Placas de carros do Mercosul não têm sigla “Renac”, e arrecadação não é destinada a Cuba

  • Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 18:45
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  • Por AFP Brasil
Desde 31 de janeiro de 2020, o emplacamento de novos veículos no Brasil segue o padrão do Mercosul, anunciado pelo bloco em 2014 em busca de maior integração regional. A mudança foi alvo de desinformação em 2018 e, em janeiro de 2025, publicações com centenas de interações voltaram a circular nas redes sociais com a alegação de que a sigla “Renac” estaria presente no novo formato e significaria que parte dos recursos arrecadados seria destinada à “Reconstrução Nacional de Cuba”. Mas as placas veiculares do Mercosul não apresentam essa sigla e não há registro da suposta iniciativa.

“QUANTO MAIS MEXE MAIS FEDE. Você sabia que 2% de toda arrecadação do veículo do Mercosul será destinado para a Entidade Internacional do Mercosul a RENAC, você sabe o que é a RENAC? Não sabe e sabe por que não sabe? Por que tudo que os Comunistas fazem faz nas sombras e você VOTA e os apoia sem COBRAR ou QUESTIONAR. RENAC é Reconstrucción Nacional de Cuba”, diz o texto compartilhado por publicações no Facebook, no Instagram e no Threads.

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Captura de tela feita em 7 de fevereiro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

As publicações compartilham uma imagem de uma suposta placa de identificação veicular (PIV) do Mercosul, com duas setas que indicam o símbolo do bloco sul-americano, no canto superior esquerdo, e a sigla “RENAC”, no canto inferior direito.

Conteúdos semelhantes circularam em 2018.

Mas a ilustração não é uma representação verdadeira da placa, que não apresenta a sigla “Renac”.

Padrão Mercosul

Uma busca reversa pela imagem viral conduziu a vários artigos de setembro de 2018 (1, 2, 3), que noticiavam o início da adoção da placa de padrão Mercosul no Rio de Janeiro — o primeiro estado brasileiro a disponibilizar a nova forma de emplacamento.

No entanto, não há nenhuma inscrição com a sigla “Renac” abaixo das indicações de estado e município de origem do veículo.

Anunciada pelo Mercosul em 8 de outubro de 2014 para estimular uma maior integração regional e impedir atividades ilícitas, a placa exibia um fundo branco e uma faixa azul no topo, com o logotipo do Mercosul no canto superior esquerdo e um QR Code logo abaixo. Já a bandeira do país, do estado e o brasão do município de origem estavam localizados no canto direito.

A cor da combinação alfanumérica, composta por quatro letras e três números, variava conforme a categoria do veículo — particular, comercial, especial ou diplomático, por exemplo. Segundo os artigos, o novo formato teria, em 2018, “o mesmo valor de fabricação do modelo antigo”: R$ 219,35.

Contudo, em 28 de novembro daquele ano, o Ministério das Cidades anunciou a retirada das informações de estado e município de origem das placas, de forma a reduzir os custos à população, evitando a troca da peça em caso de mudança de localidade. Apesar de não ficarem mais visíveis, os dados ainda poderiam ser acessados de diferentes formas.

Desde então, a placa mantém o mesmo design, com exceção dos dois ícones excluídos, visíveis no conteúdo viral, em um sistema estabelecido pela Resolução nº 780/2019 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). O documento instituiu a obrigatoriedade da adoção do padrão Mercosul a partir de 31 de janeiro de 2020 para novos veículos ou em caso de mudança de município ou estado e roubo ou extravio.

Não há na resolução qualquer menção a uma suposta destinação de recursos arrecadados para um ente externo.

Uma pesquisa pelas palavras-chave “Renac” e “Reconstrucción Nacional de Cuba” não encontrou nenhuma organização com essa designação.

Este conteúdo também foi verificado por Aos Fatos, UOL Confere e Fato ou Fake.

Referências

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