Falsa alegação de que “um dos líderes do MST” foi preso com avião cheio de drogas volta a circular

  • Publicado em 19 de dezembro de 2023 às 19:42
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Uma sequência de três pessoas sendo presas junto a um avião com drogas não mostra a prisão de um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). As publicações, que circularam em 2022, voltaram a ser compartilhadas milhares de vezes nas redes sociais desde 9 de dezembro de 2023, afirmando que Bruno Maranhão, “um dos líderes fortes do MST”, foi preso. Mas as imagens são de uma operação de 2018 da Polícia Federal, em São Paulo. Reportagens e um comunicado da PF à época não citavam o MST, mas uma ação contra o tráfico de drogas. Bruno Maranhão, por sua vez, faleceu em 2014.

“TAÍ O MST Q A ESQUERDA E O DESGOVERNO TANTO APOIAM E SUSTENTAM COM MILHÕES DO NOSSO DINHEIRO. Bruno Maranhão, um dos Líderes fortes do MST. Foi preso com o avião carregado de drogas, armas e dinheiro”, diz uma das publicações que circulam no X, no Facebook e no TikTok.

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Captura de tela feita em 13 de dezembro de 2023 de uma publicação no X ( .)

A gravação mostra o momento em que três homens são presos pela Polícia Federal em um local semelhante a um depósito, próximo a uma aeronave. Nas imagens, é possível ver que os agentes retiram do avião vários pacotes do que parecem ser drogas.

Nas redes sociais, usuários afirmam que o registro é de uma apreensão de drogas envolvendo membros do MST e que um dos supostos líderes do movimento, Bruno Maranhão, seria um dos presos na operação.

Mas ambas alegações são falsas.

Uma busca reversa por fragmentos do vídeo levou a uma reportagem publicada no portal g1 sobre o caso em 3 de março de 2018. Segundo a matéria, as imagens são de uma operação deflagrada pela Polícia Federal contra o tráfico de drogas, que apreendeu uma aeronave agrícola com 990 tijolos de maconha em Paraguaçu Paulista (SP).

Uma nova pesquisa, dessa vez por palavras-chave no YouTube, por mais informações sobre a operação levou a registros em outros meios de comunicação.

No fragmento inicial desta reportagem veiculada no programa “Cidade Alerta”, da Record, é possível ver que a aeronave tem as mesmas características e a inscrição “WUO”, que também está presente no avião que aparece nas publicações.

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Comparação de capturas de tela feita em 13 de dezembro de 2023 entre uma publicação no X (E) e uma reportagem em 2018 ( .)

Em outra reportagem, também transmitida pela Record, aparece o mesmo trecho presente na gravação que acompanha as publicações, entre o minuto 1:42 até o minuto 1:47, e é dito que se tratava de uma operação conjunta entre polícias Federal e Militar que resultou na apreensão de mais de uma tonelada de maconha.

“A Polícia Federal já monitorava as ações da quadrilha e descobriu que um grande carregamento de drogas teria saído do Mato Grosso do Sul com destino a Paraguaçu Paulista”, continua a matéria.

Em nenhuma das reportagens encontradas (1, 2, 3) é mencionado um suposto envolvimento de membros do MST.

De acordo com as informações divulgadas, os presos na ocasião foram José Albano Martins das Neves, piloto do avião, Ronaldo Camilo dos Reis e João Franco de Lacerda. Nenhum deles, portanto, chamava-se Bruno Maranhão.

Além disso, o militante político morreu no Recife em 2014, após falência múltipla dos órgãos.

Maranhão foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e era o líder de uma dissidência do MST, o MLST, Movimento de Libertação dos Sem Terra. Após sua morte, o Instituto Lula divulgou uma nota de pesar, descrevendo-o como “um grande companheiro, amigo e um grande militante da esquerda brasileira”.

Em uma checagem de abril de 2022, quando esse conteúdo começou a circular nas redes, o AFP Checamos entrou em contato com a Polícia Federal, que informou em nota: “A Polícia Federal em Marília deflagrou hoje a ‘Operação VOO CEGO’ em continuidade às investigações que culminaram com a apreensão de drogas e um avião em Paraguaçu Paulista (SP) (...). Na época, foram presas 3 pessoas que atuavam no tráfico de drogas, a partir do transporte de maconha em avião de pulverização agrícola”, diz o texto. O restante do comunicado igualmente não menciona qualquer envolvimento do MST.

Procurada pelo AFP Checamos para um novo posicionamento e possível atualização do caso em dezembro de 2023, a PF não retornou o contato até a publicação desta matéria.

Referências

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