O BNDES não investiu R$ 320 milhões em empresa que administra a carreira do cantor Gusttavo Lima

  • Este artigo tem mais de um ano
  • Publicado em 6 de junho de 2022 às 21:47
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Publicações que acumulam mais de 5 mil interações nas redes sociais desde 29 de maio de 2022 afirmam que o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) fez um investimento de R$ 320 milhões na empresa que gere a carreira do cantor sertanejo Gusttavo Lima. A informação é falsa. Na verdade, o BNDES investiu essa quantia em um fundo de investimentos em conjunto com a One7, empresa cotista de um outro fundo que possui os direitos de comercialização de alguns shows do cantor. O fundo do qual participa o BNDES tem capital aportado de R$ 400 milhões e é destinado ao financiamento de crédito a microempreendedores individuais e a pequenos e médios varejistas do setor de comércios e serviços.  

“Como pode o BNDES investir R$320.000.000,00 numa empresa como a One7 Que tem um capital de R$50.000,00 e administra a carreira do Gustavo Lima?”, diz uma das publicações no Twitter (1, 2). Publicações similares circulam no Facebook (1, 2) e no Instagram (1, 2). 

Image
Captura de tela feita em 31 de maio de 2022 de uma publicação no Twitter ( . / )

 

No entanto, uma pesquisa na internet pelas palavras-chaves BNDES, One7 e 320 milhões levou a uma nota do próprio banco divulgando o fundo de investimentos realizado em parceria com as empresas One7, XP Asset e Acqia. 

De acordo com a nota divulgada em 10 de dezembro de 2021, o fundo de investimentos tem como objetivo ajudar micro e pequenos empreendedores afetados pela pandemia. O valor de R$ 320 milhões apontado pelas postagens virais é o aporte que o banco estatal fará no FIDC e não um investimento ou um empréstimo realizado a qualquer outra empresa que faça parte desse mesmo fundo. O restante dos R$ 400 milhões será completado pelo aporte de R$ 60 milhões da XP Asset e de R$ 20 milhões da One7. 

Ainda de acordo com a nota de dezembro do ano passado, “o fundo é o sétimo contratado por meio da Chamada Pública. Além do FIC FIDC XP Brasil MPME, receberam recursos da chamada os FIDCs das empresas CashMe-Plural, Captalys, SRM, Cielo, SumUp e BizCapital. No total, o BNDES já comprometeu cerca de R$ 2,5 bilhões para esses fundos, que totalizam R$ 3,1 bilhões em recursos totais para as PMEs. Ao todo, estima-se entre 500 mil e 800 mil autônomos, micro e pequenos empresários e autônomos poderão obter crédito mais barato e acessível”

Procurado pelo AFP Checamos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Nacional (BNDES) esclareceu que “é cotista do Fundo de Crédito denominado XP MPME I FIC FIDC (‘FIC FIDC XP’)”, que tem como gestora a XP e como “fintechs” a One7 e a Acqio, e acrescentou: 

“Não há outro Fundo que envolva qualquer uma dessas instituições que conte com a participação do BNDES. O FIC FIDC XP tem o objetivo de  facilitar o acesso a crédito para as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs). Portanto, seus recursos não são direcionados à prestação de serviços artísticos”

O fundo está registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do Governo Federal. 

Image
Captura de tela feita em 2 de junho de 2022 do registro do fundo de investimentos no site da CVM ( . / )

O banco ainda detalhou que “o funcionamento de um Fundo de Crédito exige estrita observância ao seu regulamento, sendo prevista, inclusive, uma auditoria de lastro, a fim de verificar se os créditos concedidos respeitaram as regras estabelecidas”.

Por sua vez, a One7, em nota encaminhada ao Checamos, esclareceu que é “uma plataforma de serviços financeiros composta por fundos de investimentos (FIDCs e FIC) e uma securitizadora de crédito, as quais têm como objetivo a aquisição de direitos creditórios, ou seja, não possuindo qualquer veículo jurídico para a administração de carreira de artistas”

Uma consulta no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) mostra que a One7 aparece registrada com a atividade: "Securitização de créditos”.

A empresa também esclareceu sobre sua participação no fundo Four Even FIDC, que detém os direitos de alguns shows de Gusttavo Lima e de outros artistas: “O fundo Four Even FIDC, do qual a One7 é apenas cotista (por meio do seu fundo de investimento em cotas de FIDC), detém os direitos de alguns shows da agenda de diferentes artistas. Entretanto, não administra a carreira de nenhum deles”

Assim como o BNDES, a One7 destaca que o fundo do qual faz parte com o banco não possui qualquer relação com as operações do fundo Four Even FIDC e que o seu objetivo é a oferta de crédito para micro e pequenas empresas. “Vale destacar que este fundo tem como vocação a oferta de crédito para micro e pequenas empresas no país, com critérios de elegibilidade de acordo com o regulamento do fundo, que pode ser obtido no site da CVM. Esses recursos não podem financiar quaisquer eventos artísticos”
 
Procurada pelo AFP Checamos, a empresa Balada Eventos, cujo proprietário é o cantor Gusttavo Lima, não respondeu até a publicação deste artigo.

O conteúdo das postagens viralizadas também foi checado pelo Uol Confere.  

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco