Análise de imagens da Nasa mostra que há focos de incêndio na Floresta Amazônica

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  • Publicado em 4 de agosto de 2020 às 22:26
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  • Por AFP Brasil
Publicações compartilhadas dezenas de vezes nas redes sociais desde o final de julho mostram uma imagem de satélite da agência espacial norte-americana e indicam que ela prova que a “Floresta Amazônica não está em chamas”. O presidente Jair Bolsonaro, inclusive, usou a mesma reprodução em uma live em 23 de julho e afirmou que “a floresta não pega fogo”. Uma análise dos dados de focos detectados pelo próprio sistema da Nasa, contudo, permite concluir que há, sim, queimadas nesta região.

“Imagem da NASA prova que a Floresta Amazônica NÃO está em chamas… Os incêndios registrados no Brasil perdem para os da Argentina e nem se comparam com os da África”, afirmam as postagens compartilhadas no Facebook desde o último dia 22 de julho. Há, também, reproduções da imagem com esta afirmação no Twitter.

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Captura de tela feita em 3 de agosto de 2020 de uma publicação no Facebook

Um dia depois, durante a sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro utilizou a mesma imagem do satélite da Nasa e fez a seguinte declaração: “Compare aqui, o que está de vermelho aí, o foco de calor, incêndio. Compare o Brasil com a parte subsaariana [...] Então a Nasa aqui, demonstrando, e a crítica é só ao Brasil. Se vocês olharem bem, na  região Amazônica não tem nada vermelho, não pega fogo. A floresta não pega fogo”.

Uma comparação entre os dados de focos de 24 de julho, um dia após o presidente Jair Bolsonaro abordar o tema, no Sistema de Informações sobre Incêndios para Gerenciamento de Recursos (FIRMS, na sigla em inglês) da Nasa e o mapa da Floresta Amazônica da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) permite concluir, contudo, que existem focos de incêndio nesta região florestal.

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Comparação feita em 24 de julho de 2020 entre imagens de satélite do FIRMS da Nasa e mapa da floresta Amazônica da RAISG

Essa informação é corroborada por dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que registrou, no último mês de junho, o maior número de incêndios no bioma Amazônico neste mês desde 2007, com 2.248 focos.

No total, de 1º de janeiro até 3 de agosto deste ano, foram 17.482 focos de incêndios detectados na floresta - número 4% inferior aos 18.340 registrados no mesmo período do ano anterior, mas ainda superior aos identificados nos respectivos meses em 2018 e 2017.

Ainda segundo o INPE, os incêndios no Pantanal brasileiro, situado ao sul da Amazônia, triplicaram (+203%) entre janeiro e 3 de agosto deste ano com relação ao mesmo período de 2019.

Uma visualização mais detalhada do próprio site do Sistema de Informações sobre Incêndios para Gerenciamento de Recursos, da Nasa, em 18 de julho - data mencionada nas postagens viralizadas - e 23 de julho - data da live de Bolsonaro - mostra a quantidade de focos de incêndio na região amazônica brasileira.

As publicações mencionam a quantidade de marcações vermelhas na área conhecida como África subsaariana, região também citada durante a live presidencial, fazendo uma comparação com o bioma amazônico.

De fato, a agência espacial norte-americana mostra uma grande concentração de focos de incêndio nos países africanos localizados ao sul do Deserto do Saara.

Em junho do ano passado a Nasa explicou que incêndios são comuns na África nesta época do ano devido a uma prática de agricultura empregada no continente.

“Chamado de ‘corte e queima’ esse tipo de limpeza de campo é barato e demanda pouca tecnologia. E funciona. A camada resultante de cinzas gerada pela técnica de corte e queima fornece à terra recém-limpa uma camada rica em nutrientes para ajudar a fertilizar as plantações”, afirmou a agência.

“Isso não quer dizer que todos os incêndios dessa imagem [de 2019] estão controlados e contidos. Frequentemente, incêndios gerados para renovar os campos podem ficar fora de controle à medida que o vento ou tempestades movem o fogo para fora da área que seria limpa. O que é certo é que esses incêndios estão queimando há pelo menos um mês”, completou.

As publicações mencionam igualmente as queimadas na Argentina. O país, de fato, tem lidado com pontos de incêndio devido à queima de pastos no delta do rio Paraná, o que tem afetado neste mês de julho a biodiversidade e a população de localidades próximas, segundo o governo. 

De acordo com o Observatório da Nasa, um período prolongado de seca juntamente com o clima quente fez com que o rio Paraná atingisse seu nível mais baixo em décadas. Cientistas da Universidade Nacional de San Martín detectaram até 22 de julho mais de 1.450 pontos ativos no delta do rio Paraná, o maior número desde 2008.

O AFP Checamos já verificou algumas falas do presidente Bolsonaro a respeito do meio ambiente em sua live semanal.

Em resumo, são falsas as publicações que afirmam que uma imagem de satélite da Nasa mostra que a Amazônia não está em chamas. Uma análise dos números e das imagens do próprio Sistema de Informações sobre Incêndios para Gerenciamento de Recursos, da Nasa, comprovam que existem focos de incêndio na Floresta Amazônica.

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