Estas fotos mostram um designer de videogames japonês, não o “assassino de Shinzo Abe”

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  • Publicado em 19 de julho de 2022 às 01:39
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  • Por AFP Hong Kong, AFP Brasil
Um compilado com três fotos foi compartilhado mais de 590 vezes nas redes sociais desde 10 de julho de 2022 juntamente com a alegação de que mostraria o suspeito do assassinato do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. A afirmação também foi compartilhada em um vídeo por um canal de TV grego e vista centenas de milhares de vezes antes de ser removida do YouTube. Na verdade, as fotos mostram o designer de videogame japonês Hideo Kojima, criador da série “Metal Gear”. A polícia nomeou o suspeito do assassinato como Tetsuya Yamagami, de 41 anos, que estava sob custódia em 15 de julho de 2022.
    

“Tetsuya Yamagami é o nome desse terrorista comunista! Imaginem se ele fosse de direita o escarcéu que a mídia esquerdista canalha mundial estaria fazendo?”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook e no Twitter. 

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Captura de tela feita em 15 de julho de 2022 de uma publicação no Facebook ( . / )

A alegação acompanha três fotos do mesmo homem. Na primeira, ele aparece usando um chapéu da antiga União Soviética; na segunda, ele é visto posando em frente a um retrato do revolucionário comunista argentino Che Guevara; na foto final, ele veste uma camiseta estampada pelo vilão de quadrinhos Coringa e carrega uma bolsa com o rosto de Che Guevara.

Conteúdo semelhante também circulou em chinês e espanhol.

A alegação começou a ser compartilhada nas redes depois que Shinzo Abe, o primeiro-ministro que ocupou o cargo por mais tempo no Japão e que renunciou em 2020 por motivos de saúde, foi morto a tiros no último dia 8 de julho enquanto fazia campanha na região de Nara para as eleições do Senado.

No mesmo dia do crime, a polícia japonesa identificou o suspeito pelo assassino como Tetsuya Yamagami, um desempregado de 41 anos, que disse aos policiais ter usado uma arma artesanal.

A agência de notícias grega ANT1 compartilhou a desinformação em seu canal do YouTube, mas posteriormente a removeu.

O compilado de fotos também foi compartilhado pelo político francês Damien Rieu, que depois deletou seu tuíte e publicou um pedido de desculpas, admitindo que havia "errado em não verificar antes de compartilhar".

Mas as fotos mostram o designer de videogame japonês Hideo Kojima, não o homem que a polícia deteve após o assassinato de Abe.

Identidade errada 

Uma busca reversa pelas imagens junto com palavras-chave no Google levou a fotos idênticas publicadas no Twitter em 2017 e 2019 (1, 2) pelo perfil @Kaizerkunkun.

A conta se identifica como sendo da assistente pessoal de Kojima e é seguida por ambas as contas verificadas de Kojima no Twitter e de seu estúdio de desenvolvimento de jogos Kojima Productions.

Todas as três fotos também foram retuitadas pela conta verificada de Kojima no Twitter.

De fato, uma foto de Kojima da Getty Images e uma outra imagem feita pela dpa Picture Alliance mostram o mesmo homem retratado nas postagens enganosas.

Abaixo, comparações de capturas de tela das fotos compartilhadas nas publicações falsas (esquerda) e as fotos das agências fotográficas (direita):

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Comparações de captura de tela das fotos compartilhadas nas postagens enganosas (esq.) e outras fotos de Kojima (dir.) ( . / )

Depois de a falsa alegação se espalhar amplamente pelas redes, a Kojima Productions emitiu um comunicado em 9 de julho alertando que poderá tomar medidas legais “em alguns casos”.

"A #KojimaProductions condena veementemente a disseminação de notícias falsas e rumores que transmitem informações falsas. Não toleramos tal difamação e consideraremos tomar medidas legais em alguns casos", diz o comunicado.

A desinformação parece ter se originado no 4chan, um site anônimo de imagens em inglês, informou a revista Vice.

Uma captura de tela do post do 4chan foi tuitada, com o assassino identificado incorretamente como Samyueru Hydeo, de 58 anos, de Tóquio.

A alegação já foi desmentida por vários meios de comunicação internacionais, incluindo The Washington Post, The Verge e CNET e também repercutiu na imprensa brasileira (1, 2). 

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