Bolinho “Luppo” não chegou ao Brasil e não há evidências de que possui comprimidos paralisantes

  • Publicado em 30 de outubro de 2024 às 14:46
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Um vídeo viral mostra um suposto bolinho “Luppo” que teria chegado ao Brasil, com a alegação de que contém dois comprimidos paralisantes. Mas o conteúdo, compartilhado centenas de vezes nas redes sociais desde 18 de outubro de 2024, circula desde 2019 e já foi desmentido por exames laboratoriais, que não encontraram evidências de contaminação no produto. Além disso, consultas aos registros da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmaram que o alimento não tem licença de comercialização no Brasil.

“Esse biscoito acabou de chegar no Brasil. E dentro dele vem 2 comprimidos pequenos que causam paralisia. Ajudem a divulgar!”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X, no TikTok e no Kwai.

O conteúdo também circula em cingalês e urdu.

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Captura de tela feita em 25 de outubro de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Na sequência viral, uma pessoa abre o pacote de um bolinho chamado “Luppo”. Em seguida, ao partir o produto ao meio, encontra o que parecem ser dois comprimidos brancos dentro da massa.

Luppo é uma marca registrada de bolinhos produzidos pela Şölen, uma fabricante de salgadinhos e guloseimas baseada em Istambul, na Turquia.

Contudo, a alegação de que esses “biscoitos” turcos teriam chegado ao Brasil e conteriam comprimidos paralisantes é falsa e já foi verificada pela AFP em 2022.

Investigação desde 2019

Uma consulta à lista de alimentos autorizados a serem comercializados no Brasil pela Anvisa em 28 de outubro de 2024 não encontrou nenhum produto de nome “Luppo” ou da marca “Şölen” registrado na instituição, requisito obrigatório para que um alimento seja ofertado à população.

Em setembro de 2022, Oktay Dogan, gerente regional de exportação da Şölen, afirmou à AFP que a alegação de que havia pílulas paralisantes escondidas dentro de seus bolos era “infundada”.

“Desde que as publicações circularam online em 2019, a Şölen tem lidado meticulosamente com o assunto e até entrou com uma ação judicial no Iraque, onde as publicações enganosas surgiram”, afirmou.

A gravação já foi desmentida também por várias organizações de checagem de fatos nacionais e internacionais (1, 2, 3).

Em novembro de 2019, o portal de notícias turco Teyit reportou que “nenhuma evidência” havia sido “encontrada nos resultados laboratoriais de investigadores independentes no Chocolate Şölen”, produto exibido nas publicações virais.

Pesquisas no Google por palavras-chave em turco encontraram resultados laboratoriais publicados no site do Consórcio de Varejo Britânico (BRC, na sigla em inglês), associação que certifica a qualidade de produtos e empresas.

Os resultados mostram que o teste de laboratório do produto — conduzido pela empresa de testes e certificação SGS no Reino Unido — atingiu a maior nota possível do sistema de classificação Brand Reputation through Compliance of Global Standards (BRCGS).

Em 2019, o portal de verificação Snopes publicou diversos documentos apresentados pela empresa que atestavam a qualidade de seus produtos, a partir de certificações emitidas pela SGS.

A certificação emitida pelo BRC em relação à Şölen foi renovada em 25 de outubro de 2024, ainda com a nota mais alta do sistema de qualificação.

Referências

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