Stanley Kubrick não “confessou” que pouso na Lua foi falsificado; um ator protagonizou a cena

O diretor de cinema norte-americano Stanley Kubrick não “confessou” em um vídeo que a primeira viagem à Lua, em 1969, foi uma montagem feita em estúdio, e que foi gravada por ele próprio, ao contrário do que afirmam publicações que somam milhares de interações nas redes sociais desde agosto de 2023 e que voltaram a circular em 2024. Na realidade, o homem visto em sequência viral é um ator que interpretou Kubrick em um filme. O cineasta morreu dois meses antes da data em que o vídeo foi supostamente gravado.

“Foi tudo uma Fraude.! Stanley Kubrick confessa para todos os fãs sobre a simulação das falsas alunagens com a conivência do Governo dos EUA e da NASA”, diz uma das publicações que compartilham a sequência no Facebook, no Kwai e no TikTok.

O conteúdo circula também em espanhol e italiano.

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Captura de tela feita em 5 de março de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Em 20 de julho de 1969 a missão Apollo 11 fez um pouso histórico na Lua. Quatro dias antes, a tripulação composta por Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins, havia decolado da plataforma LC-39A do Centro Espacial Kennedy em Cabo Canaveral, na Flórida, e iniciado um percurso até o satélite natural.

Cena retirada de um filme

No vídeo compartilhado pelos usuários, de aproximadamente 3 minutos, um homem com barba branca e óculos aparece no primeiro plano da imagem sendo entrevistado. Essa pessoa, que supostamente é o diretor Stanley Kubrick, afirma que a chegada à Lua em 1969 foi uma farsa e que os “teóricos da conspiração têm razão”.

“Eu participei de uma grande farsa que estou prestes a revelar, que envolve o governo dos Estados Unidos e a Nasa. Estou seguro de que você já ouviu os rumores de que o pouso na Lua foi falso. A alunagem foi falsa e eu fui a pessoa que a filmou”, disse no vídeo.

Uma busca reversa no Google por fragmentos do vídeo junto às palavras “Kubrick” e “alunagem” mostrou que a sequência faz parte de um filme de 2015 chamado “Shooting Stanley Kubrick” de T. Patrick Murray.

No filme, o personagem do famoso diretor dá uma última entrevista dias antes de sua morte e admite que sua fama se deve à proximidade com o governo dos Estados Unidos e com a Nasa.

Na conta de Murray no YouTube é possível ver um vídeo de pouco mais de 1 hora e 20 minutos publicado em 2 de novembro de 2016 com o título “KUBRICK RAW EDIT FIN”, com uma edição completa dos trechos que aparecem em seu filme. 

Os elementos visuais dessa gravação correspondem com o vídeo compartilhado nas publicações viralizadas. Algumas partes, em que a iluminação é mais parecida com a das postagens nas redes sociais, não possuem som, como a partir do minuto 39:05 ou do  55:18.

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Comparação feita em 5 de março de 2024 entre o vídeo no YouTube e uma das publicações no Facebook (.)

Segundo o site do filme, que não está mais disponível mas pode ser visto em versão arquivada, o diretor T. Patrick Murray supostamente entrevistou Kubrick em maio de 1999. Porém, Kubrick faleceu dois meses antes, em 7 de março daquele ano.

Instruções ao ator

No mesmo vídeo do YouTube, a partir do minuto 24:12, o entrevistador chama o suposto Kubrick de “Tom”. O ator que dá vida a Kubrick no documentário é Tom Mayk. Além disso, se escuta a partir do minuto 36:06 o suposto entrevistador lendo as falas correspondentes do roteiro para que Mayk possa repeti-las.

Ao final, no minuto 1:19:33, o interlocutor dá instruções para o ator sobre como interpretar corretamente Kubrick. “Quando eu falo, ou mesmo quando você fala, abaixe um pouco os óculos e olhe sobre eles, isso é a única coisa que notei que ele [Kubrick] faz”, ressalta.

Em sua conta no YouTube, o diretor também publicou outro vídeo em novembro de 2016 com o título “KILLING KUBRICK RAW”, em que é possível escutar mais instruções que foram dadas ao ator.

A AFP entrou em contato com o diretor do filme, mas não obteve resposta.

Por sua vez, Vivian Kubrick, a filha de Stanley Kubrick, afirmou em uma publicação no X em julho de 2016 que as teorias da conspiração sobre o pouso na Lua ter sido falso e que seu pai o filmou eram uma “mentira grotesca”.

A AFP já verificou em outros idiomas informações falsas sobre a chegada do homem à Lua, como um vídeo editado do astronauta Buzz Aldrin e uma análise feita com inteligência artificial, que supostamente provava que as fotos do pouso na Lua eram falsas.

Referências

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