Brics não controla 80% da produção mundial de petróleo
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 13 de setembro de 2023 às 19:54
- 4 minutos de leitura
- Por Maja CZARNECKA, AFP Polônia, AFP França, AFP Canadá, AFP Brasil
- Tradução e adaptação Gwen ROLEY
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Nova composição dos BRICS controlará 80% da produção mundial de petróleo”, diz uma das publicações que somam mais de 16 mil interações no Facebook, no Instagram, no X (antes Twitter) e no Kwai.
Alegações similares também circulam em inglês, francês, alemão e polonês.
O grupo Brics – fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – anunciou em 24 de agosto que admitiria seis novos membros em 2024: Irã, Argentina, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Irã são grandes produtores de petróleo e membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Por isso, muitas publicações concluíram que a nova coalizão desestabilizaria a posição dos Estados Unidos na indústria petrolífera.
“BRICS tem 80% do petróleo mundial e exportador de gás, todos os minerais, fertilizante, todos os bens industriais, defesa, soja, trigo, milho e carne. Controla o cabo da Boa esperança, canal de Suez e estreito de Magalhaes. Só falta Indonésia (estreito de Malaca) e Bye bye dólar”, diz uma das publicações com mais de mil visualizações no X.
Entretanto, especialistas afirmam que a porcentagem verdadeira é cerca de metade do que as publicações alegam.
Andrzej Szczesniak, analista polonês da indústria do petróleo, disse em uma publicação no X em 25 de agosto que a nova coalizão do Brics controlaria 43% da produção e 41% dos depósitos de petróleo.
Outros dados confirmam essa afirmação.
Atualmente, o Brics controla 21% da produção de petróleo mundial, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). Se incluídos no grupo, os três membros da Opep adicionariam 20% da produção petrolífera do mundo à coalizão.
Diversos veículos de comunicação, como a revista norte-americana Forbes e o site de jornalismo de dados Visual Capitalism, publicaram informações similares.
“A adição da Arábia Saudita, do Irã e dos Emirados Árabes Unidos irá mais que dobrar a participação do Brics na produção de petróleo do mundo”, diz a legenda de um gráfico publicado pelo Visual Capitalist em 24 de agosto.
Os dados, retirados da organização britânica Energy Institute, indicam que a nova composição do grupo será responsável por 43.1% da produção global do combustível.
O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think tank norte-americano, chegou a conclusões parecidas.
“A administração do mercado de petróleo permanecerá dentro do alcance da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e produtores aliados (Opep+)”, escreveu a organização em uma análise de 25 de agosto. “Mas, a longo prazo, uma expansão do Brics pode ser significativa para o mercado de energia”.
O CSIS indicou separadamente que mais de 40 outros países expressaram interesse em se juntar ao Brics.
Os Estados Unidos permanecem no topo do mercado petrolífero, segundo a agência governamental estadunidense Energy Information Administration (EIA). O país produz 20,2 milhões de barris por dia, o que corresponde a 20% da oferta global.
Seis dos outros dez maiores produtores da lista da EIA são membros do Brics ou estão prestes a serem incluídos no grupo.
Brics no cenário global
Criado em 2009, o grupo Brics se encontra anualmente para reafirmar o lugar de seus membros na economia global – por vezes em contraste com a dominância dos Estados Unidos e da União Europeia.
A mais recente cúpula do Brics em Joanesburgo realçou divisões com o Ocidente pela guerra na Ucrânia, com a ausência do presidente russo, Vladimir Putin, devido ao seu mandado de prisão internacional. A África do Sul, a China e a Índia ainda não se posicionaram publicamente contra a invasão russa.
Embora as alegações de dominância da produção petrolífera sejam falsas, postagens nas redes sociais também afirmam que o Produto Interno Bruto (PIB) do novo Brics “representará 30% do PIB mundial e ultrapassará os 30 bilhões de dólares”.
Os dados mais confiáveis disponíveis confirmam essa alegação.
A revista Visual Capitalist prevê, por exemplo, que o PIB combinado dos 11 países atingirá U$ 30.8 trilhões em 2023, pouco mais que 29% do PIB global total de U$ 105.6 trilhões, com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Referências
- Publicação de Andrzej Szczesniak
- Reportagens sobre o Brics e o controle da produção de petróleo mundial (1, 2, 3)
- Dados do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais - CSIS (1, 2)
- Levantamento da Energy Information Association (EIA)