, “Trump Lula estadista Brasil” não levou a nenhuma manchete na imprensa norte-americana sobre a suposta declaração do republicano. Os mesmos termos, em português, também não levaram a publicações por parte da imprensa brasileira.

Uma pesquisa no site da Casa Branca por declarações de Donald Trump a respeito de Lula tampouco trouxe resultados.

Segundo o vídeo viral, Lula teria sido manchete dos principais jornais do mundo “neste sábado”. A sequência foi publicada no TikTok em 8 de março de 2025, um sábado. Nesse dia, não foram publicadas declarações por parte de Trump no site da Casa Branca. 

Já no dia anterior, 7 de março, Trump participou de um evento na Casa Branca, mas não citou Lula nem o Brasil. 

Em 6 de março, Trump falou ao Congresso, mas tampouco citou Lula. O Brasil foi mencionado apenas uma vez em sua fala, quando o norte-americano criticou diversas nações — dentre elas, o Brasil — por supostamente aplicarem tarifas muito altas a produtos dos Estados Unidos.

Taxas ao Brasil seguem em vigor

Além disso, ao contrário do que é dito no vídeo viral, os Estados Unidos seguem aplicando tarifas a produtos brasileiros até o momento da publicação desta verificação.

Em 2 de abril de 2025, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos passariam a cobrar uma tarifa de 10% de produtos vindos do Brasil. Até a publicação desta verificação, a medida segue em vigor.

Em 14 de abril, foi publicada no Diário Oficial da União a “Lei da Reciprocidade”. O texto, sancionado sem vetos por Lula, é uma resposta do governo brasileiro às tarifas norte-americanas e estabelece que o governo brasileiro pode adotar medidas contra países e blocos comerciais que adotem práticas unilaterais que “impactem negativamente a competitividade internacional brasileira”.

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