Vídeo de máquina de arroz não mostra grãos “de plástico” da China importados pelo Brasil

  • Publicado em 24 de maio de 2024 às 21:36
  • 5 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em 9 de maio de 2024, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a importação de arroz, visando impedir a falta do grão produzido majoritariamente no Rio Grande do Sul, devido às enchentes que afetam o estado. Nesse contexto, publicações com mais de 8 mil visualizações compartilham um vídeo de uma “máquina de arroz” com a alegação de que mostraria “arroz de plástico” vindo da China e importado pelo Brasil. Mas isso é falso: a gravação mostra um equipamento de extrusão de arroz fortificado com nutrientes. Até o momento, não foram divulgados os países que fornecerão arroz ao Brasil.

“O arroz que o Estado vai providenciar para o Brasil. Feito de plástico importado da China”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X, no Kwai e no Telegram.

O conteúdo também foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem encaminhar mensagens vistas em redes sociais, caso duvidem de sua veracidade.

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Captura de tela feita em 22 de maio de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Na sequência, dois homens operam uma máquina. Primeiro, inserem um líquido transparente, como água, e um pó branco, como farinha, em um dos tubos do equipamento, que então transforma os ingredientes em uma mistura que é expelida em finas tiras onduladas.

Em seguida, encaixam um instrumento de corte na extremidade de onde saem as tiras, resultando na produção de inúmeros grãos brancos muito similares ao arroz comum. No canto superior esquerdo, é possível identificar uma marca d’água com o nome “Sunpring”.

As publicações circulam em meio ao anúncio do governo federal em 9 de maio de 2024 sobre a importação sob tarifas zeradas de toneladas de arroz de outros países ao longo de 2024. A medida tem em vista os futuros impactos na safra e no preço dos produtos após enchentes que afetaram mais de 460 cidades no Rio Grande do Sul, estado que concentra 70% da produção nacional do grão.

Contudo, a gravação de uma fábrica chinesa não mostra a produção de “arroz de plástico” importado pelo Brasil.

“Arroz fortificado”

A sequência viralizada já foi tema de desinformação em julho de 2023, quando publicações nas Filipinas compartilhavam a mesma alegação falsa sobre o “arroz de plástico” que estaria sendo comercializado no país.

Uma busca por fragmentos do vídeo no Google conduziu a uma publicação no YouTube de 13 de agosto de 2021, intitulada, em tradução livre do inglês: “Extrusora de arroz artificial máquina de fazer arroz nutricional FRK máquina de arroz fortificado”.

O conteúdo foi publicado no canal da SunPring Extrusion — uma empresa baseada na China que fabrica máquinas de alimentos.

No vídeo, é possível identificar os mesmos elementos presentes na sequência viral, como os dois operários e o alimento saindo da máquina:

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Comparação feita em 23 de maio de 2024 entre capturas de tela de uma publicação no X (E) e um vídeo publicado no YouTube (.)

De acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas, a fortificação do arroz aumenta a quantidade de vitaminas e minerais essenciais no alimento.

Segundo a instituição, o processo ajuda a “aumentar a qualidade da oferta alimentar e combater deficiências de micronutrientes entre os mais pobres”.

Os grãos de arroz fortificado são feitos de “farinha de arroz não fortificado, uma mistura de vitaminas e minerais, água e vapor” com o uso de máquinas extrusoras — que passam um elemento através de um molde, definindo a sua forma final —, explica o documento do PMA.

Quando o conteúdo viral circulou pela primeira vez, um porta-voz da SunPring Extrusion confirmou à AFP que a sequência viralizada mostra uma “extrusora de alimentos de parafusos duplos” produzindo arroz fortificado — e não arroz de plástico —, utilizando farinha de arroz quebrado como o principal ingrediente.

Rosaly Manaois, especialista sênior de pesquisa científica no Instituto de Pesquisa de Arroz das Filipinas, disse à AFP em 19 de junho de 2023 que supostos relatos sobre arroz de plástico não tinham sido verificados. “Houve relatos sobre a proliferação de ‘arrozes de plástico’ em diferentes países, supostamente vindos da China, mas nenhum deles foi confirmado”, explicou.

Importação de arroz

Em 9 de maio de 2024, o governo federal publicou uma medida provisória que permite a importação de até um milhão de toneladas de arroz ao longo de 2024 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por meio de leilões públicos, para mitigar as consequências econômicas e sociais da tragédia no Rio Grande do Sul.

A decisão de importar arroz, apesar de ter sido celebrada por alguns, foi contestada pelo presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, que considerou a medida “desnecessária” em uma entrevista à CNN. A opinião encontra respaldo em parte dos comentários nas redes sociais.

A intenção, segundo declarações do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, era obter 100 mil toneladas em uma transação que priorizaria países vizinhos, membros do Mercosul. Contudo, em 21 de maio, o leilão foi suspenso após o bloco ter aumentado o valor do arroz em até 30%.

Após o governo ter zerado a tarifa de importação do grão, é possível que a compra seja feita com países de fora do Mercosul, como a Tailândia, o maior produtor de arroz do mundo e que já exportou o produto para o Brasil anteriormente em situações emergenciais, como durante a pandemia.

Até o momento desta publicação, os detalhes exatos da operação, como os países específicos que fornecerão arroz ao Brasil, ainda não foram divulgados.

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