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Beneficiários do Bolsa Família estão inclusos em pesquisa feita pelo IBGE sobre desemprego
- Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 19:58
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“A metodologia do IBGE beira o ridículo ‘O problema aqui é número. Eu não vou brigar com a matemática’!”, diz a legenda das postagens compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X, no Kwai e no TikTok.
No vídeo viral, um homem apresenta dados dispostos em um gráfico e diz: “Na pesquisa do IBGE, se você está no Bolsa Família, você não está desempregado”. Com base nessa afirmação, ele questiona dados de desemprego estaduais.
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Um segundo homem aparece depois, complementando a alegação: “Esse percentual aí está absolutamente maquiado. É muito superior ao apresentado pelo IBGE, considerando que ele entende que quem está recebendo o Bolsa Família não estaria desempregado. Quando, na verdade, pra receber Bolsa Família, o pré-requisito principal é não estar trabalhando”.
O trecho ganhou tração nas redes após o IBGE lançar, em 27 de dezembro de 2024, a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, cujo resultado mostrou que o país atingiu a menor taxa de desocupação de sua série histórica, iniciada em 2012, chegando ao percentual de 6,1%.
Mas não é verdade que o instituto desconsidere beneficiários de assistências sociais para fazer esse tipo de cálculo, nem que aqueles que recebem Bolsa Família precisem estar desempregados, como alegado na gravação.
Benefícios sociais e a taxa de desocupação no país
As notas técnicas da PNAD Contínua mostram que a taxa de desocupação, comumente tratada como taxa de desemprego, considera as pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho.
Os que não estão ocupados, mas não buscaram vaga ou não estavam disponíveis para começar a trabalhar (como estudantes), são considerados fora da força de trabalho e não entram no cálculo da taxa de desocupação.
O recebimento de algum benefício de programas sociais, como o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), seguro-desemprego, entre outros, não têm relação direta com a ocupação ou desocupação. Esses beneficiários, por exemplo, podem ser classificados como parte da força de trabalho (ocupados ou desocupados) ou estarem fora da força de trabalho.
“A PNAD Contínua, que analisa o mercado de trabalho, apenas investiga se a pessoa estava trabalhando, qual era sua renda, qual a natureza da sua ocupação. As pessoas que recebem o Bolsa Família não são excluídas do cálculo da taxa de desemprego”, afirmou o IBGE em nota enviada à AFP em 10 de janeiro de 2025.
“Na verdade, o Bolsa Família não é um ‘seguro-desemprego’ e muitas pessoas que trabalham em ocupações com baixa remuneração podem participar do programa. Se um domicílio tem renda mensal por pessoa de até R$ 218, ele é elegível para integrar o Programa Bolsa Família, mesmo que algum morador esteja trabalhando — inclusive com carteira de trabalho assinada”, explicou o órgão.
Segundo dados da Secretaria de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do governo federal, disponibilizados no Observatório do Cadastro Único, cerca de 54 milhões de pessoas eram beneficiadas pelo Bolsa Família em novembro de 2024. Dessas, 13,4 milhões estavam trabalhando.
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O instituto explica, ainda, que a taxa de desocupação não é o único indicador da PNAD Contínua sobre o mercado de trabalho, apenas o mais conhecido. A pesquisa foi desenhada para “captar diversas formas de subutilização da força de trabalho”, entre elas os chamados desalentados.
“Esse grupo inclui pessoas que desistiram de buscar uma ocupação por não ter mais a qualificação profissional suficiente para disputar uma vaga no mercado de trabalho local, ou pessoas que precisam trabalhar apenas em determinados horários, por terem que cuidar de filhos ou idosos da sua família. Muitos dos que estão subutilizados também podem estar recebendo o Bolsa Família”, concluiu o IBGE.
Metodologia norteada por padrões internacionais
Segundo o IBGE, o procedimento adotado na PNAD Contínua segue as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e é norteado “pelos Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais da ONU e o Código de Boas Práticas do IBGE”.
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal manifestou que a “tese desinformativa [mostra] o preconceito de classe implícito que vincula o Bolsa Família com uma postura de comodidade pelos atendidos que não procurariam emprego contando com o benefício”.
“Estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que, das mais de 3,4 milhões de contratações realizadas entre janeiro de 2023 e setembro de 2024, 91,49% foram para inscritos do CadÚnico (o equivalente a cerca de 3,1 milhões) e 71,11% (ou aproximadamente 2,4 milhões) para beneficiários do Bolsa Família”, concluiu a Secom.