Biden não declarou a Páscoa como o Dia da Visibilidade Trans, data fixa desde 2009

O Dia Internacional da Visibilidade Trans é celebrado todo 31 de março desde 2009 e, em 2024, coincidiu com o domingo de Páscoa. Diante disso, publicações com mais de 13 mil interações apontam que o presidente norte-americano Joe Biden (Partido Democrata) uniu as duas datas e proibiu que crianças pintassem ovos com símbolos religiosos nas celebrações da Casa Branca. Mas, além de assinalar a coincidência no calendário, porta-vozes do governo dos Estados Unidos afirmaram que as festividades oficiais seguem orientações federais de não discriminação há décadas. 

“Indignação quando Biden proclama o Domingo de Páscoa como o ‘Dia Trans da Visibilidade’- enquanto a Casa Branca PROIBE crianças de enviarem designs de ovos de Páscoa com tema religioso em evento anual para famílias de militares”, diz o que parece ser um título noticioso na imagem compartilhada no Facebook e no Instagram

Alegação similar também circula no Kwai, no X, no Telegram e em outros idiomas, como inglês e espanhol

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Captura de tela feita em 2 de abril de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Algumas publicações virais compartilham uma captura de tela traduzida para o português de uma manchete do Daily Mail, enquanto outras anexam a tradução da proclamação de Biden, em 29 de março de 2024, determinando a celebração, em 31 do mesmo mês, do Dia da Visibilidade Trans. 

A data anual celebra e conscientiza sobre os direitos e reivindicações das pessoas transgênero, que possuem uma identidade ou expressão de gênero diferente da qual foram designadas quando nasceram. 

Nos Estados Unidos, Biden também declarou 31 de março como o Dia de César Chávez, um trabalhador agrícola migrante.

A declaração foi alvo de críticas nas redes sociais por membros do Partido Republicano estadunidense e pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acusou o mandatário de cometer “blasfêmia” e disse que a medida fazia parte de um “ataque de anos do governo Biden à fé cristã”, já que no dia 31 também foi comemorado o domingo de Páscoa.

Contudo, as celebrações no mesmo dia foram uma coincidência, uma vez que o Dia da Visibilidade Trans é uma comemoração com data fixa no calendário, e a Páscoa, não. 

Coincidência de datas 

O Dia Internacional da Visibilidade Trans se comemora anualmente em 31 de março e foi criado em 2009 por Rachel Crandall, ativista transgênero de Michigan, como confirmou à AFP Brandon Wolf, secretário de imprensa do Human Rights Campaign, grupo de defesa dos direitos LGBTQ.

Não é a primeira vez que Biden proclama 31 de março como o Dia da Visibilidade Trans. O mesmo já aconteceu em 2023 e 2022, quando a Páscoa foi celebrada em 9 de abril e 17 de abril, respectivamente.

Em contrapartida, o domingo de Páscoa é uma data móvel, ou seja, ela muda a cada ano. A festividade sempre acontece no primeiro domingo após a primeira lua cheia. No Brasil, ela também é calculada após 47 dias do carnaval.

A última vez que o domingo de Páscoa caiu em 31 de março foi em 2013, segundo um censo de dados e datas dos Estados Unidos.  

Ao ser consultado sobre a coincidência entre as datas, o subsecretário de imprensa da Casa Branca e assessor principal de comunicação, Andre Bates, explicou à AFP por e-mail que “como cristão que celebra a Páscoa em família, o presidente Biden defende unir as pessoas, a dignidade e a liberdade de todos os estadunidenses”.

“Lamentavelmente, não surpreende que políticos busquem dividir e enfraquecer o nosso país com uma retórica cruel, cheia de ódio e desonesta. O presidente Biden nunca abusará de sua fé com finalidades políticas ou por lucro”, complementou.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em uma coletiva de imprensa em 1º de abril de 2024, disse estar “surpresa com toda a desinformação que o tema teve” e reafirmou que o Dia da Visibilidade Trans se celebra a cada 31 de março, ao passo que a Páscoa cai em dias diferentes.

“Este ano coincidiu com o Dia da Visibilidade Transgênero. Simples assim. Foi isso o que aconteceu”, reforçou.

Biden publicou um comunicado em 31 de março desejando votos de feliz Páscoa aos “cristãos de todo o mundo” que celebravam a festividade. “A Páscoa nos recorda o poder da esperança e a promessa da ressurreição de Cristo”, completou. 

Proibição de símbolos religiosos

As publicações virais também apontam que a Casa Branca proibiu “crianças de enviarem designs de ovos de Páscoa com tema religioso em evento anual para famílias de militares”.

Uma publicação no perfil do Facebook do programa familiar da Guarda Nacional de Missouri explicou que, “a cada ano, a primeira-dama em conjunto com o ‘American Egg Board’ apresenta uma exibição de ovos reais que representam os 54 estados, territórios e o Distrito de Columbia ao longo da Colunata Leste da Casa Branca”

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao lado de coelhos da Páscoa, durante a ronda anual de ovos de Páscoa da Casa Branca, em 1º de abril de 2024 (AFP / Jim WATSON)

A tradição se iniciou em 1976 com o American Egg Board apresentando um ovo comemorativo à primeira-dama. Em 2021, a Casa Branca incorporou essa iniciativa à comemoração da Páscoa ao colocar em exibição os ovos produzidos por jovens e crianças.

Nas restrições oficiais para a inscrição no concurso, se especifica que “o envio não deve incluir nenhum conteúdo questionável, símbolo religioso, tema abertamente religioso ou declarações políticas partidárias”.

A assistente adjunta do presidente na Casa Branca e diretora de comunicação da primeira-dama, Elizabeth Alexander, afirmou no X que “a linguagem padrão de não discriminação no folheto do American Egg Board é utilizada há 45 anos em todas as administrações democratas e republicanas (...), incluindo a administração anterior”.

Assim também informou Emily Metz, presidente e diretora executiva do American Egg Board, em uma nota enviada à AFP: “A linguagem das diretrizes mencionadas nas notícias recentes é aplicada consistentemente na organização desde a sua fundação, em todas as administrações”.

Metz acrescentou que a organização foi criada em 1976 pelo Congresso estadunidense como programa do Departamento de Agricultura.

“Sempre teve que operar dentro das orientações federais para todas as suas atividades. O American Egg Board e outros conselhos de produtos básicos proíbem a discriminação em todos os programas e atividades por motivos de religião, crenças políticas e todas as demais categorias indicadas”, finalizou.  

Essa alegação também foi verificada por Aos Fatos e Reuters

Referências 

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