Lula elogiou China em entrevista de 2021, mas não disse querer implementar comunismo no Brasil

“Lula diz que quer implementar o comunismo chinês no Brasil” é a frase sobreposta a um vídeo compartilhado no Facebook, no Instagram, no TikTok, no Kwai e no X.  

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Captura de tela feita em 18 de julho de 2024 de uma publicação no TikTok (.)

Na gravação, de pouco mais de um minuto, vê-se uma reportagem exibida pela Rede Globo sobre uma agressão sofrida por funcionários de um banco na China por baixo desempenho no trabalho. 

“Veja como o trabalhador é tratado na China”, lê-se na frase na parte inferior da tela. O jornalista Márcio Gomes informa: “Essas imagens foram gravadas com um telefone celular e são chocantes”. E complementa: “A cena mostra oito funcionários de um banco de Changzhi, uma cidade que fica no norte da China. Eles estão sendo questionados sobre por que tiveram um desempenho ruim no trabalho. São quatro homens e quatro mulheres… a imagem não é muito clara. Logo depois, começa o espancamento, um de cada vez”. 

Em seguida é exibido um vídeo em que o presidente Lula diz: “A China tem um partido que tem poder, que tem um Estado forte que toma decisões e que as pessoas cumprem, coisa que nós não temos aqui no Brasil (...) A China é um exemplo de desenvolvimento para o mundo”. Após um corte, ouve-se a frase: “Mas eu tenho muita fé, muita esperança de que nós vamos conseguir fazer isso a partir de 2022”.

Uma pesquisa pelas palavras-chave “banco”, “China” e “desempenho” exibiu a íntegra da reportagem publicada pelo jornal Bom Dia Brasil em 21 de junho de 2016. O episódio de agressão contra trabalhadores na China repercutiu na imprensa nacional (1, 2, 3) e estrangeira (1, 2, 3).

Na data em que a reportagem foi veiculada, o Brasil era presidido por Dilma Rousseff (PT). Na reportagem, contudo, não há menção a Rousseff ou a Lula.

Entrevista de 2021

Uma busca pelos termos “Lula”, “entrevista” e “China” exibiu um vídeo publicado pelo canal TVT no YouTube em julho de 2021 — a gravação também aparece no canal do petista — e trechos de uma entrevista concedida por Lula em julho de 2021 ao veículo chinês Guancha. 

Ao responder uma pergunta sobre os fatores que levaram a China a ter um desenvolvimento econômico superior ao de outros países desde 1990, Lula afirmou, aos 17 minutos e 25 segundos da gravação, que o “Estado forte” no país, um dos trechos exibidos no vídeo viral, exerceu um papel importante para o alcance desses indicadores. 

Em seguida, o petista destacou que, além do “partido forte”, os investimentos em educação contribuíram para a consolidação da economia chinesa e que o país é um “exemplo de desenvolvimento para o resto do mundo”.

Mais à frente, Lula falava sobre a integração entre países do sul global quando afirmou que pretendia “conseguir fazer isso a partir de 2022”, sem qualquer referência ao “comunismo chinês”, como indica o conteúdo viral. 

Aos 21 minutos e 5 segundos da entrevista, ele afirma:

“A China é um exemplo de desenvolvimento para o mundo e eu espero que outros países aprendam a lição com a China para que a gente possa ser mais rico, ser mais forte, ter mais distribuição de riqueza e ter um mundo mais humano. Eu trabalhei muito com o Hu Jintao [ex-presidente da China] a necessidade de uma relação sul-sul, não ficar dependente do norte como nós somos dependentes. Lamentavelmente a gente não conseguiu chegar lá, mas eu tenho muita fé, muita esperança de que nós vamos conseguir fazer isso a partir de 2022.”

À época da gravação, no início de julho de 2021, Lula era pré-candidato à Presidência. Em 21 de julho, a candidatura do político para as eleições foi oficializada. Em outubro de 2022, ele foi eleito em segundo turno, contra o seu oponente, Jair Bolsonaro (PL), para um terceiro mandato.

Em nenhum momento da entrevista Lula afirma que vai instalar o regime comunista chinês no Brasil.

Conteúdo semelhante foi verificado pela AFP anteriormente. 

Referências

• Entrevista publicada em 2021 pelo veículo chinês Guancha
• Entrevista publicada em 2021 no canal de Lula no YouTube
• Reportagens da imprensa brasileira de 2016 sobre funcionários chineses (1, 2, 3)
• Reportagens da imprensa estrangeira de 2016 sobre funcionários chineses (1, 2, 3)