Publicação distorce fala de Bolsonaro sobre EAD; vídeo de 2018 foi cortado

  • Publicado em 13 de junho de 2024 às 18:37
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
O trecho de uma transmissão ao vivo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de 19 de outubro de 2018, foi recortado para sugerir que ele estaria defendendo a implementação do ensino à distância (EAD) e a demissão de merendeiras e professores. O conteúdo acumula milhares de visualizações desde 9 de junho de 2024, mas na gravação Bolsonaro, na verdade, listava o que chamou de “fake news” relacionadas às suas propostas na disputa presidencial daquele ano.

“Imagina se isso fosse reeleito”, é a frase sobreposta ao vídeo compartilhado no Facebook, no Instagram e no TikTok.

Na gravação, Bolsonaro afirma: “Eu vou implementar o ensino à distância. Acabando aqui com o quadro de professores, merendeiras e outras coisas mais”.

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Captura de tela feita em 12 de junho de 2024 de uma publicação no TikTok (.)

A sequência de imagens circula em meio à decisão do Ministério da Educação (MEC), publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 7 de junho, de suspender a criação de novos cursos de graduação à distância, novas vagas e a criação de polos de ensino à distância por instituições do Sistema Federal de Ensino até 10 de março de 2025. De acordo com a pasta, a medida faz parte do processo de “revisão dos instrumentos de avaliação de cursos de graduação na modalidade a distância”.

Uma busca reversa no Google com a captura de tela de um trecho do vídeo viral mostra que o conteúdo é compartilhado desde 2018. 

A mesma pesquisa exibiu um texto, publicado em 19 de outubro de 2018, informando que Bolsonaro, então candidato à Presidência, havia criticado o jornal Folha de S.Paulo em uma transmissão ao vivo no dia anterior. 

A reportagem incorpora o vídeo dessa transmissão, publicado no perfil oficial de Bolsonaro no Facebook, em 18 de outubro de 2018. No vídeo, o político apresenta a mesma camiseta vista na sequência viral. Um trecho da transmissão ao vivo também foi publicado em seu canal no YouTube, nesse mesmo dia, sob o título: “FAKE NEWS DE ARAQUE: os cães ladram e a caravana passa”.

Naquele momento, Bolsonaro disputava as eleições de 2018, da qual saiu vitorioso no segundo turno contra Fernando Haddad (PT).

EAD para comunidades rurais

No vídeo, Bolsonaro está acompanhado por seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), e pela intérprete de libras Elizângela Castelo Branco.

A partir de 4 minutos e 17 segundos da gravação, Bolsonaro elenca o que ele chama de “fake news do Haddad contra mim”. 

É nesse contexto que ele afirma: “Eu vou implementar o ensino à distância. Acabando aqui com o quadro de professores, merendeiras e outras coisas mais”. E, logo na sequência, alega que isso não seria verdade: “O ensino à distância que eu estudei é para as comunidades rurais, na fazenda onde, porventura, tenha sinal de internet. A garotada em vez de viajar 20, 30 quilômetros. Chega cansado. Volta cansada pra casa, não aprende nada. Ver se é possível levar esse ensino para essa garotada”.

Bolsonaro conclui: “Não existe implementação do ensino à distância, da nossa parte, pelo Brasil. A não ser nessas comunidades isoladas, rurais.”

No programa de governo de Bolsonaro para as eleições de 2018, protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o então candidato dizia que a educação à distância “deveria ser vista como um importante instrumento e não vetada de forma dogmática”. “Deve ser considerada como alternativa para áreas rurais onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais”, completa o documento.

Este conteúdo também foi verificado pela Reuters

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