Publicações enganam ao alegar que Adélio Bispo não teve seu celular periciado

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  • Publicado em 9 de maio de 2023 às 16:35
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  • Por AFP Brasil
Os celulares de Adélio Bispo, responsável pelo ataque com faca contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foram, sim, investigados, ao contrário do que afirmam publicações compartilhadas milhares de vezes nas redes sociais desde 7 de maio de 2023. A alegação, que já circulou diversas vezes desde o atentado em 2018, voltou às redes após a Polícia Federal apreender o celular de Bolsonaro em uma operação sobre suposta fraude de cartão de vacinação. No entanto, inquéritos policiais mostram que a PF periciou dados de quatro celulares e números telefônicos que pertenciam a Adélio.

“Invadir o celular de um ex-Presidente para saber se ele tomou vacina, PODE. Investigar o celular de um criminoso que tentou assassinar o Presidente, NÃO PODE”, lê-se em uma imagem compartilhada milhares de vezes no Facebook, no Instagram, no Kwai, no TikTok e no Twitter.

Trata-se de uma combinação de fotos do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Adélio Bispo. As postagens surgem após o celular do ex-mandatário ser apreendido no último dia 3 de maio durante uma operação que apura uma suposta fraude em sua carteira de vacinação.

A alegação sobre os celulares de Adélio circulou também em 2019 e 2021 e já foi verificada anteriormente pelo AFP Checamos.

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Captura de tela feita em 8 de maio de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

Ao contrário do que afirma a imagem viral, os celulares de Adélio foram, sim, apreendidos e periciados pela Polícia Federal.

O celular de Adélio

Adélio Bispo foi preso em 6 de setembro de 2018, após esfaquear Jair Bolsonaro durante um ato de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais. Dois dias depois do atentado, a juíza Patricia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª Vara Federal de Juiz de Fora, autorizou a quebra do sigilo telefônico de Adélio.

Em um relatório sobre o primeiro inquérito do caso, o juiz federal Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, detalha os arquivos que foram encontrados no celular de Adélio depois da perícia:

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Captura de tela feita em 19 de abril de 2020 de documento da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora; marcação em verde é da AFP ( .)

Segundo registrado no documento de 14 de junho de 2019, a perícia do celular apreendido em poder de Adélio no momento de sua prisão permitiu a identificação de “imagens e vídeos” que “comprovam que o réu não somente esteve acompanhando a vítima durante todo o dia 06/09/2018, como também premeditou o crime, tendo fotografado e filmado previamente alguns locais que seriam visitados por Jair Messias Bolsonaro”.

A PF também abriu um segundo inquérito para apurar com mais profundidade se houve participação de terceiros no crime.

De acordo com o relatório parcial divulgado pelo Estadão em maio de 2020, foram analisados dados de números telefônicos de quatro celulares encontrados com o autor e o histórico de páginas acessadas por ele. Mas, não foram encontrados elementos que indicassem um mandante ou a participação de outras pessoas.

Procurada pelo AFP Checamos em abril de 2021, a Superintendência Regional da Polícia Federal em Minas Gerais reiterou que “efetuou perícia em quatro celulares e um chip” de Adélio Bispo.

O segundo inquérito concluiu que Adélio cometeu o crime sozinho, por motivação política. Porém, o Ministério Público Federal de Minas Gerais pediu o arquivamento provisório da investigação, já que ainda restava averiguar a origem do pagamento dos honorários dos advogados de defesa.

O celular do advogado

As publicações viralizadas parecem confundir o celular de Adélio com o aparelho telefônico de seu principal advogado, Zanone Manuel de Oliveira Júnior.

Em dezembro de 2018, a PF apreendeu o aparelho de Zanone de Oliveira Júnior para averiguar quem estaria financiando a sua defesa e apurar se houve algum mandante.

Contudo, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou com um mandado de segurança para suspender a quebra de sigilo do advogado, alegando que a medida violaria a confidencialidade entre cliente e defensor.

Mas em novembro de 2021, a Segunda Seção do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) derrubou a ação da OAB e autorizou o acesso aos dados de Zanone.

Em dezembro do mesmo ano, o delegado Rodrigo Antonio Morais, responsável pelos dois inquéritos sobre o atentado, foi transferido. Dessa forma, a investigação foi reaberta e o delegado Martin Bottaro Purper assumiu o caso.

Em abril deste ano, a Folha de S.Paulo revelou que a PF identificou indícios de que Fernando Costa Oliveira Magalhães, outro advogado de Adélio, teria recebido pagamentos de pessoas suspeitas de integrar a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) dois anos depois do atentado. A investigação, contudo, ainda está em andamento.

Referências

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