Acordo de US$ 600 milhões é para exportações brasileiras, e não para agronegócio da Argentina

  • Publicado em 27 de outubro de 2023 às 23:12
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
O governo federal informou, em agosto de 2023, que estava negociando um acordo com a Argentina para financiar exportações brasileiras. Após o anúncio, postagens visualizadas mais de 20 mil vezes nas redes sociais começaram a circular repercutindo uma fala do deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destinou US$ 600 milhões para o agronegócio argentino. Mas essa é uma distorção do conteúdo do acordo, que está sendo discutido entre os países.

“Graças a Deus, Lula acordou. 600 milhões de dólares para o agro. kkkkkkk Agro negócio da Argentina. 100 milhões para os produtores de leite. Pra nós comprar de lá. kkkkk”, afirma uma das postagens no Facebook. A alegação também circula no TikTok e no Instagram junto ao vídeo do deputado.

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Captura de tela feita em 23 de outubro de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

No vídeo, que deu origem à alegação viral, o deputado Rodolfo Nogueira afirma que Lula destinou US$ 600 milhões para o agronegócio da Argentina, sendo US$ 100 milhões desse montante para produtores de leite argentinos venderem ao Brasil.

A sequência foi gravada durante o evento de lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Cooperativas e Pequenos Laticínios do Brasil com Leite Nacional e da Pecuária Leiteira Brasileira (FPDCPLB), na Câmara dos Deputados, em 20 de setembro de 2023.

No entanto, isso é enganoso.

O acordo em questão visa financiar exportações brasileiras ao país vizinho. O Palácio do Planalto divulgou, em 28 de agosto de 2023, a reunião que resultou na intenção da colaboração bilateral realizada entre o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, e o presidente Lula.

A intenção do acordo é que o Banco do Brasil pague cada exportador brasileiro e que o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) seja o garantidor da linha de crédito. Na nota é indicado que o valor de US$ 600 milhões precisa da aprovação do conselho gestor do CAF.

Após outras peças de desinformação começarem a circular com alegações semelhantes, a Secretaria de Comunicação Social do governo federal divulgou uma nota, em 4 de setembro, reafirmando que o acordo tem como intenção beneficiar empresas brasileiras e, em especial, as do setor automotivo.

Além disso, esclareceu que, inicialmente, foi proposto pelo governo brasileiro o valor de US$ 140 milhões, viabilizado pelo Programa de Financiamento às Exportações (Proex), iniciativa existente desde 1991 que apoia exportações brasileiras.

O texto do governo brasileiro aponta que o governo argentino fez uma contraproposta, elevando para US$ 500 milhões o financiamento com garantias do CAF. Contudo, o acordo ainda não foi firmado e, portanto, não há nenhum documento sobre a proposta final.

Ao AFP Checamos, a assessoria do Ministério da Fazenda reafirmou, em 20 de outubro de 2023, que o governo brasileiro está aguardando o país vizinho apresentar detalhes sobre as suas propostas.

“O acordo não foi fechado e mantiveram-se as intenções de se negociar uma proposta. No campo dessas negociações, o Brasil espera ainda detalhes da proposta por parte da Argentina e da CAF. Por isso, não há setores ou valores definidos”, assinalou o órgão por e-mail.

Em resposta a questionamentos do Comprova, projeto de verificação de fatos do qual o AFP Checamos faz parte, o Ministério da Fazenda também indicou que o valor de US$ 100 milhões para produtores de leite da Argentina nunca foi sugerido.

“Nas negociações iniciais, a delegação argentina sugeriu que o financiamento se direcionasse a peças automotivas, um dos principais produtos de exportação do Brasil ao país vizinho”, escreveu o órgão em outubro de 2023.

O Banco do Brasil (BB), agente exclusivo da União para negociações do Proex, também negou fazer parte de um acordo que viabilizaria exportações do mercado de leite da Argentina ao Brasil.

“Cabe ressaltar que se alguma solução técnica for viabilizada, é condição indispensável que ela não traga qualquer tipo de risco ou impacto em balanço tanto do BB quanto da União”, informou o BB ao Comprova.

O AFP Checamos já verificou outro conteúdo sobre um suposto acordo entre Brasil e Argentina.

Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas da NSC Comunicação e do Metrópoles. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.

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