O edifício do vídeo não é o Parlamento francês, mas o Conselho Regional da cidade de Limoges

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  • Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 22:28
  • Atualizado em 5 de janeiro de 2021 às 14:45
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  • Tradução e adaptação AFP Brasil
Um vídeo em que manifestantes usam cimento e blocos para impedir o acesso a um prédio foi compartilhado mais de 10.000 vezes nas redes sociais desde 14 de dezembro, afirmando que são cidadãos que "fecham" o Parlamento francês. A afirmação é falsa. As imagens são de 2018 e mostram um protesto em frente ao prédio do Conselho Regional da cidade de Limoges, não a sede do Legislativo francês.

Franceses fecham a porta do Parlamento com cimento, já que os deputados em lugar de representar o povo, servem aos globalistas. É uma boa ideia a ser implementada por aqui”, afirma-se em uma das publicações no Facebook (1, 2, 3), que compartilham o vídeo de um protesto em que várias pessoas colocam blocos de cimento para obstruir a porta de um prédio. 

O vídeo também foi compartilhado no Twitter (1, 2, 3) e no Instagram, além de em inglês, francês, espanhol e romeno.

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Captura de tela realizada em 4 de janeiro de 2020 de uma publicação no Facebook

Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave francesas "França", "coletes amarelos" (usados pelas pessoas nas imagens) e "muro" resultou no mesmo vídeo, postado em 25 de novembro de 2018 no YouTube por um usuário que informou que o prédio pertencia à "prefeitura" da cidade francesa de Limoges.

Após adicionar a palavra "Limoges" à pesquisa, apareceram mais artigos de meios de comunicação locais (1, 2) sobre um protesto ocorrido em 24 de novembro de 2018 nessa cidade - localizada a 400 quilômetros de Paris -, realizado pelos "coletes amarelos”, um movimento de protesto popular que surgiu na França em outubro de 2018. 

De acordo com a mídia local, os participantes do ato de vídeo viralizado tentaram bloquear a entrada do prédio do Conselho Regional (não o prédio da prefeitura, como sugerido no YouTube) usando ferramentas industriais.

No vídeo, pode-se observar no muro ao lado da porta o antigo logotipo da região de Nova Aquitânia, à qual pertence a cidade de Limoges.

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Captura de tela realizada em 4 de janeiro de 2020 de uma publicação no Facebook

Uma nova pesquisa no Google Street View pelo prédio do Conselho Regional de Nova Aquitânia em Limoges encontrou a localização exata.

Veículos de mídia locais informaram na época (1, 2) que "3.000 pessoas, segundo os participantes, 1.600 segundo a polícia, fizeram manifestações em Limoges, destruindo cerca de cinquenta radares e parquímetros na área e bloqueando a entrada de um edifício do Conselho Regional, antes de descarregar esterco".

A AFP também registrou o momento do protesto.

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Manifestantes descarregam esterco no pátio após colocar blocos de cimento na sede da região de Nova Aquitânia, em Limoges, em 24 de novembro de 2018 (Pascal Lachenaud / AFP)

Questionada sobre o fato pela AFP no último dia 17 de dezembro, uma fonte policial disse que ninguém apresentou queixa ou foi condenado após a ação.

O Parlamento francês, mencionado nas postagens compartilhadas nas redes sociais, é na verdade uma instituição bicameral composta pelo Senado e pela Assembleia Nacional, cada um instalado em um prédio diferente. O mais conhecido como “Parlamento” é o Palais Bourbon, edifício-sede da Assembleia Nacional.

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"Palais Bourbon", sede da Assembleia Nacional Francesa, em Paris, em 3 de março de 2020
(Ludovic Marin / AFP)

Embora os protestos dos coletes amarelos tenham diminuído desde 2018, eles continuam fazendo aparições nas cidades francesas. Em 12 de setembro de 2020, por exemplo, uma manifestação convocada nas ruas de Paris terminou com a detenção de umas 280 pessoas.

Em resumo, o vídeo não mostra manifestantes fechando o Parlamento francês com blocos de concreto; as imagens são, na verdade, de 2018 e mostram uma manifestação em frente ao prédio do Conselho Regional na cidade de Limoges, a 400 quilômetros de Paris.

EDIT 05/01: Corrige link no segundo parágrafo.

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