O avião ATR 72 não caiu 402 vezes desde que foi lançado; número refere-se ao total de incidentes
- Publicado em 14 de agosto de 2024 às 20:51
- Atualizado em 15 de agosto de 2024 às 17:05
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2024. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Esse avião é um perigo: A Anac é uma nulidade completa: permite que aviões como o que caiu em Vinhedo (SP) operem à vontade em voos regionais no Brasil. Desde o lançamento, nos anos 1980, os ATR 72 já caíram 402 vezes, matando 470”, diz uma publicação no X. O mesmo texto também circula no Facebook, no Instagram e no Threads.
As mensagens circulam após a queda de um avião da companhia Voepass em 9 de agosto. O voo partiu de Cascavel, no Paraná, com 62 pessoas a bordo e tinha como destino o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A aeronave, porém, caiu na cidade de Vinhedo, no interior do estado paulista. Não houve sobreviventes.
O avião em questão era um bimotor da fabricante franco-italiana ATR, do modelo 72-500. As investigações para determinar o que causou o acidente estão em andamento. Até o momento da publicação desta verificação, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) estava analisando as caixas-pretas que contêm gravações da cabine e dados do voo.
Uma busca no Google pelas palavras-chave “ATR 72 402 vezes” levou a um texto publicado pelo UOL, intitulado: “Aviões família ATR, como o que caiu em SP, tiveram 5 acidentes em 10 anos”. Ao final da reportagem, é dito que “desde que começaram a voar, em meados da década de 1980, os aviões ATR 72 sofreram 402 acidentes, deixando 470 pessoas mortas”. Essas informações são creditadas à Aviation Safety Network (ASN).
Uma busca pelo modelo ATR 72 na base de dados ASN, porém, mostra que o número citado (402) referia-se ao total de ocorrências registradas com esse modelo de avião desde seu primeiro voo, em 1988. Quando consultada pela AFP em 13 de agosto, a base de dados já incluía o acidente do último dia 9, e registrava 404 ocorrências para todas as séries de aviões do tipo ATR 72. A diferença se deve a uma ocorrência em Salvador, que foi acrescentada à base de dados em 12 de agosto.
A grande maioria das mais de 400 ocorrências registradas na base de dados da ASN, portanto, não representam quedas ou acidentes com mortes: elas incluem, por exemplo, incidentes de colisão com aves, nos quais não houve consequências aos passageiros e apenas danos leves à aeronave.
Das 404 ocorrências registradas pela ASN até 13 de agosto de 2024, 391 não haviam deixado mortos.
Isso significa, portanto, que a ASN registra 13 ocorrências com ATRs 72 que resultaram em pelo menos uma morte.
No total, essas ocorrências levaram a 532 mortes em todo o mundo desde que o modelo foi lançado, já incluindo as 62 vítimas do voo operado pela Voepass — o que significa, portanto, que até a queda de 9 de agosto em Vinhedo, o ATR 72 tinha registrado 470 mortes desde que foi lançado, como citado nas publicações virais.
Ainda segundo os dados da ASN, o ATR 72 teve 35 acidentes classificados como “Hull loss accidents” pelo site, ou “acidentes com perda do casco” em português. O conceito refere-se a acidentes nos quais a aeronave sofreu danos irreversíveis (como geralmente ocorre em quedas, por exemplo). Embora nem todo acidente com perda de casco resulte em mortes, a grande maioria dos acidentes fatais também leva a uma perda de casco da aeronave em questão.
Consultada pela AFP, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou em 13 de agosto que “realiza atividades de vigilância continuada, presenciais e remotas, periodicamente em relação a todas as empresas de transporte aéreo. Desde 2021, foram realizadas 274 atividades dessa natureza envolvendo a empresa Voepass”.
O AFP Checamos também entrou em contato com a ASN para obter mais detalhes a respeito das informações contidas no site. “Na base de dados da ASN, as ocorrências podem significar acidentes, incidentes graves, incidentes ou outros eventos”, afirmou a equipe de comunicação da Flight Safety Foundation, que é responsável pela ASN.
“Ao analisar acidentes envolvendo qualquer tipo de aeronave, é importante revisar o relatório de investigação do acidente para obter uma avaliação precisa da causa provável. É importante notar que estes relatórios geralmente não apontam o tipo de aeronave como contribuinte para estes acidentes”, acrescentou a fundação à AFP, em 15 de agosto.
Referências
- Texto publicado pelo UOL
- Base de dados da ASN com ocorrências referentes ao ATR 72
- Exemplo de ocorrência envolvendo o ATR 72
- Número de acidentes com perda de casco registrados pela ASN para o ATR 72
15 de agosto de 2024 Atualiza os últimos dois parágrafos do texto com a resposta enviada pela ASN