Vídeo de trator jogando dejetos em manifestantes é de 2016 e não tem relação com o MST

  • Este artigo tem mais de um ano
  • Publicado em 15 de fevereiro de 2023 às 15:55
  • 2 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Diferentemente do que afirmam usuários nas redes sociais, o vídeo em que um caminhão despeja dejetos em manifestantes não retrata um fazendeiro na Argentina jogando fezes em integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 2023. A sequência, compartilhada mais de 23 mil vezes desde o último dia 7 de fevereiro, foi gravada em abril de 2016 durante um protesto de ativistas da ONG Greenpeace contra a exploração do gás de xisto na Inglaterra.

“Na Argentina, o MST começava a invasão de uma propriedade rural. O dono orvalhou o campo com bosta liquida fertilizante. Os invasores não aguentaram o cheiro e as moscas. Abandonaram os barracos, a comida e foram embora! Ótima sugestão defensiva para o Agronegócio”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Twitter e no TikTok.

Image
Captura de tela feita em 13 de fevereiro de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

A gravação mostra um trator despejando um líquido marrom em um gramado enquanto um grupo parece fugir. Dentre as pessoas, percebe-se que há uma com uma câmera de vídeo, filmando a ação.

Usuários afirmam que se tratava de integrantes do MST “invadindo” uma propriedade na Argentina.

No entanto, uma busca reversa por capturas de tela da sequência usando a ferramenta InVid-WeVerify* indicou um outro contexto. A mesma gravação havia sido publicada em 27 de abril de 2016, no YouTube, com o título, traduzido do inglês: “Ativistas anti fratura hidráulica em Kirkham botando a mão na massa - pergunte ao fazendeiro antes”.

Uma pesquisa por essas palavras-chave no Google levou ao vídeo viral compartilhado na imprensa inglesa também em 2016 (1, 2). Segundo as reportagens, tratava-se, na verdade, de um protesto realizado por ativistas da Organização Não Governamental Greenpeace contra a técnica de fratura ou fraturamento hidráulico para extração do gás de xisto.

De acordo com os meios de comunicação, os ambientalistas teriam entrado em uma fazenda que pretendia fazer o uso dessa técnica — que consiste em injetar fluidos em alta pressão para obter o gás — para filmar uma campanha que iria ao ar nas redes da ONG. Dentre os ativistas estariam as atrizes Emma e Sophie Thompson.

Ao saber da gravação, o dono do local teria jogado esterco ao redor do grupo de manifestantes. O vídeo, no entanto, foi finalizado e divulgado no canal do Greenpeace do Reino Unido no YouTube.

As atrizes estavam filmando uma campanha que utilizava como base o modelo do programa de culinária britânico “The Great British Bake Off”. À época, o Greenpeace divulgou fotos da ação em seu site.

O método de fraturamento hidráulico é proibido em países como França e Alemanha por conta de riscos socioambientais. Em 2019, a Inglaterra proibiu a técnica, mas voltou a autorizá-la em 2022 em virtude da crise energética no continente.

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco