Brics não controla 80% da produção mundial de petróleo

A inclusão de cinco países ao Brics, grupo de grandes economias emergentes, suscitou alegações nas redes sociais de que o bloco passaria a administrar 80% da oferta de petróleo mundial. Mas isso é falso: embora a expansão represente uma importante mudança geopolítica, estimativas da indústria preveem que a coalizão, ampliada a partir de janeiro de 2024, controlará pouco mais de 40% da produção de petróleo do mundo.

“Nova composição dos BRICS controlará 80% da produção mundial de petróleo”, diz uma das publicações que somam mais de 16 mil interações no Facebook, no Instagram, no X (antes Twitter) e no Kwai.

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Captura de tela feita em 11 de setembro de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

Alegações similares também circulam em inglês, francês, alemão e polonês.

O grupo Brics – fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – anunciou em 24 de agosto que admitiria seis novos membros em 2024: Irã, Argentina, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Irã são grandes produtores de petróleo e membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Por isso, muitas publicações concluíram que a nova coalizão desestabilizaria a posição dos Estados Unidos na indústria petrolífera.

“BRICS tem 80% do petróleo mundial e exportador de gás, todos os minerais, fertilizante, todos os bens industriais, defesa, soja, trigo, milho e carne. Controla o cabo da Boa esperança, canal de Suez e estreito de Magalhaes. Só falta Indonésia (estreito de Malaca) e Bye bye dólar”, diz uma das publicações com mais de mil visualizações no X.

Entretanto, especialistas afirmam que a porcentagem verdadeira é cerca de metade do que as publicações alegam.

Andrzej Szczesniak, analista polonês da indústria do petróleo, disse em uma publicação no X em 25 de agosto que a nova coalizão do Brics controlaria 43% da produção e 41% dos depósitos de petróleo.

Outros dados confirmam essa afirmação.

Atualmente, o Brics controla 21% da produção de petróleo mundial, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). Se incluídos no grupo, os três membros da Opep adicionariam 20% da produção petrolífera do mundo à coalizão.

Diversos veículos de comunicação, como a revista norte-americana Forbes e o site de jornalismo de dados Visual Capitalism, publicaram informações similares.

“A adição da Arábia Saudita, do Irã e dos Emirados Árabes Unidos irá mais que dobrar a participação do Brics na produção de petróleo do mundo”, diz a legenda de um gráfico publicado pelo Visual Capitalist em 24 de agosto.

Os dados, retirados da organização britânica Energy Institute, indicam que a nova composição do grupo será responsável por 43.1% da produção global do combustível.

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Captura de tela feita em 8 de setembro de 2023 de um gráfico do site Visual Capitalist

O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think tank norte-americano, chegou a conclusões parecidas.

“A administração do mercado de petróleo permanecerá dentro do alcance da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e produtores aliados (Opep+)”, escreveu a organização em uma análise de 25 de agosto. “Mas, a longo prazo, uma expansão do Brics pode ser significativa para o mercado de energia”.

O CSIS indicou separadamente que mais de 40 outros países expressaram interesse em se juntar ao Brics.

Os Estados Unidos permanecem no topo do mercado petrolífero, segundo a agência governamental estadunidense Energy Information Administration (EIA). O país produz 20,2 milhões de barris por dia, o que corresponde a 20% da oferta global.

Seis dos outros dez maiores produtores da lista da EIA são membros do Brics ou estão prestes a serem incluídos no grupo.

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Captura de tela feita em 7 de setembro de 2023 do site US Energy Administration

Brics no cenário global

Criado em 2009, o grupo Brics se encontra anualmente para reafirmar o lugar de seus membros na economia global – por vezes em contraste com a dominância dos Estados Unidos e da União Europeia.

A mais recente cúpula do Brics em Joanesburgo realçou divisões com o Ocidente pela guerra na Ucrânia, com a ausência do presidente russo, Vladimir Putin, devido ao seu mandado de prisão internacional. A África do Sul, a China e a Índia ainda não se posicionaram publicamente contra a invasão russa.

Embora as alegações de dominância da produção petrolífera sejam falsas, postagens nas redes sociais também afirmam que o Produto Interno Bruto (PIB) do novo Brics “representará 30% do PIB mundial e ultrapassará os 30 bilhões de dólares”.

Os dados mais confiáveis disponíveis confirmam essa alegação.

A revista Visual Capitalist prevê, por exemplo, que o PIB combinado dos 11 países atingirá U$ 30.8 trilhões em 2023, pouco mais que 29% do PIB global total de U$ 105.6 trilhões, com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Referências

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