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Ligação do papa Francisco a padre Júlio Lancellotti em 2020 é compartilhada fora de contexto
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- Publicado em 5 de janeiro de 2024 às 20:21
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Papa presta solidariedade ao padre Júlio Lancellotti após ser perseguido pela extrema direita”, diz uma das mensagens compartilhadas no X. Conteúdos de teor semelhante circulam também no TikTok, no Facebook e no Instagram.
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Aos 75 anos, Lancellotti é conhecido por sua atuação a favor dos mais pobres em São Paulo, oferecendo refeições e acolhimento a pessoas em situação de rua na metrópole. O próprio padre publicou o trecho da fala do pontífice em suas redes sociais em 4 de janeiro.
A gravação do papa Francisco circula após o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) ter proposto a abertura de uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo para investigar Organizações Não Governamentais (ONGs) que realizam trabalho social com moradores de rua na região da capital paulista conhecida como Cracolândia, incluindo o trabalho do padre Júlio Lancellotti.
A mensagem do papa, porém, não tem relação com esse contexto.
No vídeo, o papa Francisco discursa de uma janela e diz que ligou para um padre “idoso, missionário da juventude no Brasil, mas sempre trabalhando com os excluídos, com os pobres. E vive essa velhice em paz: consumiu a sua vida com os pobres. Esta é a nossa Mãe Igreja, este é o mensageiro de Deus”, diz o pontífice.
Uma pesquisa pelas palavras-chave “telefonema papa padre Júlio” localizou diversas notícias a respeito do telefonema, realizado em 10 de outubro de 2020 (1, 2, 3). À época, o discurso também foi compartilhado no site do órgão de comunicação oficial do Vaticano, Vatican News, sob o título: “Papa liga para Pe. Lancellotti e manifesta seu amor pela população de rua”.
O texto do site do Vaticano destaca que o pontífice “telefonou ao Padre Júlio Renato Lancellotti, Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, na tarde deste sábado (10/10) para manifestar sua proximidade à população em situação de rua nesse período de pandemia.”
À época do telefonema, o trabalho do padre já era reconhecido. Mesmo integrando o grupo de risco para a covid-19, Lancellotti distribuiu alimentos, roupas e itens de higiene à população em situação de rua durante o período do isolamento social.
Apesar de, na época, não ser um potencial alvo de uma CPI, o religioso já enfrentava ameaças e ataques antes do telefonema do papa em outubro de 2020.
Em 15 de setembro daquele ano, o sacerdote registrou um boletim de ocorrência após ter sido xingado por um motociclista no centro da cidade. Ele também foi alvo de ofensas por parte do então pré-candidato à prefeitura de São Paulo, o ex-deputado estadual Arthur do Val, que chegou a chamá-lo de “cafetão da miséria”.
Referências
- Notícia sobre possível abertura de CPI contra o padre Júlio Lancellotti
- Notícias de 2020 sobre o telefonema do papa Francisco ao padre Júlio Lancellotti (1, 2, 3)
- Texto publicado pelo Vatican News sobre o telefonema do papa
- Notícia sobre boletim de ocorrência registrado pelo padre Júlio Lancellotti em 2020
- Notícia sobre falas de Arthur do Val sobre padre Júlio Lancellotti