Bolsonaro é citado centenas de vezes em relatório final da Polícia Federal sobre tentativa de golpe
- Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 20:55
- 5 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“BOLSONARO NÃO ESTÁ INCLUSO NO RELATÓRIO DA PF SOBRE O GOLPE”, afirma a legenda de publicações que circulam no Facebook, no Instagram, no X, no TikTok e no Kwai.
No conteúdo viral, é possível ler o texto “GRANDE DIA! GLOBO ENTRA EM PÂNICO AO NÃO VER O NOME DO BOLSONARO NO RELATÓRIO FINAL DA PF SOBRE O GOPI”, sobreposto a fotos do ex-presidente sorrindo.
No centro da imagem, aparece um trecho do Estúdio i, programa da GloboNews, em que analistas e jornalistas comentam um documento. Na transmissão, também pode-se ver a seguinte frase: “Moraes retira sigilo e envia inquérito do golpe à PGR”.
A alegação circula em meio ao envio do relatório da Polícia Federal à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre um plano, em 2022, para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas, diferentemente do que afirmam as publicações virais, no documento enviado pela PF, 37 pessoas foram indiciadas — entre elas o ex-chefe do Executivo Jair Messias Bolsonaro — “pelos crimes de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa”.
Publicações mostram decisão de Moraes
O recorte utilizado por alguns conteúdos virais mostra que os comentários dos jornalistas do Estúdio i foram feitos às 13h19 do dia 26 de novembro.
O AFP Checamos buscou a íntegra do programa e identificou que os comentaristas, na verdade, falavam sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de derrubar o sigilo do relatório final da PF. O que era mostrado na tela nesse momento era essa decisão, e não o documento final da Polícia Federal.
As imagens mostram a jornalista Andréia Sadi lendo parte da decisão de Moraes e indicando os seis núcleos de atuação para implementação do golpe de Estado definidos pela PF em sua investigação.
Durante a leitura, Sadi e os comentaristas realmente não mostram o nome de Bolsonaro, que só aparece citado quando Moraes escreve sobre o ajudante de ordens Mauro Cid ou que o “Núcleo de Inteligência Paralela” atuou na “coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então Presidente da República (...) na consumação do Golpe de Estado”.
À AFP, o professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Thiago Bottino ponderou que ainda que o nome de Bolsonaro não apareça na decisão de Moraes quando discorre sobre os integrantes dessas seis áreas de atuação, “os núcleos foram descritos como forma de delimitar a participação” de cada um e que “não estar em nenhum sugere que todas as situações eram de conhecimento” do indiciado.
O docente afirma que o caso de Bolsonaro se enquadra nessa perspectiva, de ter ciência de todo o processo e que as ações estariam sendo feitas para seu próprio benefício, configurando, assim, o envolvimento direto.
O vídeo original do recorte viralizado com a alegação falsa também foi publicado na conta da GloboNews no X. No telão ao fundo lê-se “PET 12100/DF”, que é o número da petição no STF.
Na íntegra da transmissão, antes do trecho compartilhado pelos usuários, às 13h04, a repórter Isabela Camargo informa que, ao encaminhar o material para análise da PGR, Moraes estaria retirando o sigilo do inquérito. “Nós ainda não temos acesso ao conteúdo integral. O que acaba de sair é a decisão pela retirada do sigilo”, explica.
Relatório da PF cita Bolsonaro centenas de vezes
O relatório da PF, de 884 páginas, foi divulgado horas depois da retirada de sigilo por Moraes, tendo sido lido no programa seguinte da emissora, o GloboNews Mais, como mostram publicações da emissora no X (1, 2). Outros veículos também divulgaram a íntegra do documento (1, 2, 3).
A AFP encontrou mais de 600 citações ao ex-mandatário no texto da Polícia Federal, ao contrário do que afirmam as alegações virais. Um levantamento feito pelo g1 indica também que Bolsonaro é citado 643 vezes nesse documento.
Na página 848, por exemplo, a PF escreve que “os dados descritos corroboram todo o arcabouço probatório, demonstrando que o então presidente da República JAIR BOLSONARO efetivamente planejou, dirigiu e executou, de forma coordenada com os demais integrantes do grupo (...), atos concretos que objetivavam a abolição do Estado Democrático de Direito, com a sua permanência no cargo de Presidente da República”.
Ao longo do relatório, a corporação narra como o grupo indiciado teria se organizado para um golpe de Estado visando evitar a posse de Lula:
“Diante do exposto, conforme todos os atos executórios descritos, a investigação reuniu elementos que permitiram a conclusão de que os investigados atuaram de forma coordenada, mediante divisão de tarefas, desde o ano de 2019, com o emprego de grave ameaça para restringir o livre exercício do poder Judiciário e impedir a posse do governo legitimamente eleito, com a finalidade de obter a vantagem relacionada a manutenção no poder do então presidente da República JAIR BOLSONARO”, descreve a PF na página 883.
Em 25 de novembro, o ex-presidente negou o envolvimento: “Da minha parte nunca houve discussão de golpe”, disse Bolsonaro. “Ninguém vai dar golpe com general da reserva e meia dúzia de oficiais”, acrescentou.
Referências
- Decisão de Alexandre de Moraes de retirada de sigilo do inquérito da PF
- Relatório final da PF
- Publicação no X feita pela GloboNews em que mostra decisão de Moraes
- Publicações no X feita pela GloboNews sobre relatório final da PF (1, 2)